Cassio 20/03/2014
"Eu sou a Juventude! Sou a alegria da vida! Sou eterno e invencível."
Como um admirador tanto do texto original, como do autor brasileiro, fiquei com curiosidade de ler a obra que, com altos e baixos, deixa a desejar em alguns aspectos.
No intento de aproximar a obra às crianças brasileiras, Monteiro Lobato busca dar ao texto uma nova roupagem. O que muda, a priori, é a presença de um tom de oralidade na narrativa. Dona Benta conta a estória, sendo interrompida por questionamentos dos outros personagens. Uma estória dentro de uma estória. É interessante a proposta do autor e a maneira com que ele a põe em prática é bem satisfatória e divertida. Assim, como adaptação, o livro não decepciona.
Porém, fiquei incomodado com o relacionamento entre Emília e Tia Nastácia. O desrespeito a raça da cozinheira pela boneca é enorme, mesmo com repreensões da avó dos garotos. Há um trecho em que Dona Benta diz a boneca que Tia Nastácia é preta "só por dentro" e fiquei me perguntando o que ela queria dizer com isso. Se estamos nos referindo a afrodescendentes, não levamos em consideração apenas a cor, mas crenças, linguagem... Me parece que a personagem está tentando reduzir o problema apenas à pigmentação da pele, o que não é verdade. Além desse momento, pode-se notar outros em que a obra é um pouco tendenciosa.
Apesar disso, toda a magia do romance de Barrie não perde o seu brilho e a estória ganha um gostinho especial com a narrativa de Dona Benta.