Bruna Fernández 24/02/2012Resenha para o site www.LivrosEmSerie.com.brEstou realizando um grande número de quebra de preconceitos literários esse ano, e acredito que comprar e ler um livro da Nora Roberts foi que mais me impressionou. Antes que os fãs da Nora me apedrejem, eu não sou fã de romances – principal motivo pelo qual eu não leio chick-lit – e, principalmente, detesto quando em um livro de suspense, ou thriller, o autor perde o fio da meada pra concentrar no amor mimimi dos protagonistas. E sempre tive a impressão de que os livros da Nora eram assim, romances repletos de mimimi’s e te amarei para todo o sempre. Por isso nunca me interessei por ler nenhuma obra dela.
Mas eis que me deparo com “A Cruz de Morrigan” em um passeio meu à uma livraria virtual. Estou saturada de livros de vampiros, mas a capa me chamou muito a atenção, achei ela muito bonita e bem feita. Mas o que realmente me conquistou foi a temática celta – um assunto que eu adoro. Mesmo inclinada a comprar o livro, ainda fiquei na dúvida de comprar e detestá-lo. Fiz uma pesquisa dentre minhas amigas que conhecem e gostam da escritora e, como o livro estava barato, resolvi arriscar. E não me arrependi.
“A Cruz de Morrigan” é o primeiro livro de uma trilogia e conta a história de dois irmãos gêmeos: Hoyt e Cian Mac Cionaoith. O início da história se passa na Irlanda do século 12 e logo de cara vemos uma batalha: Lilith, uma rainha vampira, transforma Cian em um dos seus. Hoyt, um feiticeiro incrível, deseja vingar o irmão e eles acabam lutando e Cian cai de um precipício, mergulhando para a morte. Hoyt, desnorteado, pensando ter pedido seu irmão duas vezes e considerando-se o culpado por tudo o que aconteceu, solta sua ira em forma de magia. É então que a Deusa Morrigan aparece para o feiticeiro e lhe dá conselhos e uma missão para destruir o exército de Lilith, que deseja dominar o mundo. Morrigan é realmente uma figura da mitologia irlandesa que aparenta ser uma divindade, embora não seja referida como “deusa” nos textos antigos. Ela é associada a guerra e a morte no campo de batalha.
Hoyt então, deve montar um círculo com seis membros: ele mesmo, uma bruxa, um guerreiro, um sábio, aquele que adota várias formas, e aquele que perdeu. Com a ajuda da deusa, ele se despede da família, deixando todos os membros dela com uma cruz de prata forjada pela própria deusa, que protege quem a usa dos vampiros, e “parte” para a cidade que nunca dorme: Nova Iorque, nos dias atuais. Lá ele começa a reunir seu pequeno exército, começando pelo reencontro com seu irmão gêmeo, o vampiro que sobreviver através dos séculos.
A história é toda muito bem escrita e o enredo muito bem amarrado. Nunca pensei que iria afirmar isso, mas a escrita de Nora Roberts é impecável. A narrativa me conquistou desde as primeiras páginas e conseguiu me prender à história até os momentos finais. Não há “enrolações” no enredo por causa de romances como eu temia, apesar de eu achar as passagens entre o casal principal extremamente melosas – e intensas, confesso. Fora isso não tenho o que reclamar, é uma ótima história muito bem contada com a boa e velha temática da luta do Bem contra o Mal.
Por se tratar de um pequeno exército, um círculo de seis, temos vários personagens que aparecem bastante ao longo do livro. Temos Hoyt, que é o feiticeiro, irmão gêmeo do vampiro Cian. Ele é muito poderoso, ama demais o irmão e está lutando para se adaptar ao século 21. Gostei muito da autora detalhar a fala desse personagem com palavras mais rebuscadas, ressaltando a todo momento para o leitor que ele não pertence aos nossos dias atuais. Hoyt veio diretamente do tempo em que seu irmão foi transformado para os dias de hoje, e, para ele, não houve essa diferença temporal, da qual Cian vagou pelo mundo sozinho e isso influencia diretamente na dinâmica dos dois irmãos. Para Hoyt é como se o tempo não tivesse passado, e, apesar de ter se tornado um vampiro, aquele ainda é o irmão que ele tanto ama. Mas Cian é indiferente aos laços familiares entre os dois, afinal, séculos se passaram e ele já não tem mais a mesma índole. É muito legal ver Hoyt tentando se aproximar do irmão, as tentativas, falhas e alguns isolados acertos.
A primeira mulher a se unir ao exército deles, Glenna, é uma poderosa bruxa. Glenna tem a aparência frágil do sexo feminino, mas na verdade se revela muito mais forte do que qualquer um pode imaginar. Achei a personagem muito bem delineada e as referências da autora à religião Wicca são muito bem estudadas e fundamentadas. Pra quem gosta desse tópico de Wicca e bruxaria, esse livro é super indicado. Temos também King, um humano que trabalha para Cian e que tem uma história super interessante – que eu não posso revelar aqui por é spoiler, e temos Moira e Larkin, meus personagens favoritos. Ambos são primos e vêm uma terra distante e mágica chamada Geall, onde a rainha, mãe de Moira, tinha acabado de morrer. Ao invés de realizar o processo de tomada do trono, Moira é chamada por Morrigan, e ela e seu primo Larkin – que parece ser um tipo de metamorfo – se unem ao resto do exército.
Com personalidades tão fortes e diferentes, é complicado demais para todos eles entrarem em consenso sobre qualquer assunto, do mais sério ao mais banal. É interessante ver como alguns vão cedendo – e outros nem tanto – para eles conseguirem tornar o exército em uma só unidade, pois o mundo depende disso. No geral eu gostei bastante do livro, o enredo, os atos de seus personagens são muito verossímeis e a narrativa não é densa e nem cansativa. Apesar de ter muitas cenas de ação e batalhas, acho que é um livro mais voltado ao público feminino, na minha opinião. Quem não conhece a autora, e como eu, tem o maior preconceito com seus livros, mas gosta de vampiros bad-asses e de mitologia celta, dê uma chance. Nora Roberts pode surpreender você.