Gramatura Alta 14/09/2015
Espetacular
Batman, o Cavaleiro das Trevas e Watchmen foram as duas obras que encerraram a época de ouro dos quadrinhos de super-heróis. Os enredos ingênuos e, às vezes, banais, deram lugar a histórias densas, onde os heróis erravam e onde morriam e matavam.
Nos anos 90, Alex Ross ilustrou várias minisséries para a DC Comics e Marvel. Sua pintura realista dos personagens, rendeu-lhe uma enorme legião de fãs e ajudou a consagrar diversas obras em tamanho gigante, porque só assim era possível admirar adequadamente o trabalho do pintor. Uma dessas obras, que a sua maneira também marcou época, é o Reino do Amanhã, com roteiro de Mark Waid.
O número de mata-humanos cresceu assustadoramente com o passar dos anos. O que era uma exceção, transformou-se em padrão. Com isso, os seres humanos normais começam a ficar acuados pelas constantes batalhas que acontecem em todas as partes.
Tudo piora quando um vilão é assassinado a sangue frio por um herói, e este é absolvido. Superman, por não concordar com a decisão, decide se isolar, e muitos outros fazem o mesmo. O planeta fica entregue a essa nova geração de meta-humanos.
Dez anos após esses eventos, Norman McCay, um pastor em crise com sua fé, é convocado pelo Espectro, o Espírito da Vingança, para testemunhar e decidir o destino da humanidade diante do apocalipse que se aproxima.
A síntese de Reino do Amanhã reside no objetivo e na responsabilidade do uso de poderes. Como proceder para controlar pessoas que, devido ao que conseguem fazer, ficam acima da lei e da moral? Qual o papel que o maior dos heróis, Superman, deve desempenhar para controlar essas pessoas? Mesmo as boas ações, ou as boas intenções, podem resultar em algo benéfico, ou podem desencadear um mal maior do que o inicial? O desespero para manter uma raça fora da extinção pode justificar a extinção da raça opressora? A principal surpresa de Reino do Amanhã reside exatamente no fato de que aqueles que querem nos salvar podem terminar por nos condenar.
Mark Waid conduz toda a história com avisos constantes de que algo terrível irá acontecer. A expectativa e a inevitabilidade de que algo saíra do controle é crescente a cada página, criando um suspense e uma ânsia que impede a interrupção da leitura antes de finalizar toda a leitura.
Somado a isso, tem as pinturas fantásticas de Alex Ross. Todos os personagens possuem traços humanos tão realistas, que fica fácil imaginar como seriam se existissem realmente. E esse realismo não fica limitado às feições, mas também aos uniformes, às poses de combate, às expressões faciais e ao próprio ambiente. Alguns quadrinhos são dignos de se emoldurar e colocar na parede.
Quando chegamos ao último capítulo de Reino do Amanhã e descobrimos os planos que são montados desde a primeira página, como também o papel do pastor no resultado desses eventos, precisamos parar para respirar e elogiar a qualidade de um álbum que, mesmo lido diversas vezes, nunca deixará de surpreender.
No fim do álbum, somos presenteados com alguns desenhos a lápis de Alex Ross, e uma descrição sucinta dos principais personagens da história. :)
site: http://conjuntodaobra.blogspot.com.br/2015/09/reino-do-amanha-mark-waid-e-alex-ross.html