Mary 16/12/2023
"Can human nature not survive without a listener?"
Coletânea de poemas muito interessantes, não sou muito conhecedora da obra da Emily para avaliar se é uma reunião do que há de melhor, mas achei bem variado na questão dos temas. Os meus favoritos, por sinal, são os que ela trata da mórbida atração que ela tinha com a Morte, todos trazem imagens/passagens belíssimas e profundas.
Esse não é o primeiro contato que tenho com os escritos de Dickinson, mas é o primeiro contato no original e tenho de afirmar que o que ela faz é realmente surreal. Surpreende o tanto que ainda permanece atual e inovadora para nossa época e as imagens que ela cria...
Preciso falar sobre isso porque entro em um questionamento sobre poetas: o que surge primeiro, a imagem ou o significado? O ente ou a essência? (rsrs) Eu, particularmente, não acredito que todos os poetas criam todas suas obras com tanta profundidade que nós atribuímos (leia-se 'nós' como qualquer exterior do processo de criação: leitores comuns, críticos, estudiosos, etc), por isso, senti que algumas poesias dessa coletânea surgiram dessa forma quase despretensiosa (um poeta nunca é despretensioso), fiquei com a sensação de que algumas imagens vieram antes do sentido e fiquei curiosa de pesquisar sobre o que se trata (ou sobre o que supõem que se trate).
De qualquer forma, Emily Dickinsion é uma personagem intrigante e sedutora demais para nós do século XXI, ainda se levarmos em consideração sua biografia: quase uma Bronte americana com essa questão da exploração da alma humana ainda que a própria autora tenha vivido praticamente a vida inteira reclusa na própria casa.
O título é um extrato de uma poesia dela: "Pode a natureza humana sobreviver sem um ouvinte?". Falaria ela da natureza humana ou da natureza humana da espécie poeta? Por fim, ela dá uma resposta derradeira que pode se relacionar ou não com a própria pergunta: "O único segredo que as pessoas guardam é a imortalidade".
Ela mesma não guardou, pois continua viva até hoje.