vininho 17/10/2022
Contos e novelas da Cosmere
Arcanum Unbounded (2016) é uma coletânea de contos e novelas da Cosmere (universo de histórias fantásticas criadas por Brandon Sanderson). Alguns contos eu não tinha muito o que comentar, então serei bem breve sobre os que tiver algo anotado.
The Emperor’s Soul (2012) é, provavelmente, um dos melhores trabalhos do Sanderson. Neste conto, o autor se propõe a criar uma de suas obras mais reflexivas, e consegue obter um resultado extremamente positivo. A história acompanha Shai, que possui o poder de recriar as coisas e acaba sendo presa após substituir uma pintura. É ótimo ver como a personagem sabe ler as pessoas, e interpretá-las muito bem por conta de seus poderes; a política também está bem refinada. Além disso, a relação dela com Gaotona é bem fofa, já que ele parece muito um avô querendo que seus protegidos cheguem à grandeza; ele também é o único que não pede favores de instinto egoísta e para seu bem próprio. Me pergunto se Shai testa a runa antes de sair do palácio para testar sua obra prima e vê-la funcionar, ou se ela realmente se importou com o funcionamento.
"You could become a marvelous artist.
I am one.
A real one.
I am one."
Hope of Elantris (2006) renova a vontade de reler Elantris e de consumir mais obras no mesmo universo – espero ansiosamente para uma continuação. Fiquei curioso para saber mais sobre a Matise, principalmente após os eventos deste conto. Ele não possui algo de muito incrível, mas não acho que isso era algo que o autor tenha buscado. Apesar disso, o conto é eficaz em buscar esse conforto, até mesmo por Elantris ter sido o primeiro romance da Cosmere que li de Sanderson.
As novelas do mundo de Mistborn me fizeram lembrar o quanto eu amo o Kelsier, e ver ele lidando com seus poderes de Mistborn antes dos acontecimentos da primeira trilogia, em The Eleventh Metal (2011), é muito interessante e instigante. Claro, também não é um baita conto super mirabolante, apesar de ser contido, porém, ele cumpre a sua proposta de ser uma expansão minúscula do universo já estabelecido. Ademais, foi interessante também conhecer o mestre de Kelsier, que ensinou tudo a ele sobre o que sabia sobre ser um Mistborn. Já em Allomancer Jak and The Pits of Eltania (2014), achei a alternância entre o Jak e as notas bem interessante, mas esse conto foi extremamente chato de ler. Não consegui gostar dos personagens (sei que não era pra isso acontecer) e nem rir do que estava acontecendo. Achei bem ruim mesmo. Eu sei e entendo que ele quis fazer uma reverência às antigas histórias de Pulp fiction, mas infelizmente não consegui gostar de nada.
Ainda sobre Mistborn, li também Secret History (2016), uma das novelas mais comentadas quando o assunto é a Cosmere. Não sei por que, mas essas histórias que mostram os bastidores sempre me lembram O Rei Leão 3 (2004), que mostrava a visão de Timão e Pumba frente os acontecimentos do primeiro longa. A novela é, de fato, bastante reveladora, por mostrar o pós vida de Kelsier – que se nega a ir embora antes de cumprir sua missão final. Além disso, acredito que essa novela confirme o fato de o personagem ser um dos melhores dentro do universo inteiro. Enquanto eu senti que Well of Ascension (2007) ficou desfalcado por não possuir ele, aqui é justamente o contrário: o personagem consegue sustentar todas essas páginas totalmente sozinho. Ademais, eu amei as pequenas aparições dos world hoppers (como a Khriss), e as explicações presentes nessa novela sobre o funcionamento da magia e da regência dos planetas que são bastante pertinentes. Apesar disso, eu gostaria que elas estivessem mais diluídas nas outras obras (como a menção as shards, Adonalsium, a perpendicularidade etc.). Por fim, foi uma faca no meu coração ter que ver a Vin e o Elend novamente; sofri como se eles estivessem morrendo novamente – não sei quando, ou se sequer irei, superar a morte deles.
Acabei não lendo o trecho de White Sand (fico em dúvida se leio essa HQ; ela até me desperta interesse, mas a mídia não é das minhas favoritas – fico na esperança de algum dia o autor transformar em um romance em prosa). Já Shadows for Silence in the Forests of Hell (2015) e Sixth of the Dusk (2014), acabei não realizando muitas anotações – sim, provavelmente irei necessitar de uma releitura. Lembro de ter me simpatizado muito com a Silence, e quero muito que tenha no futuro mais histórias com a personagem ou com o planeta – um sistema de magia desses não pode ser desperdiçado.
A minha última leitura, após três meses com o livro parado, é a de Edgedancer (2016). Assim que terminei Words of Radiance (2014), já comecei a novela. Lift em WoR estava ótima, fiquei até me perguntando de o porquê a personagem ser rechaçada em alguns lugares. Nesse primeiro capítulo, considerado um prólogo para a personagem, há a apresentação para o leitor de um dos Heralds – que está completamente ensandecido e agindo de forma bem errática. Já na novela, focamos mais no contato de Lift com Wyndle, que é provavelmente o ponto alto, já que ria demais com a interação entre os dois, e no desenvolvimento dela.
Lift é uma personagem que aprecia a sua solitude, e que lida com um passado doloroso. Quando a personagem fala sobre os órfãos e a maneira na qual a sociedade os trata, é possível ver que ela se identifica com eles – como disse Syl, todos os Knight Radiants estão “quebrados” de alguma forma. Apesar de ela parecer estar fugindo de tudo e todos, é importante ressaltar a bondade de suas ações – o que é totalmente interligado com a sua Ordem, que possui como mantra a atenção nas palavras dos ignorados. Senti também uma certa desconfiança dos personagens presentes nessa história com o povo Alethi, principalmente com Dalinar. Além disso, fiquei surpreso com a aparição de Szeth e por ele ter poupado a Lift, já que sua espada, ou seja, sua spren, diz gostar dela. Tanto o problema político, quanto Szeth, são impactos que provavelmente se desenrolarão em Oathbringer (2017), e mal posso esperar para ler sobre.
Por fim, não deixo de mencionar a cidade em que a novela é estabelecida, por ser muito incrível e mostrar talvez um povoado e uma cultura que o autor talvez não fosse explorar na série principal – fico feliz que tenha ganhado esse espaço. A luta interna de Lift não é tão difícil de ser traçada – ela sabe que as coisas irão mudar, mas não consegue se situar. Como ela pode escolher, de repente, o que fazer quando não possui mais ninguém para lhe ajudar? Ela quer um pouco de controle na vida, mas ao mesmo tempo, quem não quer? Além disso, fico com dúvida sobre quem, e qual raça ou povo, ele representa (quem são os “sleepless”?).