Hildeberto 02/01/2015Uma questão de perspectiva De início, me assustei com as resenhas que li aqui no Skoob. Eu havia comprado o livro há muito tempo e nunca tinha me disposto a lê-lo (por falta de tempo, por preferir dedicar meu tempo a livros melhores ou mesmo por preconceito, baseado em resenhas alheias). Porém, resolvi nessas férias dá uma chance aos livros renegados da minha estante. Me decepcionei.
Me decepcionei por não encontrar nada tão polêmico, avassalador, "estilo Veja", livro da ultradireita conservadora e todos os adjetivos "populares do livro. Leandro Narloch tenta abordar temas sensíveis a cultura geral do país com um outro enfoque. Concordo que em alguns momentos a interpretação dele esquece elementos históricos importantes, mas não é enganadora em nenhum momento. Ele tenta desconstruir verdades estabelecidas pelo o Brasil, e já na escolha desse objetivo não há como ser imparcial.
Por ser um livro que mostra a outra perspectiva, o "Lado B" (dígamos) da história, peca não pelo excesso, e sim pela ausência. Há ausência de temas importantes, como o por quê da nossa bandeira ser como é; Tiradentes; grito do Ipiranga; e um monte de outras coisas. Porém os dados apresentados em seu livro não são novos - obviamente, pois o autor usa uma literatura existente como fonte de pesquisa. Nada me surpreendeu. O que há de peculiar no livro são dois aspectos: o estilo de escrita do escritor, meio irônico, com algumas tiradas muito engraçadas (e um pouco nerd, no bom sentido, com por exemplo quando fala do Blanka, na página 146) e a iniciativa de juntar temas "polêmicos" em uma mesma obra.
Se é uma releitura do discurso histórico consolidado, é aconselhável fazer a leitura do mesmos em livros com a perspectiva tradicional. Só assim para criar um senso crítico pessoal sobre os fatos, descobrir onde o autor deixou-se levar mais pela sua opinião ou por pesquisas históricas recentes.
Por fim, vale ressaltar que o que considero mais sobressalente da ideologia que o autor adota no livro é a crença no indivíduo em moldar seu próprio destino, a liberdade individual como um valor, a rejeição de qualquer tipo de determinismo, olhar a história feita por homens mortais de carne e osso. Rejeita o marxismo histórico do determinismo econômico e, portanto, um dos princípios basilares do comunismo. Em termos políticos, esta postura se aproxima mais dos pensadores liberais.
Seus argumentos, e mesmo a proposta do livro, podem levar à uma defesa de classes tradicionalmente vistas como vilãs. Mas isto não é de todo mal, porque o maniqueísmo simplista de bandidos e mocinhos já está muito gastos. O ser humano é mais do que um lado, mais complexo do que escolhas simplistas. As idiossincrasias existem; e no final, o bem e o mal, esquerda e direita, em cima ou embaixo: tudo é uma questão de perspectiva.