Tamires 24/09/2019Intérprete de males, de Jhumpa LahiriEsplêndido. É o que foi, para mim, o livro Intérprete de males, de Jhumpa Lahiri (TAG/Biblioteca Azul, setembro-2019). Quem leu, sabe que o adjetivo não foi escolhido por acaso: é o que a centenária Sra. Croft acha sobre o homem ter posto uma bandeira (americana) na lua, retirado do último conto da coletânea, “O terceiro e último continente“.
Interprete de males é esplêndido por vários motivos. Seja pelos os personagens cativantes, trama envolvente ou pelos finais arrebatadores, é um livro de contos — nove, no total — em que todas as histórias são boas por uma ou outra característica. É difícil escolher um conto favorito, ou um personagem mais marcante. Desde a primeira narrativa, somos imersos no peso da intercultura: indianos ou descendentes que estão à margem do pertencimento, entre países completamente distintos, mas dos quais carregam características que formam o que eles são. Interprete de males, ganhador do Pulitzer no ano 2000, é um livro sobre imigrantes, mas não é só isso. É um livro sobre cotidiano, sobre o que nos torna aquilo que somos.
Jhumpa Lahiri é filha de indianos, nascida em Londres, naturalizada americana. Toda essa trajetória, ao meu ver, reflete em muita leveza e em muita verdade nos personagens deste livro. Mesmo nas tramas mais dramáticas, não há exagero. Todos os atos dos personagens e desfechos dos contos são extremamente convincentes. Gosto de imaginar o quanto de autobiográfico tem um livro e Intérprete de males aguça ainda mais esse tipo de curiosidade.
“Embora não o visse havia meses, só então senti a ausência do sr. Pirzada. Só então, erguendo meu copo de água em nome dele, foi que entendi como era sentir falta de alguém que estava a tantos quilômetros e horas de distância, assim como ele havia sentido falta da esposa e das filhas durante tantos meses.” (Quando o sr. Pirzada vinha jantar, p. 52)
“— Essa palavra: ‘sexy’. O que quer dizer?
(…)
— Quer dizer amar alguém que a gente não conhece.” (Sexy, p. 117)
“Sempre que ele desanima, digo que, se eu sobrevivi em três continentes, não há obstáculos que ele não possa superar.” (O terceiro e último continente, p. 207)
Uma coisa interessante na leitura do conto que dá nome ao livro é que ele explica não só a profissão de um dos personagens, mas, de certa forma, explica também o que faz Jhumpa Lahiri para nós leitores, especialmente os que não têm essa vivência de se estabelecer tão longe de sua cultura. Embora diferentes, os contos funcionam muito bem juntos e o título Intérprete de males acaba por traduzir e sintetizar cada um deles.
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