Pandora 28/07/2018Que livro, senhoras e senhores! Que livro!
A professora Moriguchi anuncia, no último dia de aula, que não voltará mais pra escola. Uma aluna pergunta se é por causa do que aconteceu com a filha dela. Ela responde que é por causa de como aquilo aconteceu com a filha dela. Este é só o início de uma cadeia de acontecimentos desastrosos.
Contado sob a ótica de cinco pessoas, Confissões é um livro tenso, eletrizante, perturbador e que levanta muitas questões sobre o comportamento humano.
A sociedade japonesa, apesar de todas as influências que possa ter recebido ao longo dos tempos, ainda é uma sociedade muito tradicional, que preza pela ética, o bom comportamento, o trabalho incessante, a obediência, o respeito à hierarquia e às tradições, o coletivismo. Falhar, fracassar, não corresponder às expectativas, passar por uma humilhação são algumas das questões que angustiam os japoneses, que os pressionam, os deixam ansiosos e estressados a níveis muitas vezes alarmantes. E as consequências dessa tensão podem ser fatalmente perigosas.
Olhando para a moça com cara de anjo que ilustra a orelha deste livro, não dá pra imaginar as transgressões, as insanidades, as maldades que passaram por sua cabeça para escrever este livro. Assim como não é possível adivinhar o que se passa pela cabeça de ninguém.
Eu fui envolvida por cada personagem e cada narrativa deste livro e só não dou cinco estrelas porque nos dois últimos capítulos muitas coisas ficaram sem uma explicação.
“(...) é muito fácil se unir a alguém que já começou a condenar outra pessoa. A gente não precisa nem sair do lugar, é só dizer: “eu também acho!” Mas não é só isso: a gente acaba se sentindo bem quando atormenta uma pessoa má - às vezes até ajuda a aliviar o estresse. E depois da primeira vez, a gente pode ter vontade de sentir aquilo de novo - achar que precisa acusar alguém só para sentir de novo aquele frisson. Na primeira vez, a gente realmente acusa algum canalha, mas, na segunda vez, talvez a gente comece a usar da criatividade para acusar quem não merece.”