Pandora 22/09/2016
Sou fã de John Connolly! Conheci a escrita peculiar do autor quando ganhei de aniversario O livro das coisas perdidas e desde então é só amor! Connolly tem um estilo muito, muito simples de se expressar, ele constrói suas frases com muita clareza e de um forma tão concreta que quando você se ver entrando no território fantástico tende a olhar em torno e se perguntar "como cheguei aqui?". Talvez por isso, todas as vezes que leio John Connolly tenho a firme convicção de que ele está falando da realidade concreta. Sua abstração é só um método de discutir aquilo que é bem concreto.
Em Noturnos somos apresentados com uma coletânea de 16 contos de terror e fantasia. Nele Connolly nos conta historias curtas nas quais a fantasia e o terror se unem justamente para abordar os perigos reais que rondam a vida dos seres humanos, nos causando tormento e dor e, tal como acontece em O livro das coisas perdidas as histórias se moldam como metáforas assustadoras para os perigos que nos assaltam diariamente. E maravilhoso ler Connolly, mas, apesar de não dialogar com mortes sangrentas, zumbis e derivados, também é assustador.
E para citar um exemplo, no conto que abre o livro A balada do caubói canceroso conhecemos um homem que é capaz de contaminar as pessoas com um toque e um belo dia decide contaminar uma cidade inteira. A forma como Connolly conta a historia é aflitiva e nos deixa com o coração aos saltos a cada paragrafo, porém, o mais aflitivo foi caminhar pelo texto do autor e constatar que no mundo onde habito existem pessoas capazes de fazer o mesmo... Assassinos, psicopatas, terroristas, homofóbicos, misóginos se espalham como entidade cancerígenas em nosso mundo destruindo vidas com seus toques infames.
Como o próprio Connolly disse no conto O rei dos elfos:
"Criamos monstros na esperança de que as lições contidas nas histórias nos sirvam de guia quando nos depararmos com o que há de mais terrível na vida. Inventamos nomes para nossos medos e rezamos para não encontrar o pior do que aquilo que nos mesmo criamos."
Apesar de não ser um livro pesado de sangue e mortes terríveis, os contos são bem escritos, muito bem concluídos, sem nenhuma palavra mal colocada ou fora de lugar dialogando com o terror clássico de figuras como Allan Poe, Lovecraft e Bram Stoker a narrativa nos pega de jeito, faz pensar, assusta e até angustia como contos de terror devem fazer. Realmente Harlan Coben estava certo, a coletânea é deliciosamente arrepiante, daquelas que vai para um lugar de honra na estante e só consolida meu amor pela escrita do autor.
A edição da Bertrand Brasil ainda conta com ilustrações feita em estilo de xilogravuras abrindo cada conto, as quais conseguem sintetizar o cerne das historias muito bem. A capa do livro feita por Robert Ryan também combina perfeitamente com o clima do livro e segue o mesmo padrão dos outros livros do Connolly, o que faz a minha alma colecionista ficar muito feliz.
site: http://www.oquetemnanossaestante.com.br/2016/08/noturnos-resenhe-literaria.html