Aione 10/08/2017A Casa do Lago é a mais recente obra de Kate Morton e seu primeiro livro publicado pela editora Arqueiro (os quatro outros romances da autora foram publicados pela editora Rocco). Mesclando mistério, romance, drama e uma sensibilidade ímpar, Morton cria uma trama capaz não só de surpreender como, principalmente, de envolver e tocar.
Sadie precisou ser afastada de seu cargo na polícia por conta de um complicado caso em que se envolveu. Enquanto aproveita sua licença na Cornualha, na casa do avô, acaba se deparando com uma casa abandonada, escondida em meio ao bosque, que chama sua atenção. Ao pesquisá-la, ela descobre que, há 70 anos, uma tragédia aconteceu ali e o caso jamais foi resolvido. Quando ela decide investigar mais sobre os acontecimentos, acaba entrando em contato com Alice, escritora de 86 anos pertencente à família que morou na misteriosa casa e que, portanto, estava viva quando tudo aconteceu. Entretanto, Alice não quer ninguém investigando seu passado e ameaçando, assim, expor os segredos que ela carrega há tantos anos.
É a primorosa escrita de Kate Morton a responsável por nos fazer mergulhar em A Casa do Lago desde as primeiras páginas. Sua delicada narrativa constrói, em terceira pessoa, não apenas os eventos que serão interligados, mas principalmente os cenários e personagens que criarão a atmosfera da obra e farão dela tão completa. A autora nos dá detalhes de cada contexto descrito, permitindo a nós não só imergir por completo nas cenas narradas como, principalmente, conhecer a fundo cada personagem.
Esse, aliás, é um dos pontos altos de A Casa do Lago. A autora se preocupou em construir personagens densas e completas, de maneira que suas histórias são narradas em detalhes, bem como suas emoções, a fim de que possamos compreendê-las e nos conectarmos a elas. Essa é uma história sobre pessoas, acima de tudo, e se torna imprescindível, assim, que elas sejam quase palpáveis ao leitor – e elas, de fato, o são.
Não bastasse o trabalho de Kate Morton em construir tão bem os elementos que compõem a obra, a autora soube tecer com maestria a trama narrada. O mistério de A Casa do Lago está presente do início ao fim, sendo renovado a cada momento por um diferente desenrolar e reviravolta da trama, o que, invariavelmente, causa surpresas no leitor. Se a leitura, de modo geral, se faz densa pela quantidade de informações e eventos narrados, é essa manutenção do suspense que auxilia em sua agilidade, diminuindo, dessa maneira, o possível peso da leitura.
Notei algumas curiosidades em A Casa do Lago, a começar pela maneira de como o livro, em alguns aspectos, me lembrou Os Homens Que Não Amavam As Mulheres, de Stieg Larsson (por conta do caso familiar ocorrido no passado – presente em ambos os livros), e Reparação, de Ian McEwan (por conta das personagens escritoras em cada uma das obras, além dos próprios períodos históricos e cenários em que cada um deles se passa), dois livros que figuram entre minha lista de favoritos. Embora o romance de Kate Morton tenha me lembrado dos outros nos pontos mencionados, vale dizer que ele segue seu próprio curso, constituindo-se como um livro único em sua própria trama. Ainda, achei interessantíssimo como a metalinguagem está presente aqui. Alice, ao discorrer sobre aspectos essenciais para ela na construção de um bom romance policial, acaba elencando pontos claramente encontrados no próprio desenvolvimento de A Casa do Lago. Mesmo conhecendo a “fórmula” utilizada por Morton, não fui capaz de desvendar os mistérios contidos no enredo.
Vale dizer que o tema central de A Casa do Lago, acima de qualquer possível investigação, é a maternidade. Essa temática envolve praticamente todos os eventos narrados e, justamente por isso, faz da história tão sensível e tocante. Kate Morton, ainda, foi capaz de abordar o tema por diferentes perspectivas, trazendo aspectos que são explorados em diferentes contextos e situações, de acordo com as personalidades das diversas personagens. Assim, ela demonstra sua amplitude e permite, a partir dela, o aspecto reflexivo da obra.
A Casa do Lago foi, sem dúvidas, um dos melhores livros que li este ano. O trabalho detalhado e cuidadoso de Kate Morton ao construir a história e seus elementos me encantou por completo, além de ter me proporcionado uma leitura rica em suas particularidades e inteiramente envolvente. Uma história que foi capaz de me entreter, sensibilizar e, sem dúvidas, surpreender.
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