Kelly Oliveira Barbosa 29/09/2017Os que observam o sofrimento são tentados a rejeitar Deus; os que o provam muitas vezes não conseguem desistir de Deus, que é o seu conforto e agonia.
O AUTOR
Philip Yancey é um escritor e jornalista cristão americano, nascido em 1949. Seus livros já venderam mais de 14 milhões de cópias pelo mundo todo, fazendo dele um dos mais vendidos autores cristãos. Alguns de seus títulos em português são: Maravilhosa Graça, O Jesus que eu nunca conheci, Decepcionado com Deus e A Dádiva da dor.
A PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR
Precisei chegar à última página para entender o título desse livro, por isso acho bom começar por aqui. O autor conta que o primeiro livro que ele escreveu, aos 27 anos, foi “Onde está Deus quando chega à dor?”. Ali, como um jovem escritor e cristão imaturo, seu anseio era de explorar essa pergunta procurando respostas para si mesmo. Porém a questão acabou dominando a sua carreira inicial como escritor, colocando-o em contato com muitas pessoas devastadas pelo sofrimento. Efeito que perdurou durante o tempo; as pessoas não paravam de lhe enviar cartas contando suas dores e indagando “por quê?” “onde está Deus?” “Porque Deus permite?”
Em 2012, ele foi chamado para palestrar no Japão, no primeiro aniversário do tsunami, bem como em outros lugares assolados por catástrofes naturais, guerras e massacres naquele mesmo ano. No ano seguinte, 2013, outros convites nesse contexto chegaram, obrigando-o a retornar a pergunta que não quer calar: Onde está Deus quando chega à dor?
O resultado é essa obra. Mesmo sabendo que nenhum livro pode resolver o problema da dor, ao revisitar a questão ele se propôs a compartilhar o que aprendeu nessa terra de sofrimento.
FALAR DE SOFRIMENTO É DIFÍCIL
Não é fácil escrever sobre um tema desses, pelo menos sem parecer duro ou sensível demais. Philip Yancey conseguiu encontrar o tom certo para falar.
Ele leva-nos a refletir sobre várias escalas de sofrimento, desde sua experiência de crescer sem pai até as vítimas de um tsunami; sem se perder em uma abordagem simplista ou num mar de melancolia. Em todos os capítulos ele anda conosco entre os extremos do desespero e da esperança.
É um livro que alterou a minha percepção sobre a dor humana. No mínimo me fez ver que há muito a se aprender, antes de querer dar alguma resposta à dor de alguém ou às minhas próprias dores.
Destaco duas passagens para dar uma noção do que Yancey faz nesse livro. A primeira é logo no início, quando em poucas páginas ele conseguiu me aproximar mais da realidade de sofrimento das vítimas do tsunami no Japão (2012) do que dez reportagens na TV. Ele descreve o sofrimento de pessoas reais (pais, mães, professores, avós...) e não números. Segundo ele, todos nós ao olharmos para algo daquela proporção, perguntamos ainda que sem pronunciar palavras a “causa” ou o “porquê” daquilo. É impressionante a sua análise. Para ele tragédias em massa podem provocar a fúria dos que não creem em Deus, mas de fato elas não ensinam nada novo sobre o mundo em que vivemos. A escala do sofrimento não muda as questões básicas: “...o sofrimento, o mal e a morte castigam nosso planeta, e as catástrofes simplesmente concentram a miséria que nós já conhecemos muito bem.
Quem vai discordar?
A outra quando Yancey citando C.S. Lewis afirma que o sofrimento não pode ser quantificado.
""Ao longo da vida, aprendi que de nada adianta tentar quantificar o sofrimento. [...] Todo sofrimento é sofrimento. Como disse C. S. Lewis, não existe nenhuma “soma do sofrimento do mundo”; isso é uma abstração de filósofos. Existem simplesmente pessoas que sofrem. E pessoas que se perguntam por que Deus permite isso.""
A CENTRALIDADE DE CRISTO
Outro ponto crucial é que o autor em meio aos seus argumentos e reflexões volta-se sempre para Jesus Cristo. Achei isso muito interessante e edificante. Falar das aflições humanas longe de Cristo é pisar em uma terra árida e sem esperança. Ele lembra “...era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens, homem de dores...” (Isaías 53:3). Fazendo-nos aproximar Daquele que sabe o que é padecer.
""Jesus me ensina que Deus está do lado de quem sofre. Deus entrou no drama da história humana como um de seus personagens não com uma exibição de onipotência, mas de uma forma extremamente íntima e vulnerável.""
IMPRESSÕES FINAIS
Eu já li outros livros escritos por jornalistas, e todos eles me agradaram muito em relação à narrativa. Foi o que aconteceu com A pergunta que não quer calar. Além disso, os argumentos foram bem trabalhados ao mesmo tempo, que sucintos.
Discordei de um ou dois pontos, mas nada que comprometa o valor da obra. Inclusive gostaria de entender melhor o pensamento e a linha teológica do autor, seria esclarecedor. Talvez lendo outros de seus livros isso se realize.
Recomendo!
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http://cafeebonslivros.blogspot.com.br/2017/09/eu-li-47-pergunta-que-nao-quer-calar-de.html