Luciano Luíz 06/07/2016
A Ditadura Militar foi o mais cruel momento histórico do Brasil. Nenhum outro se compara. Pois para o governo que ascendeu em 1964, não precisava de motivo para simplesmente sequestrar pessoas, colocar em porões e lá fazer todas as barbáries inimagináveis. Para o governo, qualquer ato era considerado subversivo. Não importava se a pessoa era rica ou pobre, de qualquer etnia ou crença (e descrença).
Todos eram suspeitos de tramarem contra a Lei de Segurança Nacional. Para os militares, todos os brasileiros eram comunistas dispostos a derrubarem o governo. Para os milicos, qualquer pessoa que simplesmente comentasse sobre o regime ditatorial já era considerada como terrorista.
A tortura foi a grande marca do pessoal uniformizado. Eles tinham prazer em colocar crianças, jovens, adultos, velhos, mulheres grávidas, homens doentes no cárcere para judiar. O mais bizarro é que as pessoas inventavam confissões para escaparem dos atos de tortura. Ou seja, tão te espancando, ameaçando sua família, você não sabe nada, não deve nada, mas aí inventa uma merda qualquer pra tentar sair dessa. Mais degradante, impossível.
Outro fato curioso é que políticos, e pessoas ligadas as Forças Armadas também eram alvo de perseguição e tortura porque eram contra essa nova era no Brasil.
Então, dar choques em partes íntimas, arrancar unhas, afogamentos, jogar gasolina e acender o isqueiro, raspar a pele com escova de aço e bater além de humilhar verbal e mentalmente era algo extremamente comum nas ruas do nosso país.
Você está andando de boa pro trabalho, ou indo pra escola, ou no supermercado e de repente, um carro estaciona próximo e uns indivíduos te pegam, encapuzam e levam pra lugares conhecidos como: Casa dos Horrores, Inferno e similares. Como pode ver, o pessoal milicanizado caprichava nos nomes dos locais de tortura.
A tortura ia muito além de deixar a pessoa em frangalhos. Além de quem já estava preso, existia a possibilidade de receber um novo processo pelo fato de que na cela reclamava do governo.
Alguns ficavam aleijados e tetraplégicos e nada adiantava entrar com processo contra o regime. Era apenas tempo jogado fora...
Sempre que os juízes tinham dúvida da culpabilidade de alguém a sentença era a prisão e mais tortura. Moleza assim, né?!
As pessoas que lutavam contra o regime eram (e até hoje são) chamadas de terroristas. Pois não aceitavam esse massacre físico e psicológico contra o povo.
O livro BRASIL: NUNCA MAIS, foi elaborado por diversos pesquisadores ainda na época da ditadura. Por esse motivo (segurança) não constam os nomes de seus autores em lugar algum. No entanto, a obra está registrada em nome da ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO, e por isso o único nome na capa é de DOM PAULO EVARISTO ARNS, que parece ter sido a única pessoa em fins do regime que teve coragem de se expor (além de mais um cidadão em outro texto introdutório).
O livro é denso, tem muita informação e detalha com riqueza os tormentos da tortura, as perseguições e como o regime começou além da formação de grupos (quase partidos) que se embrenhavam numa guerra civil social.
Também consta o nome de mais de 100 pessoas desaparecidas, diversos outros anexos e também o artigo completo sobre a Declaração Universal dos Direitos Humanos sobre o crime de tortura.
Ainda há a história da tortura e inclui uma breve passagem da Igreja com sua Inquisição...
Esse livro é uma versão resumida de um trabalho muito maior. A versão completa está disponível em algumas universidades e bibliotecas não apena do Brasil, mas em outros centros lá fora. A única diferença mesmo é com relação ao tamanho com um número maior de informações. O que não muda em nada a leitura.
Enfim, a ditadura foi um regime que simplesmente mostrou como é destruir uma nação. Outros eventos como a escravidão (algo extremamente horrível, mas que assim mesmo era possível se livrar de algumas maneiras... mas não todos para tristeza maior), repressão sexual, liberdade religiosa ou ateísta, sequer se comparam a um regime onde qualquer pessoa pode ser morta por nenhum motivo. Um governo doente que quer deter o poder a qualquer custo.
Pois só de pensar que crianças, mendigos, grávidas, qualquer um era simplesmente pego na rua e usado como curso (sim, tinha curso de tortura pra saber como fazer a coisa no capricho, causar dor, humilhar, sem matar. Mas se matasse, bem, gente é o que mais tinha mesmo...) antes de fazer o serviço sujo oficialmente...
Hoje o Brasil é outro, mas infelizmente temos todos os tipos de problemas. O que inclui torturas de todos os tipos por parte não de militares, mas de outras pessoas que são criminosas ou mesmo em fundos de locais destinados a justiça.
É uma leitura muito boa. Você chega a sentir dor imaginando todos aqueles depoimentos onde a carne era dilacerada e a dignidade jogada num monte de lixo... revoltante...
Nota: 10
L. L. Santos
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