Ana Júlia Coelho 17/05/2024Numa cidade próxima de enfrentar seus piores dias, Chantal se depara com uma proposta inusitada: ela precisa comunicar à pequena população que, caso cometam um assassinato até o final da semana, a cidade inteira ganha uma recompensa. Chantal, por sua vez, se cumprir o seu papel, já garante uma recompensa só para ela.
O estrangeiro fica zanzando pela cidade, conversando com a população e dando uma leve pressionada para Chantal passar o recado adiante, mas a moça não se sente confortável com essa missão. Se debatendo com várias questões morais e éticas, ela fica em dúvida se quer fazer parte disso.
Mesmo sendo uma releitura, o livro já me conquistou no início. O estrangeiro tem seus motivos para fazer essa proposta, e eu adorei como o autor conseguiu trazer esse debate de forma didática para a história. Ele também usa diversas lendas como exemplos para ilustrar essa batalha entre o Bem e o Mal e como a humanidade é conveniente quando tem recompensa em jogo.
A principal questão no livro é até onde o ser humano abraça seu lado mau para alcançar qualquer recompensa que seja, mas, com essa era de internet, likes e engajamentos, podemos fazer um paralelo com até onde as pessoas vão para alcançarem altos números nas redes. Enquanto as pessoas no livro precisam matar alguém, as pessoas na vida real fazem o bem, praticam a caridade, tudo para ter visibilidade e serem exaltadas como boas pessoas.
Essas questões no parágrafo acima ficam bem claras em momentos em que o autor fala sobre pessoas serem virtuosas com medo de punições (irem para o inferno, serem presas, castigadas), e como essa relutância em sofrer o “troco” acaba fazendo com que a virtude perca seu brilho, já que é usada como forma de defesa.
Só não gostei que o livro fica numa pegada infantil, com a finalidade de ensinar alguma lição de moral, tipo as fábulas que eu lia quando criança. De resto, é um ótimo livro que gera diversas reflexões.
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