Driely Meira 30/03/2017
Sissi, amada por uns, odiada por outros
Onde eu não estou, aí reside a felicidade. - Heinrich Heine, poeta favorito de Sissi.
Elisabeth era muito jovem quando se casou com Franz Joseph, o Imperador da Áustria-Hungria (império sucessor do Austríaco; caiu após a Primeira Guerra Mundial). Apaixonada pelo Imperador, ela não imaginou que sua vida se tornaria o inferno que se tornou, nem mesmo que seriam anos e anos solitários, tendo que seguir regras e protocolos que beiravam o ridículo, nem mesmo que teria que acompanhar o marido em assuntos do Estado. Mas isso aconteceu.
Seus três primeiros filhos lhe foram tirados pela Arquiduquesa Sophie, mãe de Franz, assim que nasceram, e Elisabeth (Sissi) mal podia vê-los. A desculpa era que ela era jovem demais, portanto, não tinha capacidade de criar o herdeiro de um dos impérios mais poderosos da época. E ela quase não passava tempo com o marido, o que a deixava ainda mais triste e solitária. Até que, após ter quatro filhos, ela fez um acordo com Franz, e a quarta filha, Valerie, seria criada pela própria Sissi. Sendo assim, ela pegou a filha e se mudou para Gödöllõ, na Hungria, enquanto o palácio imperial ficava em Viena, na Áustria.
Até certo momento, é quase impossível não sentir empatia por Sissi, vendo como ela era tratada pelos cortesãos do palácio e pela própria Arquiduquesa. E Franz não fazia muito para defendê-la, então ela estava praticamente sozinha, vivendo longe de sua família, e tomada por uma angustia que só aumentava. Mas, a partir do momento em que consegue passe livre para encontrar a felicidade em outro lugar, Sissi só tem olhos para Valerie e só pensa em cavalgadas, pouco se importando com o resto, inclusive seus outros filhos, Gisela e Rudolph, criados pela Arquiduquesa (a filha mais velha havia morrido ainda pequena). Até receber uma carta de Gisela, que pedia ajuda para a mãe, vendo que Rudolph estava sofrendo, e aí Sissi volta para Viena. Mas não demora muito para que parta.
Como era possível que alguém compreendesse que seu tempo livre era sagrado? Que ela tinha lutado muito para conseguir aqueles momentos fugazes nos quais se via longe do peso esmagador de seu império? – página 227
O livro é ficção, mas muitas das coisas narradas aqui realmente aconteceram. Na verdade, a maior parte delas, pelo o que a autora disse no final da obra. Gostei muito de conhecer Sissi e o restante de sua família, gostei inclusive de aprender um pouco sobre os conflitos e as alianças que ocorreram na época, inclusive a Liga dos Três Imperadores, que contava com Franz, o Imperador da Rússia e a Alemanha, em 1872. Conheci vários reis e imperadores aqui, mas o que mais me chamou a atenção foram os romances de Sissi com dois cavalheiros diferentes, em épocas distintas. Mas em ambas as situações ela acabou sozinha, presa num casamento que duraria até o fim de seus dias, e sofrendo a falta de seus amantes.
Também achei interessante que, ao mesmo tempo em que era odiada pelo povo de seu marido, seja por estar sempre ausente ou por ter rixas com a Arquiduquesa, amada por todos; Sissi era adorada por muitos; ingleses, irlandeses (para total desgosto da Rainha Vitória), húngaros, e por aí vai a lista. Seja por sua beleza incomparável (considerada a mulher mais linda do mundo) ou por sua calorosidade e por ser tão boa em montaria. E por falar em montaria, era praticamente tudo o que Sissi sabia fazer. Isso e caminhadas, somadas a ler poesia. E paparicar Valerie, ignorando totalmente (mesmo que não por querer) seus outros filhos. Entendo que não era culpa de Sissi, pois a Arquiduquesa tinha mais poder do que ela, mas ela ainda tinha chances de lutar pelos filhos, de pelo menos fingir que se importava com eles. Mas ela só queria saber de sua amada Valerie, e de seus cavalos. E suas viagens.
Ao mesmo tempo em que gostei de Sissi, eu me irritava muito com ela. Ela não necessariamente escolheu a vida que teve, mas ela era uma pessoa privilegiada, tinha poder, o mundo estava sob seus pés, todos se encantavam por sua beleza. Não poderia ter feito algo de bom com tudo isso? Ela fugia sempre que podia (sempre mesmo), abandonando Franz e seus filhos e o palácio de Viena, indo para a Inglaterra, Irlanda, Hungria e Suíça, e sempre levando Valerie consigo. Não me surpreende que as coisas não tenham dado certo para os Habsburgo no final...
Como os Habsburgo ainda não tinham entendido que, enquanto seus herdeiros fossem forçados a se casar apenas em nome dos interesses de Estado, ninguém na casa imperial seria feliz? – página 275
Gostei da narrativa, apesar de ter achado algumas partes um tanto cansativas. Mas foi um livro e tanto, alguns personagens foram marcantes, outros nem tanto. Alguns odiáveis, outros apenas incompreendidos. Sissi sofreu muito durante sua vida, e fiquei com pena dela quando recebia um golpe após o outro, perdia um ente querido após o outro, ou sofria uma crítica após a outra.
O desfecho da obra é um tanto triste, mas não poderia ser de outra forma, já que foi Franz Joseph quem declarou guerra à Sérvia após o assassinato de seu sobrinho e sucessor do trono, em Sarajevo, iniciando a Primeira Guerra Mundial, em 1914.
Confesso que, antes de ler este livro, nem mesmo sabia que Sissi havia existido, mas agora que sei, estou curiosa para conferir os filmes e os outros livros existentes a seu respeito, e espero que sejam tão bons e envolventes quanto este livro foi.
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