Mariah 20/09/2022
“Quando um homem fala com outro é para que possa ser compreendido.” JOHN LOCKE, Ensaio sobre o entendimento humano
“Não há armadilha mais mortal do que a que armamos para nós mesmos.”
RAYMOND CHANDLER, O longo adeus
O ESTUDO DA LINGUAGEM pode ser desenvolvido em diferentes perspectivas e com objetivos diversos. No contexto contemporâneo e no âmbito da filosofia da linguagem, o estudo da linguagem usada concretamente – ou seja, a pragmática – tem sido pouco explorado. Este livro visa contribuir para a discussão”
“O discurso da sedução é um dos bons exemplos em que a chance de haver dificuldade de comunicação é grande porque se trata de situação, bastante comum, em que queremos fazer com que alguém aceite, ou mesmo deseje, algo que pelo menos inicialmente não quer.a A situação de sedução já é, por si só, cheia de armadilhas, por isso a qualquer momento podemos pisar em falso se nos expressarmos de forma inadequada, pondo tudo a perder.
Uma das armadilhas mais difíceis de evitar na comunicação decorre da relativa autonomia que a linguagem parece ter, visto que o significado se constitui culturalmente e com frequência escapa do nosso controle.”
“Vemos, assim, que o discurso não depende apenas de quem o profere e de seus objetivos, por mais nobres que sejam. Quem fala se apropria da linguagem, mas esta foge de seu controle, de seus conhecimentos, de suas intenções. Produz significado, realiza atos que resultam de fatores muito além do que o falante profere nas circunstâncias em que o faz. É preciso levar isso em conta para evitar ou contornar as armadilhas da linguagem, ainda que muitas delas pareçam inevitáveis.
Há, também, armadilhas teóricas. As teorias que visam tratar a linguagem de forma totalmente desvinculada do contexto, que a idealizam, que constroem explicações com base em formalismos e examinam exemplos artificiais de construções logicamente perfeitas, mas que jamais empregamos, ilustram esse tipo de armadilha.”
“Quando um homem fala com outro é para que possa ser compreendido.”
JOHN LOCKE, Ensaio sobre o entendimento humano
A FILÓSOFA E PSICANALISTA FRANCESA, nascida na Bulgária, Julia Kristeva deu a seu livro de filosofia da linguagem lançado em 1981 o significativo título de Le langage: cet inconnu (A linguagem, essa desconhecida). Todos nós sabemos usar a linguagem e a aprendemos espontaneamente. Mesmo os que têm pouca escolaridade sabem utilizá-la. Falam, comunicam-se, são capazes de empregá-la em seu dia a dia de modo razoavelmente eficaz. E, contudo, se perguntarmos a qualquer pessoa (inclusive aos filósofos e aos linguistas) o que é linguagem, veremos que não há uma resposta simples, muito menos única.”
“Tradicionalmente, há dois grandes conjuntos de problemas em torno dos quais se desenvolve a maior parte da discussão filosófica e teórica sobre a linguagem. O primeiro diz respeito à relação entre a linguagem e a mente, ou o pensamento. Seria a linguagem sempre a expressão de um pensamento previamente constituído que se manifesta, se explicita, linguisticamente? Ou seria a linguagem uma forma de compreender o pensamento, de se ter acesso a ele? Steven Pinker deu a seu livro The Stuff of Thought (A substância do pensamento) o subtítulo de Language as a Window into Human Nature (A linguagem como uma janela para a natureza humana) porque, segundo ele, retomando Descartes no Discurso do método (parte V), só os seres humanos têm linguagem. Nesse tipo de concepção, examina-se sobretudo o sujeito linguístico, aquele cujo pensamento se expressa pela linguagem.”
“O segundo conjunto de problemas consiste em considerar a linguagem usada na comunicação. A linguagem é sempre utilizada para fazermos algo e, em um sentido amplo, nos comunicarmos com outros indivíduos que também a compreendem e utilizam. O foco desse tipo de investigação não reside tanto no sujeito linguístico, naquele que pensa e usa a linguagem para expressar seus pensamentos, mas na prática da linguagem como comunicação para interação entre os seus usuários. A linguagem é, assim, segundo o filósofo alemão Jürgen Habermas, intersubjetiva, por ser empregada como forma de interação humana – tema que o autor desenvolveu em um livro importante intitulado Teoria do agir comunicativo. Esse é o caminho que vamos explorar aqui.”
(Acabo por aqui, já que já há a visibilidade ideal à nível de vontade, parece que nesse fim da para finalmente saber se há o desejo de prosseguir)
Boa leitura :)