Tati Iegoroff (Blog das Tatianices) 07/05/2024Muito além do clichêIniciei a leitura de Quero andar de mãos dadas sem expectativa alguma. Adquiri o ebook em 2019 e, apesar de conseguir detectar diversos elementos na sinopse que possam ter despertado meu interesse, não sei o quê exatamente me fez comprar o ebook.
Ao embarcar nas primeiras páginas desta obra, achei que este seria só mais um ebook com alguns lugares comuns neste tipo de história: jovens adolescentes que estão se descobrindo gays e que não podem ficar juntos, famílias homofóbicas e depressão (sempre tem alguém com depressão em histórias assim).
A verdade, porém, é que encontrei muito mais. Mas antes de me aprofundar na história é preciso dizer que sim, há gatilhos. Há cenas de violência doméstica e de automutilação, além de toda a questão da depressão abordada.
A história é narrada, alternadamente, pelos dois protagonistas: Johnny e Nicholas. Johnny já é assumido para sua família, o que não significa que sua vida seja só flores, mesmo que o bom humor dele seja quase inabalável. O jovem mora com a mãe — que está em depressão — e com o padrasto, que claramente é uma pessoa extremamente tóxica e que só faz mal para quem está ao seu redor.
Por outro lado, Nicholas parece ter a vida perfeita: uma família unida, equilibrada e feliz. Até a segunda página, claro. O problema de Nicholas é que ele tem certeza que não pode revelar para sua família quem ele é verdadeiramente. E, aos poucos, fica muito claro como esta é uma família que simplesmente não conversa de verdade.
Isso é um problema enorme, porque o que Nicholas faz é carregar um peso tremendo, sem ter a certeza de que ele é realmente necessário (bom, ele tem certeza de que é. E tem gente que sabe que não pode arriscar descobrir).
Algumas pessoas talvez achem exageradas as reações de Nicholas, podem até considerá-lo dramático demais, dizer que não precisava de tanto. Mas quem tem uma mente ansiosa e que sempre imagina os piores cenários provavelmente vai entender os pensamentos do personagem.
Os dois se conhecem através de uma pessoa em comum: Lavínia, a melhor amiga de Johnny e prima de Nicholas e o primeiro encontro deles é totalmente despretensioso, mas uma chama se acende ali e suas vidas viram do avesso.
Em meio à ansiedade da última semana de aula, seus problemas pessoais, seus medos e suas descobertas, os dois vão se aproximando, se apaixonando intensamente e sofrendo na mesma medida.
Através deste emaranhado de acontecimentos, somos levados a pensar sobre preconceito, saúde mental, medos e, claro, a importância de se conversar de verdade.
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