Anna.Beatriz 18/01/2022
"Sem dúvida, nossa vida seria muito pior sem o nosso espantoso talento para a ilusão."
Enquanto eu lia esse livro me senti como se estivesse observando uma pintura impressionista, com seus contornos não tão bem definidos e a tentativa de captura dos fragmentos de um momento.
Não vou mentir, é uma leitura um tanto quanto confusa, ou pelo menos pra mim foi. Há muitas quebras de cena, fragmentos mesmo, com seu fluxo de consciência Virginia viaja de maneira muito fluida e rápida entre personagens e acontecimentos. Em alguns momentos eu não fazia ideia do que tava rolando. O livro em alguns momentos parece um grande "rant" da Virginia, com desabafos sobre tudo e sobre nada. Mas isso é justificável, Virginia estava experimentando aqui, tentando novas técnicas de escrita e claro que o efeito colateral disso é um pouco de bagunça.
Mas essa dificuldade não diminui em nada o brilho desse livro. A proposta dele é algo fascinante pra mim. O personagem principal dessa história é o Jacob, então automaticamente esperamos nos aprofundar em Jacob, ouvir seus pensamentos, conhecê-lo de fato. Mas Jacob é um cara misterioso, reservado e afastado de todos que o cercam, e Virgina quis não só fazer com que os personagens secundários sentissem isso mas nós, leitores, também. Acabamos conhecendo mais de Jacob por sentimentos de personagens terceiros do que pelo próprio Jacob, e isso torna a narrativa duvidosa e pouco confiável. Cada pessoa que convive com Jacob nos apresenta um fragmento de sua personalidade mas isso passa pelo filtro dos olhos e sentimentos de cada pessoa. Então nos deixa com o questionamento, será que é possível realmente dizer que se está conhecendo alguém pela descrição de um terceiro? Ao final do livro parece que eu sigo sem ter a mínima ideia concreta de quem é Jacob e isso me deixou boquiaberta e encantada.
Como eu disse no início, essa obra me trouxe essa emoção inédita, de sentir que eu não estava lendo um livro, mas observando uma pintura, uma pintura que é muito emocional e pouco material. Algo quase surrealista. Difícil, bagunçado, complexo, ambíguo, mas, ainda assim, extremamente belo.
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