Julia G 20/03/2018Sangue por SangueRyan Graudin conseguiu criar uma história fascinante sobre como seria o mundo se Adolf Hitler tivesse vencido a Segunda Guerra Mundial e, em Lobo por Lobo, a autora nos presenteou com uma trama repleta de reviravoltas e com um final atordoante de expectativas. Para ser sincera, estava um pouco receosa em começar a leitura de Sangue por Sangue, com medo de que tudo aquilo que gostei no primeiro livro fosse desperdiçado nesse segundo volume. Porém, a autora soube explorar todos os detalhes que criou e entregou uma duologia completa, angustiante, mas incrível.
No primeiro volume, Yael enfrentou, como Adele, as dificuldades do Tour do Eixo para ficar frente a frente com Hitler. Agora, depois de alcançar seu objetivo, embora com resultados bem diferentes dos desejados, ela se torna uma fugitiva do governo, e arrasta consigo Felix e Luka, que se viram envolvidos na conspiração da resistência por terem ficado tão próximos da rebelde.
"Quanta salvação e perdição havia naquele único empurrão. Os Wolfe ficariam a salvo, mas haveria sangue. Sangue por sangue. Sangue para pagar. Um mundo inteiro de sangue."
Sangue por Sangue mantém o ritmo do primeiro livro, eletrizante e carregado de tensão. A cada cena há um novo obstáculo, alguma nova luta pela vida, e as reviravoltas trazidas no enredo são tão envolventes quanto no primeiro livro. Como adicional, além dos capítulos pela perspectiva de Yael, há alguns pelos pontos de vistas de outros personagens, como Luka e Felix, assim como interlúdios que mostram o passado deles. É enriquecedor vê-los sem o filtro do olhar da protagonista, já que se pode compreender suas motivações e a real complexidade de suas personalidades.
Adorei a forma como Graudin conseguiu inserir as mulheres em posição de destaque. Yael é uma protagonista forte, corajosa e determinada, e é ótimo ver a garota como a salvadora, de quem todos dependem, e não como aquela que precisa ser salva. Além dela, Henryka e Miriam são líderes, seja da resistência, seja do exército soviético. Não que os homens não tenham participação relevante na história, mas o fato de elas serem tão importantes quanto eles - ou mais - faz do enredo ainda mais instigante.
Outro ponto positivo foi o cuidado da autora com dados históricos, que fez a história quase verossímil. Não fosse a metamorfia inserida no enredo, creio que um possível reinado de Hitler seria bastante semelhante ao descrito nos livros, tão ou mais horripilante do que ocorreu durante a Segunda Guerra. Embora esse segundo volume tenha enfoque maior nas consequências das ações de Yael, ainda há passagens bastantes que falam sobre os campos de concentração, os experimentos nazistas, a estrutura de governo e poder alemão, entre outros detalhes muito bem trabalhados pela autora.
A questão do poder, aliás, leva a um fechamento surpreendente do livro. Eu até tinha uma suposição de que algo semelhante poderia ocorrer, tendo em vista o caminho pelo qual a trama estava levando. Mas não tinha imaginado nada tão elaborado quanto foi de fato.
"- Você me deu uma chance de viver - Miriam disse. - Deu ao mundo uma chance de se libertar. Não é algo de que se envergonhar."
O único problema do livro foi a superficialidade com que Graudin narrou as diversas perdas de Yael. Eu sofri mais pelo que eu sabia sobre a história da protagonista do que pelo trabalho de texto da autora. Foram escritas apenas algumas passagens quase indiferentes sobre isso, e achei uma pena a autora não explorar melhor esses momentos. Acredito que, com tantos detalhes para fechar e justificar, tenha sido uma opção não se estender no sofrimento da personagem, mas realmente senti falta disso.
Sangue por Sangue é um livro sobre guerra, então as perdas são inevitáveis. O final é o mais feliz possível, mas sinto que preciso alertar que não é um final feliz, no fim das contas. Ainda assim, tem uma trama incrivelmente bem construída e trabalha com questões necessárias, como humanidade e identidade, sobre o real valor das pessoas, para além das aparências.
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