Mara Vanessa Torres 22/09/2009
Paixão em sentido amplo
Há quem diga que vender o amor é tarefa quase impossível. Também há quem defenda a imaterialidade de sentimentos elevados, intensos, que se sobrepõe à nossa própria lucidez. E por último, mas não menos importante, há nesta mesma terra de paixões desenfreadas e amores imaculados uma espécie de contubérnio; uma atividade prazerosa, viciante, colérica, arrebatadora, terna, compreensiva e quantos mais adjetivos couberem aqui. Como protagonistas de tal vida incomum estão os livros.
A Paixão Pelos Livros (autores universais*, org. Júlio Silveira, Martha Ribas, editora: Casa da Palavra, pág. 152), traduz com expressividade todas as afirmações mencionadas. Trata-se de uma coletânea de contos, crônicas e depoimentos de quem descobriu na leitura a própria alma. Autores nacionais e estrangeiros revelam, cada qual a seu modo, a intimidade que desenvolveram com os livros e a importância dos mesmos na trajetória de suas vidas.
Não existem destaques ou melhores textos. Tudo entra em consonância com o principal objetivo do livro: acionar o leitor atual sobre como a paixão literária pode transformar o dia-a-dia de homens comuns.
É inegável a paixão que o poeta Drummond* exala no depoimento "O Sebo"; a observação sagaz do filósofo e físico francês D'Alembert* em "Bibliomania" (quando trata, com muito humor, da diferença entre os reais amantes dos livros e os pseudos-intelectuais); da irreverência devota do ensaísta Montaigne* quando descreve a necessidade de isolamento para praticar o hábito da leitura; sem mencionar a declaração visceral do russo Varlam Chalámov* (do qual me tornei fã depois da leitura de seu depoimento/crônica) e ainda do escritor americano William Saroyan* (que me fez imaginar Fante). Isto apenas para citar.
No livro também estão inseridos textos de Castelo Branco*, Doyle (bibliófilo), Flaubert*, Franklin (cientista e impressor), Lacerda*, Milton*, Mindlin*, Petrarca* e o músico Veloso.
Outro adicional da edição é o papel 'encorpado' (impresso em Chamois Bulk) e belíssima arte interior, que contrasta gravuras ora em branco, ora em preto, com um ardente fundo vermelho (na capa e no miolo, respectivamente). A fotografia, que retrata a biblioteca londrina bombardeada em 1940, é uma das imagens mais tocantes que vi em toda a minha vida. É simplesmente magnético!
"A Paixão Pelos Livros" é o tipo de obra que te faz amar ainda mais o que você é, o que você sente, o que você faz e todo o seu desprendimento em prol da literatura.