Jorge 16/01/2024Imagem e EssênciaVocê é aquilo que vê refletido no espelho? Você sente que é por fora o que é por dentro? Corpo e Alma. Você sente que é apenas um ou dois?
Essas questões são abordadas por Machado de Assis em ?O Espelho?, um conto bastante discutido por estudiosos, e que ainda não foi inteiramente decifrado. Um ensaio muito interessante, se eu posso assim chamar, sobre sentimentos de inadequação. E sobre como amadurecer pode provocar uma sensação de solidão e abandono tão grande, um mal-estar tão devastador a ponto de fazer com que a gente acredite que perdemos aquilo que era mais importante: a essência.
O espelho (objeto) entra na jogada sendo a personificação máxima dessa sensação de inadequação de imagem e essência, pois num reflexo pode se estampar uma figura inteira e nítida, mas também vaga, esfumaçada e difusa; a sombra da sombra. Pois assim é o reflexo no espelho, não é mesmo? É o olhar de dentro para fora, ao mesmo passo que de fora para dentro.
Em O Espelho, a história é narrada a partir do ponto de vista de um rapagão de vinte e tantos anos chamado Jacobina, recém-nomeado alferes, antigo posto militar, que nos dias de hoje equivale ao atual de segundo-tenente. No íntimo, vive um caos existencialista, ao tempo em que a consciência do seu eu mais humano se dispersa no ar e no passado, eliminando o homem, enquanto a consciência do alferes, ser novo e único, torna-se viva e intensa dentro dele.
O conto flerta com o terror psicológico, e empolga a ponto da gente não querer largar a leitura até chegar ao seu ponto final.