Hitler e Sua Tropa de Choque

Hitler e Sua Tropa de Choque J. Fagundes




Resenhas - Hitler e Sua Tropa de Choque


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joao.vitor. 14/01/2023

Hitler e sua Tropa de Choque
“Hitler e sua Tropa de Choque – Os militares da linha de frente: cruéis, sanguinários, implacáveis” é uma obra histórica de não ficção do escritor brasileiro J. Fagundes e foi publicada em 2017 pela editora Discovery Publicações. Com cerca de 81 páginas, é estruturada em oito capítulos, sendo acrescida de um prefácio em que o autor sintetiza a atuação do ditador Adolf Hitler (1889-1945) na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e o impacto que a sua personalidade resultou no povo alemão, e sobretudo, nos generais nazistas.

A princípio, quanto aos aspectos técnicos, o livro conta com uma diagramação regular. As margens e espaçamentos são satisfatórios (ainda que existam algumas incorreções ao longo do texto), e a fonte é simples, mas bem visível, facilitando a leitura. Sobre as ilustrações utilizadas, embora haja uma interessante diversidade delas, confesso que esperava uma organização mais apropriada, pois não estão devidamente legendadas e referenciadas. Outrossim, a falta de notas de rodapé ao longo dos textos é incômoda; a sua presença seria útil para esclarecer termos desconhecidos ao leitor sem conhecimento prévio do tema ou adicionar outros comentários adicionais, por exemplo; tal como as referências bibliográficas, que não foram inseridas na obra, distanciando-se do padrão obedecido. Infelizmente, tais fatos não colaboram para uma leitura mais informativa ou dinâmica, e tampouco garantem maior credibilidade ao autor e à editora.

É preciso ressaltar que cada um dos oito capítulos do livro é destinado a explicações acerca de um militar. Porém, resolvi destacar, brevemente, sobre duas figuras históricas meritórias, ambas promovidas com a patente de Feldmarschall (general marechal de campo) e que me despertaram uma singular curiosidade: Erwin Rommel e Friedrich von Paulus.

Militar de linha de frente, Erwin Rommel (1891-1944) foi notável por seu carisma, atenção e eficiência ao dever. Conhecido pela alcunha de "Cavaleiro do Apocalipse" e "Raposa do Deserto", ele foi um dos heróis mais populares do Terceiro Reich, e também publicou uma obra chamada "Ataques de Infantaria" (1925), na qual ensina táticas militares de combate. O livro se tornou uma espécie de best-seller na Alemanha em virtude da experiência profissional do autor advinda das batalhas.

Uma das maiores vitórias militares de Rommel se deu em campanha na África do Norte, em 1941, quando ele chefiou a Afrika Korps, uma divisão de tanques nazista. Seu destacamento produziu tamanha ofensiva, que as tropas britânicas se viram obrigadas a evacuar. Nesse sentido, é oportuno afirmar que, embora fosse admirador de Hitler, os soldados capturados pelo marechal teriam sido tratados com humanidade, a despeito da natureza cruel daquele.

Contudo, não obstante os seus inúmeros sucessos no campo de batalha, o destino reservaria um penoso e abrupto fim à vida do Feldmarschall. Com o desenrolar da guerra, Rommel, embora sempre fiel a Hitler, começou a perceber que as estratégias do seu Führer se tornavam cada vez mais ambiciosas e incongruentes com o contexto da guerra, e, portanto, o marechal alemão procurava dissuadir as decisões do chefe que poderiam levar à derrota de sua nação. Porém, foi justamente esta atitude que se tornou incisiva para o ditador e outros generais de alto escalão suspeitarem de uma suposta conspiração de Rommel, a qual nunca foi provada. Ao final, Hitler, convencido de que ele era um traidor, concedeu-o apenas duas possiblidades de pena, ser levado a julgamento ou cometer suicídio. O militar foi forçado a escolher esta última, pois as autoridades anteriormente haviam-lhe garantido que, dessa forma, ele deixaria a sua família a salvo.

Nas palavras de J. Fagundes, com esta tomada de decisão, “Hitler eliminara [...] a única personalidade da Alemanha que gozava de suficiente estima popular e militar para tentar pôr um fim à guerra” (FAGUNDES, 2017, p. 32). Seria, contudo, um passo mais perto para a derrocada final do Terceiro Reich.

Outro que me despertou a atenção foi Friedrich von Paulus (1890-1957), controverso ator no teatro de guerra. Também oficial do Estado-Maior, assim como seu compatriota supracitado, Paulus foi considerado um comandante hábil no campo de batalha e uma das figuras centrais na célebre “Batalha de Stalingrado” (agosto de 1942 a fevereiro de 1943), esta que seria tão decisiva para os rumos da Segunda Guerra.

Na cidade de Stalingrado, hoje Volvogrado, as tropas germânicas sob o comando do general Paulus, apesar dos notáveis avanços de suas máquinas de guerra móveis, sofriam com as baixas, além de enfrentarem problemas de abastecimento. Com o desdobramento do conflito, os ataques passaram a ser corpo a corpo, e a deficiência do exército alemão se fez ainda mais intensa; mas as ordens de Hitler eram claras: resistência a qualquer custo (FAGUNDES, 2017, p. 57). Todavia, Paulus (que pouco antes havia sido promovido a marechal de campo, como uma espécie de incentivo à luta) compreendeu que a derrota era inevitável, e num dos raros casos à época, optou pela rendição aos soviéticos, renunciando ao comando do Führer.

Sobre isto, entretanto, cabe um breve adendo – infelizmente, o autor do livro não aborda a capitulação de Paulus e seu regimento à força militar inimiga, tal como a vindoura e ativa participação do primeiro na coalização antinazista fundada em 1943 pela União Soviética, o Comitê Nacional por uma Alemanha Livre, enquanto era prisioneiro de guerra. Ademais, a obra não explora a atuação do ex-Feldmarschall nos Julgamentos de Nuremberg (1945-1946), cujos depoimentos foram capitais para a investigação minuciosa acerca dos crimes executados pelos demais réus nazistas.

Da mesma forma, o autor poderia ter oferecido análises sobre a atuação militar de demais oficiais nazistas da “tropa de choque” e que tiveram significativa importância histórica, como os marechais Hans Guderian (1888-1954), Erich von Manstein (1887-1973), Albrecht Kesselring (1885-1960) e Gerd von Rundstedt (1875-1953).

É importante ter presente que não há de se defender os militares nazistas supracitados ou outros, que sob o seu comando, ceifaram direta ou indiretamente incontáveis vidas, sendo de fato verdadeiros criminosos. Mas as técnicas de combate nas operações militares, muitas até hoje ensinadas em instituições militares de ensino superior, ou mesmo a sua constatável discordância com o regime nacional-socialista alemão (ainda que tardia para alguns, reconheçamos), são objetos de mui interesse.

Nessa senda, é necessário, pois, acentuar o pensamento de J. Fagundes: “os mais altos e graduados líderes das forças armadas de Hitler eram homens decentes, profissionais honestos, que foram gradualmente seduzidos pelo falso patriotismo e a manipulação astuciosa por parte de Hitler [...]” (FAGUNDES, 2011, p. 14). Diante dessas considerações, somos convidados a nos indagar o porquê a complexa personalidade de Adolf Hitler exercia tamanho fascínio no povo alemão e nos oficiais que a ele estavam subordinados, a ponto de muitos deles cometerem atos cruéis, num viés adverso aos valores tradicionais cultivados na pré-ascensão do ditador ao poder. E na atual conjuntura político-social global, é inegável que o magnetismo hitlerista alcança parcela significativa de indivíduos, com um número crescente de jovens, por exemplo. É lastimável, mas acredito que muitas pessoas, apesar de decentes e honestas, têm o seu comportamento induzido e conduzido por uma visão subvertida de ordem social, sob o estímulo ideológico, ainda que dissimulado, da ideologia nazi-fascista outrora vigente.

De forma geral, pode-se concluir que “Hitler e sua Tropa de Choque” apresenta carência de elementos que poderiam tornar a obra melhor avaliada, mas a sua linguagem concisa e dinâmica tornam a experiência de leitura proveitosa, sendo um convite especial para leitores entusiastas de História.
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Adria47 13/07/2022

Um livro curto, ótimo a leitura e de fácil compreensão, um ótimo livro, para quem gosta do tema, assim como eu. Indico.
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