Carla.Parreira 24/05/2024
O Sol também é uma estrela (Nicola Yoon). Melhores trechos: "...Carl Sagan afirmou que, se você quiser fazer uma torta de maçã desde o início, precisa primeiro inventar o Universo. Quando ele afirma 'desde o início', quer dizer a partir do nada. Quer dizer a partir de um tempo anterior à existência do mundo. Se você quiser fazer uma torta de maçã a partir do nada, precisa começar com o Big Bang, universos em expansão, nêutrons, íons, átomos, buracos negros, sóis, luas, marés oceânicas, Via Láctea, Terra, evolução, dinossauros, eventos de extinção, ornitorrincos, Homo erectus, homem de CroMagnon, etc. Precisa começar do início. Precisa inventar o fogo. Precisa de água, solo fértil e sementes. Precisa de vacas, pessoas para ordenhá-las e mais pessoas para bater esse leite até virar manteiga. Precisa de trigo, cana-de-açúcar e macieiras. Precisa de química e biologia. Para uma torta de maçã realmente boa, precisa das artes. Para uma torta de maçã que dure gerações, precisa da prensa gráfica e da Revolução Industrial, e talvez até de um poema. Para fazer uma coisa simples como uma torta de maçã, você precisa criar o mundo inteiro... Eu não estava brincando sobre o lance de alguém se apaixonar cientificamente. Saiu até um artigo no The New York Times sobre isso. Um pesquisador colocou duas pessoas num laboratório e fez com que cada uma fizesse à outra várias perguntas íntimas. Além disso, elas precisavam se olhar nos olhos durante quatro minutos sem falar. Tenho quase certeza de que não vou conseguir que ela faça o negócio de olhar nos olhos neste momento. Para ser honesto, não acreditei de verdade no artigo quando li. Você não pode fazer as pessoas se apaixonarem, certo? O amor é muito mais complicado do que isso. Não é só uma questão de escolher duas pessoas e fazer com que elas se façam algumas perguntas e aí o amor floresce. A lua e as estrelas estão envolvidas. Tenho certeza. Mesmo assim... Segundo o artigo, o resultado da experiência foi que as duas pessoas se apaixonaram de verdade e se casaram. Não sei se ficaram casadas. (Eu meio que não quero saber, porque, se os dois ficaram casados, então o amor é menos misterioso do que eu pensava e pode ser cultivado numa placa de Petri... UMA SOLUÇÃO POSSÍVEL para o paradoxo do avô é a teoria dos multiversos, apresentada originalmente por Hugh Everett. Segundo a teoria dos multiversos, cada versão da história do nosso passado e do nosso futuro existe, só que num universo alternativo. Para cada evento no nível quântico, o universo atual se divide em múltiplos universos. Isso significa que, para cada escolha que a gente faz, existe um número infinito de universos em que você fez uma escolha diferente. A teoria resolve muito bem o paradoxo do avô propondo universos separados em que cada resultado possível existe, evitando assim o paradoxo. Desse modo nós vivemos vidas múltiplas... Segundo os cientistas, existem três estágios no amor: desejo, atração e ligação. E, por acaso, cada estágio é orquestrado por substâncias químicas – neurotransmissores – no cérebro. Como seria de esperar, o desejo é governado pela testosterona e pelo estrogênio. O segundo estágio, a atração, é governado pela dopamina e pela serotonina. Quando, por exemplo, os casais dizem que se sentem indescritivelmente felizes na presença um do outro, isso é a dopamina – o hormônio do prazer – fazendo seu trabalho. Cheirar cocaína induz o mesmo nível de euforia. De fato, cientistas que estudam os cérebros de amantes recentes e de viciados em cocaína têm dificuldade em dizer qual é a diferença. A segunda substância química da fase da atração é a serotonina. Quando cada membro do casal confessa que não consegue parar de pensar no outro é porque seu nível de serotonina baixou. As pessoas apaixonadas têm o mesmo nível baixo de serotonina das que têm TOC. O motivo de não conseguirem parar de pensar no outro é que estão literalmente obcecadas. A oxitocina e a vasopressina controlam o terceiro estágio: a ligação, ou a conexão de longo prazo. A oxitocina é liberada durante o orgasmo e faz a gente se sentir mais próxima da pessoa com quem fez sexo. Também é liberada durante o parto e ajuda a ligar mãe e filho. A vasopressina é liberada pós-coito. O amor não passa de substâncias químicas e coincidência... QUANDO A GENTE NASCE, ELES (Deus, os pequenos alienígenas ou sei lá o quê) deveriam mandar a gente para o mundo com um punhado de passes livres. Um Cartão de Refazer, um de Adiar, um de Voltar Atrás, um de Soltura da Cadeia. Eu usaria o meu de Refazer agora mesmo... Entendo de verdade. Mas há uma parte de mim, a parte que não acredita em Deus nem no amor verdadeiro, que deseja que ele prove que estou errada em não acreditar nessas coisas. Quero que ele me escolha. Mesmo sendo cedo demais na história de nós dois. Mesmo não sendo o que eu faria. Quero que ele seja tão nobre quanto pareceu a princípio, mas, claro, não é. Ninguém é. Por isso deixo que ele se solte do anzol... NAS CIVILIZAÇÕES AFRICANAS DO SÉCULO XV os estilos de cabelo eram marcas de identidade. O estilo de cabelo podia indicar tudo, desde a tribo ou a família até a religião ou o status social. Penteados elaborados designavam poder e riqueza. Um estilo discreto podia ser sinal de que você estava de luto. Mais do que isso, o cabelo podia ter importância espiritual. Como ele está na cabeça – a parte mais alta do corpo e a mais próxima do céu –, muitos africanos o enxergavam como uma passagem para os espíritos até a alma, um modo de interagir com Deus. Essa história foi apagada com o início da escravidão. Nos navios negreiros, os africanos recém-capturados tinham a cabeça raspada à força, num profundo ato de desumanização, um ato que cortava efetivamente o elo entre cabelo e identidade cultural. Depois da escravidão o cabelo afro-americano assumiu associações complexas. Cabelo 'bom' era qualquer coisa mais próxima dos padrões europeus de beleza. O cabelo bom era liso e macio. O cabelo crespo, texturizado, natural de muitos afro-americanos, era considerado ruim. Cabelo liso era lindo. Cabelo crespo era feio. No início da década de 1900, madame C. J. Walker, uma afro-americana, ficou milionária inventando e vendendo seus produtos de beleza para as negras. Ficou mais famosa por melhorar o projeto do 'pente quente', um instrumento para alisar o cabelo. Na década de 1960, George E. Johnson lançou o 'relaxante', um produto químico usado para alisar cabelos afroamericanos crespos. Segundo algumas estimativas, a indústria de produtos para cabelos de negros movimenta mais de 1 bilhão de dólares por ano. Desde os dias pós-escravatura até os tempos modernos, o debate na comunidade afro-americana tem sido feroz. O que significa usar o cabelo natural versus o alisado? Alisar o cabelo é uma forma de ódio contra si mesmo? Significa que seu cabelo no estado natural não é bonito? Se você usa o cabelo de modo natural está fazendo uma declaração política, reivindicando o poder dos negros? O modo como as afro-americanas usam o cabelo costuma ter a ver com mais coisas do que só com a vaidade. Tem a ver com algo mais do que a noção de um indivíduo sobre sua própria beleza... É DIFÍCIL AMAR ALGUÉM que não ama a gente... O DESTINO SEMPRE ESTEVE no âmbito dos deuses, mas até os deuses estão sujeitos a ele. Na antiga mitologia grega, as Três Irmãs do Destino tecem a sorte da pessoa nas três primeiras noites de vida. Imagine seu filho recém-nascido no berço. Está escuro, macio e quente, em algum momento entre duas e quatro da madrugada, uma daquelas horas que pertencem exclusivamente aos recém-nascidos ou aos que estão morrendo. A primeira irmã – Cloto – aparece perto de você. É uma donzela, jovem e de pele lisinha. Nas mãos segura uma roca de fiar e nela produz os fios da vida de seu filho. Ao seu lado está Láquesis, mais velha e mais matronal do que a irmã. Nas mãos segura a haste para medir o fio da vida. O tamanho e o destino da vida de seu filho estão nas mãos dela. Por fim, temos Átropos – velha, desfigurada. Inevitável. Nas mãos segura a tesoura terrível que vai usar para cortar o fio da vida de seu filho. Ela determina a hora e a maneira como a criança morrerá. Imagine a visão espantosa dessas três irmãs reunidas junto ao berço, determinando o futuro do menino. Nos tempos modernos, as irmãs desapareceram do consciente coletivo, mas a ideia do Destino não. Por que ainda acreditamos? Será que a tragédia fica mais suportável se acreditarmos que não tivemos responsabilidade sobre ela, que não poderíamos tê-la impedido? Sempre foi assim. As coisas acontecem por um motivo, diz a mãe de Natasha. O que ela quer dizer é que o Destino tem um Motivo, e, mesmo você não o conhecendo, há um certo conforto em saber que há um Plano... A vida não passa de uma série de decisões, indecisões e coincidências idiotas às quais decidimos dar significado... Dizemos a nós próprios que existem motivos para as coisas que acontecem. Mas, na verdade, só estamos contando histórias para nós mesmos. Inventando. Elas não significam nada... Como nós passamos dos olhos como mecanismo de sobrevivência para a ideia do amor à primeira vista? Ou para a ideia de que os olhos são as janelas da alma? Ou para o clichê de dois amantes olhando interminavelmente nos olhos um do outro? Estudos demonstraram que as pupilas das pessoas que se sentem mutuamente atraídas dilatam por causa da presença de dopamina. Outros estudos sugerem que riscas nos olhos podem indicar tendências da personalidade, e que talvez os olhos sejam afinal de contas uma espécie de janelas para a alma. E os amantes que passam horas se olhando nos olhos? É uma demonstração de confiança? Vou deixar você chegar perto e vou confiar que você não vai me ferir enquanto estou nesta posição vulnerável. E, se a confiança é um dos fundamentos do amor, talvez o costume de olhar nos olhos seja um modo de construí-la ou reforçá-la. Ou talvez seja mais simples do que isso. Uma simples busca de conexão. De ver. De ser visto..."