Fabio.Nunes 03/06/2024
Marx: da ágora ao mercado ? José Manuel Bermudo
Editora: Salvat, 2015
Eis mais um excelente livro da Coleção Pensadores da Salvat (já quero todos!).
Provavelmente o filósofo/economista mais falado da história, amado e odiado por grupos com fortes comportamentos de seita, mas que, se estudado adequadamente, tem muito a nos auxiliar na compreensão da realidade. Pelo menos é um dos filósofos, a exemplo de alguns poucos outros, que nos dá aquela sacudida no pensamento.
?A história, quase sempre escrita pelos vencedores, costuma associar o que considera 'doutrinas do mal' a indivíduos particulares.
(...)
E Marx, que só aspirava à emancipação dos homens (uma emancipação tanto dos deuses do céu como desse atraente deus da terra que se chama 'Capital'), passaria a engrossar o grupo de indivíduos que, sendo realmente históricos, no sentido de cosmopolitas, dado que fizeram avançar o 'espírito universal', foram indexados pela própria história como perpetradores do mal.
(...)
Só o fanatismo pode negar hoje a Marx sua grandeza como pensador e como dirigente político.?
(Bermudo)
E a despeito do que muito se fala sobre sua grande obra (O Capital), com seus conceitos complexos, o que mais me interessa é sua visão de mundo.
Marx foca seu olhar na ideia de emancipação humana, e entende que sua ausência é causada pela alienação. Esta, diz ele, não seria fruto de ignorância, erro ou ilusão ? coisas que poderiam ser combatidas apenas com a verdade filosófica; mas sim fruto das condições da existência, da vida material. Assim, atacar a alienação seria ter de lutar contra as bases materiais que a geram (transformação da sociedade civil), unindo à teoria crítica uma arma material. Há aqui claramente uma revolução do pensamento, ao inverter a relação entre causas e efeitos.
?Mas os filósofos não brotam da terra como cogumelos; são fruto do seu tempo, do seu mundo, do seu povo, cuja sabedoria mais sutil, preciosa e invisível circula nas ideias filosóficas. É o mesmo espírito que constrói os sistemas filosóficos no cérebro dos filósofos e os caminhos de ferro com as mãos dos trabalhadores. A filosofia não é exterior ao mundo, do mesmo modo que o cérebro não está fora do homem por não se encontrar no estômago.?
(Marx)
Bermudo nos apresenta nessa obra ? com um texto didático e sensato ? a cronologia de vida de Marx, inclusive as muitas agruras que sofreu. E o faz apresentando em paralelo a evolução de seus conceitos, desde jovem à maturidade.
Dentre esses conceitos, ressalto o socialismo científico, o comunismo, o materialismo histórico, a luta de classes, as crises cíclicas do capitalismo, e o estopim da revolução como conclusão racional do descontentamento generalizado com essas crises.
Esta obra aborda também as críticas a: a religião, o Estado burguês em ascensão à época, a contradição existente nas Declarações dos direitos do homem e do cidadão, o papel da filosofia crítica, o hegelianismo e o individualismo da sociedade ? que ele via como um grave problema sociológico (coisa que muito me espantou para a época).
No mais, essa foi uma obra que me ajudou a entender melhor as ideias desse autor e a consolidar as críticas que possuo a diversos aspectos de sua abordagem.
Recomendo muito a quem se interessa pelo tema.