bibliodalau 04/10/2023
Cogitei em refletir primeiro e escrever a resenha depois. Entretanto, tornou-se impossível adiar o registro sobre esse livro. Eu precisava aproveitar enquanto as palavras borbulhavam em minha cabeça. Vamos lá!
Bom, esse livro não estava nos meus planos. Aliás, não tenho nada planejado para este ano, como uma lista de leitura, por exemplo, apenas leio o que me der vontade. Minha irmã chegou da escola dizendo ter ganhado um livro. Fiquei curiosa. Peguei e me encantei com a capa e os detalhes no início e final das páginas do livro. Favos de mel. A sinopse não me chamou tanta a atenção, mas não foi isso que me fez lê-lo. Pode ter sido o título ou mera curiosidade. Não sei ao certo. Algo me atraía para este livro em especial. Já tinha alguns em mente, mas não pude resistir. Tive que ler ou não ficaria em paz até saber do que se tratava o livro amarelo.
Fiquei confusa nas primeiras páginas. No livro todo há informações e muitos detalhes sobre o trabalho com as abelhas. O cultivo, o mel, a cera, a construção dos quadros, as estações... tudo girava em torno delas. Foi cansativo, mas ao mesmo tempo interessante poder aprender, mesmo que tenha absorvido e entendido muito pouco de todo o processo.
Nesse trama temos 3 personagens. A Tão, o William e o George. Eles vivem em séculos diferentes e lugares totalmente distintos. Mas há algo que conecta todos eles: as abelhas. Conforme você vai avançando na história, é notório o desenvolvimento de cada um, suas particularidades, individualidades, crises, sacrifícios e um lado HUMANO. É um conjunto que envolve a família, os anseios e suas paixões.
De início, eu me apeguei na história do William. Um biólogo deprimido, sem expectativas e propósito de vida. Tentei compreender suas mazelas e dores e até mesmo o fato de ter deixado a família por conta própria, sem a sua ajuda. Mas com o tempo, ficou difícil de engolir. Até mesmo o seu fascínio e obsessão por Edmund me irritava. O filho não estava muito interessado em suas observações e anotações sobre as abelhas, enquanto as outras filhas, faziam de tudo por uma gota de atenção. A esposa parecia apenas uma empregada da casa. Não posso deixar de falar no renomado professor, o Rahm. A busca por aprovação, em querer ser visto e notado me corroeram a ponto da minha admiração definhar aos poucos. Não suportava mais a relação do William com ele. E Charlotte? Bem, ela foi uma das personagens em que eu mais me envolvi e admirei até a última página ser virada. Ela é inteligente, doce e super apaixonante. Trazia leveza e sabor para a realidade cinzenta de sua família.
Na metade do livro, percebi que não havia simpatizado muito com o George. Tinha momentos em que eu ria do seu humor ácido e sarcástico, se é que posso descrevê-lo dessa forma e de algumas outras coisas que ele fazia. Ponto. Era apenas isso. De resto, tudo me incomodava. A forma como ele tratava a esposa, o tanto que pensava em trabalho e só havia isso, 24 horas por dia. Não existia tempo para mais nada. Não poderia dar um deslize sequer, nem ao menos descansar. Sem falar do seu filho, Tom. O jovem não podia estudar, mergulhar nos livros, viver a própria vida que ele já vinha com aquele papo de legado. De que Tom deveria seguir os seus passos, fazer o mesmo que ele e viver daquilo pro resto da vida. Nossa, tive vontade de estapeá-lo. Entendo que sempre há um motivo, algo vinculado, seja na infância ou em algum momento das nossas vidas, mas não dá. Tem alguns momentos bons dele com a esposa e filho que me fizeram sorrir, criar até mesmo expectativas mas ainda desgosto de George.
E por fim, temos a Tão. Achei a vida dela muito parada, meio monótona, sem sal. Não conseguia me conectar com a personagem. Demorou um pouco. Tudo envolvia o filho, sem falar no Kuan que era muito passivo pra tudo. Que homem molenga! O Wei-Wen é um amor. Me divertia ao imaginar ele brincando com os próprios brinquedos, ou se lambuzando com a comida, e ri também quando Tão tentava sem sucesso ensinar-lhe os números ou algo importante. Com a reviravolta na vida dela, eu pude ver a evolução e o despertar de diversos sentimentos. O esforço e a força diante do inimaginável. A decisão de fazer a escolha certa. Tão se mostrou uma personagem forte, sincera e determinada. Uma verdadeira mãe, como deve ser.
Gostei de como o livro abordou sobre a relação dos pais com os filhos. O ponto de vista de cada um. O lado crítico, atual, e mais uma vez: humano. A autora soube retratar bem essa realidade, desconstruindo uma bolha desgastante que possibilitasse mergulhar no mundo de cada um. Sem máscaras, somente a imperfeição de ser. As histórias vão se encaixando, como um quebra-cabeça de memórias e acontecimentos que vai se reconstruindo, mostrando o real como pano de fundo.
A autora poderia ter focado em uma única história. Se aprofundar mais, sem intercalar tanto. Me perdi várias vezes e fiquei confusa com a mudança de passado, presente e futuro. Alguns detalhes na história da Tão deixaram a desejar. Era tantas descrições que quase cogitei parar o livro para respirar. Tirando isso, a escrita é leve e envolvente. Ansiosa para ler outras obras!
Não me agradei do final, por ser aberto. Me deixou apenas mais confusa, com dúvidas e muitas perguntas sobre o que de fato aconteceu com os personagens. Ficou muito raso. De certa forma, foi uma leitura entediante que começou na mera curiosidade e se tornou irresistível de parar diante de cada acontecimento.
Há diversas nuances e tópicos que não falei, pois essa resenha está muito longa. Posso dizer que fazia muito tempo em que eu não devorava um livro em poucas semanas. É um bom livro, recomendo!!!