A Beleza é Uma Ferida

A Beleza é Uma Ferida Eka Kurniawan




Resenhas - A Beleza É Uma Ferida


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fev 08/04/2021

Realismo mágico banhado em misoginia
A Beleza é uma ferida tem todos os elementos de uma grande obra que permeia o realismo mágico e quem lê não pode negar. Essa parte da construção de Eka Kurniawan é fenomenal e foi o que me fez mantê-lo como um livro bom.

Com um início curioso e atrativo começamos a conhecer Dewi Ayu, a personagem que dá origem a história. Ao longo dos capítulos vamos entrando em contato com a história de outros personagens masculinos e outras mulheres, as filhas de Dewi Ayu entre elas, além de lendas e a história da Indonésia. Do seu período de colonizada pela Holanda, ascensão e queda do comunismo, inúmeros massacres, invasão japonesa durante a Segunda Guerra Mundial entre tantos acontecimentos.

A história é bem construída e bem narrada, mas peca pelo excesso. Excesso de misoginia e excesso de construção de alguns personagens e passagens longas sobre os períodos. Há personagens femininas que são estupradas inúmeras vezes. Durante o primeiro estupro é no período da segunda guerra e você tem uma contextualização, mas os outros são apenas para mostrar o poder do patriarcado. Para mim, não havia necessidade de narrar ou mostrar isso mais de uma vez. O pior é perceber que o autor tinha consciência disso porque em outras passagens e até mesmo no início ele mostra que a pior coisa é colocar filhas mulheres no mundo por causa de homens. Além de colocar consciência em um personagem que casa com uma criança. Ele usa estupro como recurso narrativo quando não precisava porque o que ele construiu já era interessante o suficiente. Para além disso, há longas passagens sobre os períodos históricos que poderiam ser mais curtos.

A história não deixa de ser interessante, mas para mim, a construção e a misoginia tomaram um tamanho maior na minha percepção que influenciaram como eu a absorvi. Não é uma obra que eu recomendaria para quem já sofreu abuso sexual ou outros tipos de violência. Talvez para quem deseja fugir de literatura ocidental é uma boa pedida.
Vicky 17/01/2023minha estante
Resenha maravilhosa!


fev 17/01/2023minha estante
Que bom que você gostou, Victoria. Obrigado!




Jéssica - Janelas Literárias 26/05/2017

Não se enganem pela capa, "A Beleza é Uma Ferida", é um livro cru e intenso. A atmosfera fantástica, a excentricidade dos personagens e, sobretudo, a sátira nos leva imediatamente ao Sr. Garcia Marquez, mas Eka Kurniawan destoa ao acrescentar um caráter folclórico às estórias que se interlaçam ao redor da prostituta mais procurada da cidade fictícia de Halimunda e suas filhas.

Vamos acompanhar a família de Dewy Ayu , uma prostituta que volta à vida depois de 21 anos morta. Morta porque quis, escolheu a hora de morrer e de volta à vida. Daí já se pode antever a irreverência desta personagem. Extremamente sarcástica, com tiradas e respostas cortantes e engraçadas. Encara a vida com uma petulância e criatividade exuberantes.

Mas ao contrário do que insinua a sinopse, o livro não se detém tanto a Dewy Ayu, trata mais detidamente do cenário histórico e político relativo à formação da Indonésia. Isso eleva a obra, mas também dificulta o trabalho do escritor e, eventualmente, o ritmo do leitor. A leitura é dinâmica e jocosa, mas tem seus trancos. Alguns episódios se tornam um pouco maçantes.

Na maior parte do livro, acredito que o escritor conseguiu dinamizar o aspecto histórico por meio da literatura fantástica, tornando a leitura cativante e estimulante. Mas para um leitor desavisado, que intui tanto pelo título, quanto pela capa e sinopse se tratar de uma obra mais acessível e despretenciosa, o caráter histórico pode, e provavelmente será, um engodo.

De toda forma, Kurniawam obtém sucesso em concatenar as mais variadas estórias, criando um universo multifacetado sem perder a coerência.

A temática do "belo", ganha destaque central na narrativa. A beleza é o fio condutor das estórias, capaz de determinar destinos, criar e destruir. Interfere na política e nas guerras. É mãe do ódio e do amor. Afinal, a beleza é uma dádiva ou maldição? uma benção ou um fardo?

As três primeiras filhas de Dewy Ayu são surpreendentemente belas e pagam seu preço. Em sua última gestação, a prostituta pede para dar à luz a um bebê horrível e parece que o céu atende suas preces. A quarta filha, que paradoxalmente se chama "Beleza", inverte a história das três primeiras.

O sarcasmo e ironia não obscurecem os relatos de violência e brutalidade. Admiro o escritor que consegue colocar certo tipo humor em temáticas densas com originalidade, provocando um misto de sensações no leitor. Seguir a linha de leitor moralista é um trabalho muito fácil, mas não é pra isso que se faz literatura. Explorar incômodos é necessário. Eka Kurniawan parece ter aprendido bem as lições de Garcia Marquez nesse sentido.
Rafael 23/10/2017minha estante
Amei sua resenha




Rafael 23/10/2017

Sofisticado, instigante, reflexivo e cheio de humanidade
Esse é um daqueles livros dificeis de categorizar. Ele lembra obras como Cem Anos de Solidão pela literatura fantástica, por contar a história de gerações de uma família e por abordar causas sociais e políticas. Em alguns momentos você tem a impressão de ser sobre a vida de mulheres marginalizadas, a figura feminia, a fragilidade, e em outras pelas lutas sociais na política, por um mundo com menor desigualdade social e o mínimo de qualidade de vida.
Quando você acaba o livro você fica praticamente em vácuo, porque a história é cheia de referências e acontecimentos, pois precisa de muito tempo de raciocínio para entender e compreender a sua mensagem. Não é um livro de leitura rápida como os blockbusters da literatura moderna. Cada capítulo carrega a sensação de ter lido um livro inteiro devido ao tanto de informação e elementos apresentados. Mas por mais arrastado que a obra possa se tornar, vale muito à pena lê-la. É um livro que não traz tudo mastigado, mas a partir do momento que você começa a mastigá-lo você delira ao descobrir cada nuance de sabor que vão desde aos tons doces viciantes e até enjoativos, até o azedo e amargo repulsivo. É uma história que impressiona, choca e cativa pelo tanto de humanidade que apresenta.
Evelyn 27/05/2018minha estante
No momento em que terminei pensei exatamente "parece uma mistura de 100 anos de solidão com um toque de O cortiço"! Adorei a resenha ?




Luiza.Thereza 02/05/2017

A beleza é uma ferida
Ainda não sei o que é pior: ter me estourado uma vez com Resistência ou ter me estourado uma segunda vez com este livro. Lá fui eu escolher um título pela capa ao me deparar com essa maravilha de ilustração (um tanto bizarra, eu sei, mas, ainda assim, linda) e ainda possuía o bônus de me permitir conhecer um autor exótico. Então pensei cá comigo, por que não?

A Beleza é uma Ferida foi escrita em 2002 por um indonésio chamado Eka Kurniawan. A história mistura fatos reais e fictícios para contar a história de Dewi Ayu, uma mestiça indo-holandesa que levanta de seu tumulo 21 anos após ser enterrada viva.

Só que, para falar a verdade, a coisa toda é mais sobre a história da Indonésia sobre qualquer outra coisa. Quer dizer, é claro que a história do país interfere na vida de seus personagens, mas o detalhamento das escaramuças entre exércitos (legais ou não) e demais forças atuantes é cansativo.

A vida de Dewi Ayu tão pouco ajuda: presa em uma prisão japonesa, tornada prostituta por seus carcereiros (profissão que rendeu a ela fama sem igual na pequena cidade (vila?) de Halimunda, viu suas três filhas mais velhas (todas consideradas extremamente belas) se envolverem com homens nada louváveis (embora ela também não possa falar muito sobre o assunto), teve sua quarta filha quase aos cinquenta anos e foi enterrada doze dias após o parto porque "decidira que já tinha feito o bastante pelo mundo".

Fez algum sentido? Não sei você, mas eu realmente achei que não.

Apesar de ter resistido até a página 290, desisti. A Beleza é uma Ferida estava me cansando e, sinceramente, estava sendo um esforço inútil. Para todos os efeitos, aqui fica o meu aviso: cuidado com as capas dos livros: elas enganam. E muito.

site: http://www.oslivrosdebela.com/2017/05/a-beleza-e-uma-ferida-eka-kurniawan.html
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Rodrigo Coxta 07/05/2017

"Um livro singular, exótico e cru"
A Beleza é uma ferida é um romance narrado em terceira pessoa dividido e 19 capítulos num total de 462 páginas. Escrito por Eka Kurniawan, um autor indonésio que nos apresenta um pouco do misticismo e da cultura da Indonésia nessa obra singular. O livro teve lançamento em Fevereiro de 2017 pela editora José Olympio.

Dewi Ayu é uma menina holandesa de beleza incontestável que vive numa cidade chamada Halimunda, no arquipélago hoje chamado de Indonésia. Sua infância teve a normalidade interrompida quando a guerra atingiu o lugar e ela, ainda adolescente, teve que enfrentar as piores e mais improváveis situações para sobreviver. Sempre teve atitude e perseverança, vendo as dificuldades como apenas mais um obstáculo que precisava ser enfrentado com praticidade.

Quando a guerra, dominada pelos japoneses estava em seu ápice, Dewi Ayu e outras dezenas de refugiadas foram destinadas a uma casa de prostituição, um triste destino para todas, mas para ela, era a chance que precisava para sobreviver, concluindo que aquilo seria melhor que a morte. Desde então, Dewi seria uma prostituta, da adolescência até o fim de sua vida, aos 52 anos.

A protagonista teve três filhas: Alamanda, Adinda e Maya Dewi. As três são filhas de pais diferentes e desconhecidos. Todas herdaram a beleza da mãe e isso é tratado quase como uma maldição, já que os homens eram obcecados por sua beleza, os levando à loucura tanto para conquistá-las quanto para possuí-las. Os destinos das moças são marcados por violência, estupros e maldições.


Muitos anos depois, 12 dias antes de terminar sua própria morte, Dewi Ayu, já uma velha prostituta, dá à luz a sua quarta filha, a criança mais feia que a cidade de Halimunda viria, sendo considerada um demônio, tamanha a feiura de sua assustadora fisionomia. Mas para Dewi, isso era uma vingança à própria vida, que lhe deus lindas filhas mas todas com destinos amaldiçoados. A quarta filha levou o nome ironicamente de Beleza porém a maldição de Dewi não parece ter surtido o efeito desejado.

A obra é altamente singular, exótica e crua. A narrativa é fluida mas os temas abordados são fortes, os personagens estranhos e a ambientação sempre rústica. Não é um livro fácil pelo fato de a história tomar rumos altamente inesperados numa trama insana. É preciso ter o estômago forte e uma mente receptiva para aceitar cada fato explícito e inusitado que a história reserva.

A carga dramática que pensei encontrar no livro por conta dos motivos óbvios implícitos desde a capa até a sinopse foram levados a uma conclusão de que tive uma das mais inesperadas e estranhas experiências literárias. Certamente não é um livro ruim mas com certeza não é um livro simples de abraçar. Posso dizer que valeu a experiência mas não é um leitura recomendável para qualquer tipo de leitor.

site: https://estantelivrainos.blogspot.com.br/2017/05/resenha-livro-beleza-e-uma-ferida-de.html
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Poesia na Alma 12/05/2017

voltar à natureza originária
No Tao, de Lao Tse, há uma passagem sobre voltar à natureza originária para que se alcance a constância e, dessa forma, encontrar um glorioso equilíbrio entre os opostos. A beleza é uma ferida traz justamente essa ideia, a necessidade de encontrar a constância para que se retome o equilíbrio. O livro abordará exatamente o processo entre a quebra do equilíbrio, com a avó de Dewi Ayu, o caos, a história Dewi Ayu e os que a cercam, e o retorno do equilíbrio com Beleza, a mulher mais feia.

saiba mais aqui - http://www.poesianaalma.com.br/2017/05/resenha-beleza-e-uma-ferida.html
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Lê Golz 14/05/2017

Forte e estranho
A sinopse de A beleza é uma ferida, apesar de sinistra, me instigou e a capa chamou minha atenção. E não foi tão fácil imaginar como eu descreveria o livro na resenha. Aqui temos, por assim dizer, várias histórias em uma só. Primeiro vamos conhecer a estranha e bela Dewi Ayu, que levanta do túmulo após vinte e dois anos sepultada. Em certo momento do livro o autor começa a contar o passado de Dewi, de suas filhas e dos homens que passaram por sua vida. E tudo nos levará então ao motivo de Dewi Ayu ter voltado do mundo dos mortos.

"Os bebês começaram a morrer e, depois, os velhos. A doença também matou jovens mães, crianças, mocinhas - qualquer um podia morrer a qualquer momento. O terreno atrás das celas foi transformado em cemitério." (p. 73)

Devo elogiar a escrita do autor que é ótima e totalmente envolvente. Ele é bem direto com as palavras e usa e abusa até das expressões mais pesadas de algumas delas. E seu modo de escrever deixa a história ainda mais pesada do que já é. Portanto, uma observação importante: essa leitura não é para qualquer um! Além do teor histórico que traz o passado da Indonésia, com inúmeros conflitos, a ocupação japonesa, a morte de comunistas, ainda acompanhamos as histórias sombrias dos personagens fictícios, marcadas por assassinatos, suicídios, prostituição, estupros (quantos!)... Achei até algumas coisas bem absurdas como, por exemplo, o marido de uma filha de Dewi Ayu que estrupou a esposa diversas vezes, e depois de um acontecimento eles começaram a viver uma lua de mel "apaixonadamente". Como assim, gente? A capa, apesar de significativa, não revela o quanto esse livro é forte e, digamos, meio maluco!

O livro vale a pena por todo esse teor histórico sobre a Indonésia, mas também pelo foco do livro, que mostra a estranha maldição que a beleza física trouxe aos personagens. Uma beleza feminina tão reverenciada por tantos homens, mas temida por quem as têm. Eu sei que você não está entendendo nada, e terá que ler o livro para descobrir. Afinal, a graça é ler a história e interpretá-la através do título.

Em linhas gerais, A beleza é uma ferida é um livro beeem forte por tudo que já descrevi, mas pode agradar quem gosta de uma história meio macabra, com lendas, superstições, fantasmas, um pouco de História e, claro, personagens muito estranhos. Não gostei tanto do livro quanto gostaria, mas foi uma leitura diferente e não me arrependi. Leia e descubra porque Dewi Ayu voltou dos mortos!

site: https://livrosvamosdevoralos.blogspot.com.br/2017/04/resenha-beleza-e-uma-ferida.html
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@retratodaleitora 18/05/2017

Quando vi esse livro pela primeira vez, fui totalmente conquistada pela capa, tão diferente e tão bonita. Então fui logo ler a sinopse, que desenhou um livro incrível, com uma história realmente instigante. E depois de mais uma olhada na capa e uma pesquisada sobre o autor, lá fui eu ler o livro, com as expectativas elevadas. E talvez tenha sido exatamente isso que me fez gostar tão pouco da leitura.

A Beleza É Uma Ferida é um livro de realismo mágico escrito pelo autor indonésio Eka Kurniawan, o primeiro de sua nacionalidade a concorrer ao Man Booker International Prize. E foi nos contos e no folclore indonésio que ele se baseou ao escrever sua obra, que começa da seguinte forma:

"Numa tarde de fim de semana em março, Dewi Ayu levantou-se do túmulo onde estava enterrada havia 21 anos."


Resumindo, o livro tinha tudo para entrar direto para os meus favoritos; se, claro, a proposta inicial tivesse sido seguida do começo ao fim. Eu queria conhecer Dewi Ayu, sua história pessoal e a de suas filhas, e como a beleza era uma maldição que as seguia. Eu sabia que seria um livro forte, e estava preparada para isso; só não esperava que o autor fosse começar tantas histórias diferentes em um só livro. São muitos personagens e tramas que, sinceramente, poderiam ter sido cortados na metade. A história da protagonista, Dewi Ayu, é muito, muito interessante, mas foi ofuscada quase que o tempo todo por histórias maçantes e de conteúdo duvidoso.



E nesse conteúdo duvidoso eu entro falando sobre algo que foi descrito à exaustão: o estupro. Está na sinopse, como podemos ler, mas nada prepara o leitor para a frequência em que esse ato é narrado e minimamente descrito no livro, são várias! E isso me incomodou muito, sim. Sabe quando você sente que algo está ali pura e simplesmente para chocar o leitor? Não é como se, na guerra, não houvesse estupros, ou na cidade fictícia de Halimunda, ou em qualquer outra data e lugar e situação. O leitor precisa saber disso? Sim. Mas precisava descrever em detalhes, todas as várias vezes que isso ocorria? Desnecessário. O autor tem sim habilidade em sua escrita e poderia usá-la para causar desconforto no leitor de diversas formas, mas escolheu essa e, pessoalmente, foi algo que eu não engoli, de jeito nenhum. Foi exagerado, feio e desnecessário, e um dos motivos que me fizeram demorar tanto para concluir a leitura.

É um livro muito, muito forte, com muitas cenas de violência gratuita, tortura e atos de insanidade. Não tem um só personagem em toda a obra que não tenha sofrido. E as mulheres, bem, são tratadas como objetos ou endeusadas, não existe meio termo aqui.

Resenha completa no blog:

site: http://umaleitoravoraz.blogspot.com.br/2017/05/a-beleza-e-uma-ferida-de-eka-kurniawan.html
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Luciane.Gunji 19/05/2017

Primeiramente, é importante lembrar para qualquer futuro leitor que A Beleza É Uma Ferida é uma narrativa sobre a vida e a morte. Apesar da sinopse um tanto quanto cômica, a história de Dewi Ayu é de extrema sensibilidade e a personagem, citada nas orelhas do livro, quase nem aparece. O assunto mesmo é a sua vida sofrida, que se assemelha com a de muitas mulheres que conhecemos por aí. E é por isso mesmo que eu gostei tanto de Kurniawan.

Antes que você saia correndo para a primeira livraria ou loja virtual para comprá-lo, eu preciso avisá-lo que esse livro tem muitos personagens. Tanto que, assim que eu voltar para São Paulo, me proponho a fazer uma árvore genealógica dessa grande família. Aqui, temos a grande estrela, a prostituta Dewi Ayu. Antes que vocês a julguem, é importante lembrar que ela só virou prostituta por causa das guerras que estavam acontecendo em Halimunda, que foi invadida pelos japoneses e depois pelos comunistas.

Diferentemente das outras mulheres refugiadas, Dewi Ayu é linda. É uma holandesa de pele bonita, olhos claros e capaz de enlouquecer qualquer homem. Um dia, para evitar que a mãe de uma das meninas presas ficasse sem medicamentos, ela decide vender seu corpo para o capitão de um navio. A partir daí, percebe que aquilo que a natureza lhe deu é seu instrumento de trabalho, sendo uma das prostitutas mais disputadas da cidade, após a libertação de todas.

Sendo assim, era provável que engravidasse. Mesmo tão nova, a dona do maior puteiro da cidade resolve dar asilo para Dewi e todas as outras refugiadas. Em troca do valor de sua beleza, ela vende Ayu para apenas um homem por noite, a fim de evitar a manifestação de doenças sexualmente transmissíveis de forma desenfreada e também de filtrar os potenciais clientes. Ao longo dos anos, Dewi teve outras duas filhas lindas, totalizando três lindas garotas: Alamanda, Adinda e Maya Dewi, todas de pais diferentes. No entanto, quando engravidou da quarta filha, sentiu que ela não seria bem-vinda ao mundo, mesmo assim, deu à luz. Apesar de horrorosa, a caçula recebeu o nome de Beleza.

Caindo na desgraça, Dewi Ayu desiste de viver e falece 12 dias após o nascimento da última filha. Cerca de 21 anos depois, ressuscita. E o que vemos nas próximas páginas é a narrativa da mulher que fez história em Halimunda, bagunçando corações e causando muitas iras. Isso sem falar nas suas três lindas e belas filhas, que seguiram os passos da mãe e conquistaram muitos homens.

Nos outros capítulos, vemos a relação que cada homem tem com a história. Desde o Comandante Kliwon até Shodancho, que são personagens que acabam se relacionando com as filhas e até com a mãe. Quando eu disse que A Beleza É Uma Ferida era um livro bem louco, estava me referindo às relações que os personagens tem em si. O grande amor da filha mais velha se casa com a segunda filha, a terceira filha se casa com o marido da mãe, o filho de fulana se apaixona pela própria prima… Vai entender toda essa bagunça!

Mesmo assim, Kurniawan consegue aflorar a sensibilidade da obra. É tudo tão exótico que chega a ser encantador. Apesar de ser uma história marcada por estupros, assassinatos, fantasmas e incestos, o livro é um dos melhores que já li, pois são tantos mistérios relacionados entre si que é quase impossível não se prender. Mais do que tudo, existem muitas críticas políticas escondidas (e também escancaradas) que fazem a gente perceber que o que vemos na TV ou nos livros é mais do que real, nos fazendo desejar que tudo não passe de uma mera ficção. São lendas e folclores, mas, mesmo sem final feliz, eu consigo acreditar que Dewi Ayu existiu em algum lugar do mundo…

site: https://pitacosculturais.com.br/2017/05/17/a-beleza-e-uma-ferida-kurniawan-eka/
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Maria - Blog Pétalas de Liberdade 20/05/2017

Resenha para o blog Pétalas de Liberdade
"Assim, ela passou o dia inteiro amarrada na cama, estuprada continuamente." (página 226)

A obra pertence à corrente literária do realismo mágico (ou realismo fantástico), e segue o mesmo estilo de "Cem Anos de Solidão", do ganhador do Prêmio Nobel Gabriel García Márquez. Enquanto Gabriel García Márquez optou por contar a saga da família Buendía em Macondo, Eka Kurniawan conta sobre a família de Dewi Ayu em Halimunda, na Indonésia.

A história começa quando a prostituta Dewi Ayu, enterrada há 21 anos, retorna à vida. Ela sai da sepultura e volta para casa, seu primeiro pensamento é na quarta filha que nasceu pouco antes de ela morrer. No decorrer da história, vamos descobrir como Dewi Ayu, uma jovem de uma rica família holandesa, se tornou prostituta, por qual motivo ela foi criada pelos avós e como foi a vida de cada uma de suas filhas; conhecemos também seus netos, casos e genros. Como pano de fundo, temos a história da Indonésia: a saída dos holandeses, guerras como a Segunda Guerra Mundial e conflitos internos entre nativos e estrangeiros, além da chegada das ideias comunistas e socialistas.

"- Pobre bebê - repetiu a parteira, saindo em busca de alguém que cuidasse dele.
- Sim, pobre bebê - concordou Dewi Ayu, mexendo-se e revirando-se na cama. - Já fiz o possível para tentar matá-la. Devia ter engolido uma granada para detoná-la na barriga. Oh, minha pobre coitadinha - os pobres coitados, como os malfeitores, não morrem tão fácil." (página 10)

Eu não posso dizer que "A Beleza é uma Ferida" é um livro ruim, pois ele é bem escrito. O que eu posso dizer é que, para mim, não foi uma leitura de que eu tenha gostado. Se eu pudesse voltar no tempo, teria pegado outro livro para ler, e não é uma obra que eu pretendo reler.

Até na metade do livro eu tive muita vontade de abandonar a leitura. Sabe quando você está lendo e sente que aquelas palavras estão te fazendo mal? Não estão te trazendo nada de bom ou que faça valer a pena continuar? E não há prazer nenhum em passar por cada capítulo? Era assim que eu me sentia ao longo da leitura. A segunda metade do livro foi um pouco mais tolerável.

Me incomodou demais ver tantas cenas de estupro e de violência. Era como se o único destino das personagens femininas fosse se submeter e abrir as pernas, enquanto os personagens masculinos, por piores que fossem, assassinos, estupradores, ainda eram vistos como homens poderosos. Dewi Ayu era uma prostituta, mas se tinha uma arma apontada para a cabeça ou não tinha a opção de recusar um cliente, estava sendo estuprada sim. Um homem mais velho, teoricamente apaixonado por uma garota que não correspondia aos seus sentimentos, achava certo se casar com ela e estuprá-la, na esperança de que um dia ela viesse a gostar dele. Uma menina inteligente e estudiosa tinha que ser casada logo para estar segura. Acreditem: um rapaz já adulto apaixonado por uma garota de oito anos é a coisa mais "pura" que vocês encontrarão nesse livro.

"Essas lutas de porcos eram muito divertidas. Os ajaks que Shodancho ainda não domesticara realmente evidenciavam enorme ferocidade no confronto com os porcos do mato. Cada porco tinha de enfrentar cinco ou seis ajaks, o que, naturalmente, não era justo, mas todo mundo queria ter certeza de que o porco morreria - não queriam um combate, mas um massacre." (página 156, "ajaks" são um tipo de cães selvagens, o que esperar de uma população que considera entretenimento ver cachorros destroçando um porco vivo?)

O fato de voltarmos no tempo para conhecer cada um dos personagens desde o seu nascimento, por exemplo, Shodancho, um dos desprezíveis genros de Dewi Ayu, além de ter muitos personagens, acabou deixando a história cansativa e lenta em alguns momentos. A parte história não ficou bem clara para mim em alguns pontos, e a origem da maldição para a família de Dewi Ayu foi algo que não me convenceu.

"- Se é verdade que um cão estuprou a minha filha - disse -, então os cães realmente herdaram o comportamento cruel dos homens." (página 412)

A capa tem uma textura meio aveludada, mais macia, na orelha está que a imagem de capa, além de uma rosa, traz uma cicatriz, para mim inicialmente parecia ser uma costura numa peça de couro. As páginas são amareladas e a diagramação é simples, com letras, margens e espaçamento de bom tamanho. Não me lembro de ter encontrado erros de revisão.

"- Não há maior maldição do que dar à luz fêmeas bonitas, num mundo de homens perversos como cães no cio." (página 11)

Eu peguei o livro para ler por gostar de me aventurar por obras de autores de países diferentes, mas não fui muito feliz na minha escolha. Pode ter leitores que amem "A Beleza é uma Ferida"? É claro que sim! Mas não recomendo para leitores que se sintam incomodados com cenas de violência gratuita e estupro. Se quiserem conhecer o realismo mágico, recomendo mesmo "Cem Anos de Solidão".

site: http://petalasdeliberdade.blogspot.com.br/2017/05/resenha-livro-beleza-e-uma-ferida-eka.html
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Suka - Pensamentos & Opiniões 08/06/2017

Esse é aquele tipo de livro que você se envolve com os personagens, com cada história contada e se sente angustiada por eles, pelo que eles passam.
Precisei para diversas vezes para respirar e depois voltar a leitura, pois é uma leitura intensa.
A história se passa em Halimunda, uma cidade fictícia da Indonésia e trará os cenários do passado conturbado dessa nação. Teremos diversos personagens e um ligado ao outro, umas das personagens é Dewi Ayu, uma bela mulher que devido as circunstâncias da vida tornou-se prostituta e a mais desejada da cidade.
Ela teve três belas filhas: Alamanda, Adinda e Maya Dewi; mas acabou engravidando pela quarta vez, ela tentou de tudo para abortar mas a menina queria muito vim ao mundo, então ela orou para que sua filha nascesse feia e a criança nasceu horrível, e a ela deu o nome de Beleza. Após alguns dias do nascimento da filha Dewi Ayu falece, retornando a vida após 21 anos.
E é partir do seu retorno que iremos conhecer sua história, bem como a de suas filhas e dos outros personagens que fazem parte dessa narrativa.
Cenários de guerra e luta pela independência, ocupação japonesa, assassinatos de comunistas farão parte dessa história.
E alguns mistérios serão desvendados no decorrer da leitura.

site: www.suka-p.blogspot.com
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Bruno1041 15/12/2017

[RESENHA] A BELEZA É UMA FERIDA
A BELEZA É UMA FERIDA conta com detalhes toda a história de Dewi Ayu, uma prostituta famosa em seu vilarejo que sofreu bastante e fez de tudo para sobreviver firme e forte. Ela nunca se deixou abalar nem quando dormiu profundamente e acabou sendo enterrada viva.
Para desespero de todos que a conheceram e para aqueles que torceram por seu fim, Dewi ressurge dos mortos 21 anos depois trazendo toda sua sabedoria pós-morte. O objetivo da estadia dela é ver como está sua última filha que nunca pôde acompanhar o crescimento.
A obra não é fácil de digerir já que mescla ficção com fatos verídicos da guerra que se sucedeu antes da Indonésia ser como ela é hoje. O autor nos mostra um território marcado por carnificinas, execuções a céu aberto e perda do direito à liberdade de ir e vir, tira os pontos das feridas que não chegaram a ser cicatrizadas e usando como elemento o folclore local aproveita para apresentar a brutalidade que o ser humano é capaz de ter para justificar qualquer ação em nome da lealdade e do amor.
Dewi foi vítima de uma sociedade que se rendeu para sobreviver e passou por profundas transformações seja cultural como territorial. Deixo claro que não foi por desejo próprio que ela acabou virando prostituta e administrando um bordel para sobreviver na fictícia Halimunda que seria um vilarejo estratégico para ligar portos importantes para os invasores japoneses.
O sentimento de choque é um carrapato que nos acompanha enquanto avançamos pelos capítulos. Não tem como A BELEZA É UMA FERIDA ser uma leitura leve, rápida e superficial para matar tempo durante uma tarde tediosa. Não. A obra do Eka Kurniawan é um prato cheio para ser digerido devagar com absorção lenta de cada informação que o autor compartilha.
A construção dos cenários e históricos pessoais dos personagens é um marco grandioso nessa obra-prima da literatura contemporânea. O cuidado do autor em traçar várias jornadas que se interligam em momentos estratégicos e revelam segredos inimagináveis evidenciam o talento inigualável desse contador indonésio de histórias. Sem sombras de dúvidas Kurniawan se tornou um dos meus favoritos, dá vontade de ler qualquer crítica que ele venha a fazer sobre "n" assuntos.
Com uma capa que traz uma tremenda subjetividade e que se interliga com o título do livro, a edição física apresenta folhas amareladas, fonte das letras medianas e capítulos longos que em nenhum momento trazem incômodo.
Um ponto negativo da obra que pode não agradar ao público de massa é o uso cru e constante de palavrões vindos da nossa protagonista Dewi. Para mim, achei normal as expressões já que no dia-a-dia tais palavras são utilizadas em peso ao meu redor, mas para aqueles que se envergonham ou acham desnecessárias as palavras fica a minha dica para passar longe desse enredo.
Recomendar essa obra é pouco. A BELEZA É UMA FERIDA é uma leitura obrigatória para todo leitor que aprecia romances com cunho histórico e apoia a literatura contemporânea independente do país de origem dos autores. Que procura reflexos a cerca da alma humana e suas barbaridades cometidas no passado que influenciam diretamente no nosso presente.

site: http://www.refugioliterario.com.br/2017/10/resenha-beleza-e-uma-ferida.html
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Lara Greco 10/06/2018

A BELEZA É UMA FERIDA Eka Kurniawan
Dewi Ayu é uma nativa descendente de holandeses cuja vida é perpassada pela turbulência dos eventos ocorridos na Indonésia em meados do século XX.
A personagem tem sua origem miscigenada marcada pela violência do colonialismo holandês e encontra na prostituição uma estratégia para driblar sua vulnerabilidade, o que acaba levando-a a ser a a mulher mais notória e poderosa da cidade fictícia de Halimunda. Essa é a história da sua vida e de sua família incomum. ?
A narrativa, semelhante às lendas, transita entre o fantástico e o sobrenatural, usando desse recurso para explicar a origem de fatos, personagens e da própria cidade fictícia Halimunda. Esse movimento de contraponto entre imaginário das lendas e a realidade (sempre muito dura) é um ponto forte do livro. O enredo é permeado pela violência avassaladora, que o escritor descreve sem meias palavras. Existem vários elementos que podem causar alguma estranheza cultural e até mesmo repulsa, como o abuso sexual, o incesto, o casamento infantil, a crueldade, o estupro, o racismo, a imposição da força através da tortura, entre outros elementos, sublinhados pela dureza da linguagem, que às vezes chega a ser escatológica.
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Mari M. 09/11/2018

Fato: A beleza É uma ferida.
AMEI!!!! Que clima diferente, que história surreal e real ao mesmo tempo, fantástica, triste, engraçada, romance de formação de uma familia. Histórico, politico, dramatico, hilario. Já viu um livro assim!? Ah tempos não encontrava quase 500 paginas em que estar lá dentro foi como sonhar acordada.
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Dani 07/09/2020

Apenas.... não curti... não recomendo...
Decepção define, nada mais
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