GilbertoOrtegaJr 05/10/2014Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar? - António Lobo Antunes Olhando de forma comparativa os personagens de Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar? Me lembra várias das pessoas que fazem parte diariamente do programa Casos de família, todos estão em maior ou menor grau fodidos e insatisfeitos com suas próprias vidas, tem a noção de o presente não é bom, e por isso se refugiam em lembranças de tempos melhores que já passou ou tentam se mover em direção ao futuro na esperança de que ele seja melhor que o presente.
No livro os personagens contam a história da decadência de sua família por meio de oito vozes narrativas, a mãe, que está em seu leito de morte; o pai que gastou grande parte do que tinha jogando no cassino; Beatriz, a filha que teve dois casamentos que não deram certo; Francisco que é de todos os filhos o mais amargo, e espera a morte de mãe para poder se apoderar do pouco que sobrou da antiga riqueza da família; Ana; que se perdeu nas drogas; homossexual que procura rapazes no parque, para sair com ele; Rita, que morreu muito jovem devido a um câncer, e por fim Mercília a empregada da casa.
A impressão é de que este livro seria infalível quando se lê o resumo dele, a falta de pontuação como vírgula, ponto de interrogação e ponto final são inexistente, para seguirem escrito como é o fluxo de consciência, somado a isso oito vozes narrativas em que se mistura lembranças ou tempo, e pontos de vista.
Mas mesmo com tudo isso para mim o livro falhou. Os vários narradores, que poderiam apresentar pontos de vista diferentes de uma mesma situação, ou simplesmente verem uns aos outros sobre óticas diferentes (afinal cada personagem estaria submetido a sete pontos de vistas diferentes entre si (teoricamente, claro)), não existe. Todos os personagens veem os outros da mesma forma, ou seja um personagem é visto pelos outros sete de forma igual, sem mudar em nada. E ainda seguindo olhando o que o autor vai criando das vozes narrativas seria natural que durante os anos que passaram a família estivesse com um grande leque de vivências diferenciadas, mas elas não existem os personagens se atem a fatos por mais de um capítulo, não há ali uma transformação com o tempo, é como se ao nascer o personagem já estivesse completo, ao invés de ir formando sua identidade com o passar dos anos (como acontece na vida real, afinal ninguém nasce inacabado).
A monotonia foi o que dominou minha leitura, marcada também por fios soltos, a escolha nas características do personagens é fraca, muito fraca, elas são baseadas em rótulos que existem em qualquer lugar, e são associadas a figuras com vidas falidas (jogador compulsivo, drogada, solteirona, Gay). Acima de tudo o que me incomodou é o fato de existir uma grande homogeneidade de lembranças e de traços de personalidade, fiquei com a impressão de que o autor na hora de criar um personagem pensava nele como um rótulo. Por tudo isso Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar? É a prova escrita de que um livro pode ser radical de várias formas, em sua escrita, mas se não conter uma boa história, que é um dos aspectos fundamentais para que se leia, continuará sendo um livro chato.
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