Kafka à beira-mar

Kafka à beira-mar Haruki Murakami




Resenhas - Kafka à Beira-Mar


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DIRCE 21/10/2020

Mito, talento, magia , loucura e encantamento
Não tenho dúvidas que eu teria abandonado este livro se tivesse tentado lê-lo anos atrás, mas, felizmente, fiz a leitura no momento adequado e fui regiamente recompensada. A começar pelo ritmo de escrita: alucinante.
Quanto ao enredo...,Bem, quanto ao enredo, não vou me deter a ele.Vou me concentrar nas personagens e mencionar o que me vem à cabeça. No meu histórico de leitura, logo no início, eu disse que o livro se parecia com uma Caixa de Pandora. Concluída a leitura, reafirmo com ênfase essa minha comparação. Kafka à beira mar é realmente uma espécie de Caixa de Pandora. Uma Caixa de Pandora bem peculiar , pois dela , além de coisas malignas como o episódio macabro e cruel narrado no capítulo dos gatos, como o incesto (ou não), como crime e outros males que ora me fogem da memória, saem maravilhas como Nakata - meu personagem favorito e um dos protagonista mor - um idoso que , um dia, foi um menino prodígio, entretanto, infelizmente, sofreu os efeitos nocivos da guerra e tornou-se em um ser humano com intelecto, digamos...comprometido e , talvez, devido a sua inocência foi dotado de poderes especiais e seus feitos eram , no mínimo, surreais. Outro protagonista-mor ( pode haver dois protagonistas -mores (???) é o adolescente Kafka que deixa a casa paterna com o pretexto de fugir da cruel maldição edipiana proferida pelo seu pai, mas que , no meu entendimento, foi em busca da sua identidade, em busca de uma explicação para o seu "desconforto" e para os seus pensamentos eróticos, em busca do " colo materno", e, paradoxalmente, do seu crescimento. Mas como não é só com protagonistas mores que se faz um romance ( pelo menos não neste), eis que aparece a Sra Saeki, cujo sobrenome deveria ser SOLIDÃO e MELANCOLIA. Uma outra personagem que saiu da Caixa de Pandora (adorável, diga-se de passagem) foi Oshima que se definia como um androide, oi ?? Só se os androides forem providos do dom de acolher, abrigar, ajudar, enfim, Oshima seria um grande bem na vida de qualquer um.
E como, apesar dos pesares, nem tudo está perdido, como ainda temos motivos para acreditar no ser humano, surge também Hoshino, um motorista um tanto quanto ogro, que transfere a Nakata o afeto que nutria pelo avô, e torna-se seu guia e protetor .
Surgem ainda outras personagens tanto de seres vivos como de seres inanimados . De seres vivos surge Sakura, a jovem acolhedora e povoadora dos sonhos pecaminosos do jovem Kafka ;surge o menino chamado Corvo, que eu não conseguia visualizar como um menino, mas, sim, como uma ave ( Freud explica - já que dizem que ele explica tudo) ocorre, que li, algures, que na mitologia oriental há um corvo de 3 pernas que é considerado mensageiro dos céus , o que faz muito sentido essa presença na trama; surge a floresta, a qual Kafka enfrentou adentrando em seus labirintos, inicialmente, temeroso, logo a seguir desafiador.
Dos seres inanimados surge a cabana ,local do isolamento , surge a biblioteca símbolo do conhecimento cultural, entretanto, no caso de Kafka, eu a vi como uma analogia ao auto conhecimento, surgem um quadro e uma música que justificam o título do livro e surge uma pedra : PO-DE-RO-SA.
E voltando ao tal Caixa de Pandora ( que eu, atrevidamente, resolvi evocar para este meu louco comentário sobre um livro "muito louco") , preciso dizer que na mitologia , Pandora ao abrir a caixa ( na verdade, era um jarro) deixou escapar todos o males do mundo , mas felizmente ela também deixou escapar um único dom - ELA - A ESPERANÇA. E assim sendo, eu terminei esse MA-RA-VI-LHO-SO livro ESPERANÇOSA. Sim, porque as pessoas que se relacionam nesse romance não permanecem as mesmas, ela evoluem, se tornaram pessoas melhores - Kafka que o diga.
Kafka a beira mar é um livro que embora não tenha explicação para tudo, embora não seja um livro "redondinho" e sua leitura não seja a das mais fáceis, um livro onde o fantástico ou o surreal dele façam parte é um livro que tem o poder de um imã e tem uma leitura fluida.
Posso afirmar que Murakami não se valeu da Caixa de Pandora para escrever esse livro, ele se valeu, sim ,do seu talento, do seu conhecimento da sua visão do mundo para escrever esse livro, mas não descarto o tal pó do perlimpimpim porque eu fiquei enfeitiçada.
Camila.Szabo 21/10/2020minha estante
Fiquei curiosa!


Thiago275 21/10/2020minha estante
Que resenha maravilhosa! A respeito do Murakami, já li que a escrita dele é meio "maluca" e, por isso, nunca tive muito interesse no autor... Mas seu texto me instigou!


DIRCE 21/10/2020minha estante
Oi Camila. Dei uma espiada na sua estante, tenho quase certeza que é seu "número.


DIRCE 21/10/2020minha estante
Oi Thiago. Pelo seu perfil leitor não sei não. Mas penso que vale a pena um desafio


Camila.Szabo 21/10/2020minha estante
Oba!


Linharesmaia 21/10/2020minha estante
Adorei sua resenha! Kafka à beira-mar foi uma das minhas mais gratas leituras do ano e suas palavras ilustram bem o sentimento que tive ao ler cada página desse livro mágico!Obrigado por compartilhar.


DIRCE 08/11/2020minha estante
Olá! Linharesmaia, fico feliz em saber que consegui expressar o que senti durante a leitura desse livro. Só que esqueci de mencionar 2 protagonistas importantes: o mistério e o suspense. O modo de Murakami interromper a narrativa, intercalando-a , ora dedicando capítulo ao jovem Kafka, ora dedicando ao Nakata foi meio sádico.


Debora.Andrade 28/12/2020minha estante
Resenha perfeita


DIRCE 28/12/2020minha estante
Obrigada, Débora




Ana Sá 30/09/2021

Lindamente triste, e com umas doidera no meio
"Não se nasce murakamer. Torna-se murakamer"...

... E eis-me aqui, toda murakamizada!

[Já aviso que, para falar do livro, vou falar de mim!]

De tudo que podemos dizer que une as duas histórias paralelas do romance, eu colocaria a solidão como um elo importante. O jovem Kafka, de um lado, e o idoso Nakata, de outro, duas personagens que estão em busca de si, mas que recorrentemente têm suas rotas desviadas para o contato com os outros, como que para perceberem que ser sozinho não significa ser solitário.

E daí surge o ponto que eu acho muito lindo na obra: o papel da gentileza e da generosidade das pessoas estranhas. Quem, como eu, já fez peregrinação ou bicigrinação por rotas como Caminho da Fé ou Santiago de Compostela vai ver ecoar algumas memórias de viagem ao ler este livro. Lembrei, por exemplo, de um senhor que parou sua caminhonete enquanto eu caminhava com minha mochila num sol de rachar, numa estrada de terra de MG, e gritou: "Peregrina, levanta a lona aí atrás, tem laranja e banana, pode pegar! Você precisa de água aí??. 

Naquele momento, apesar de exausta, eu tinha a certeza de que comida e água não me faltavam. Mas paciência e ânimo sim, estes estavam se esgotando, pois o calor me consumia como nunca. E assim eu descobriria o quanto necessitava de um gesto de gentileza. O quanto a minha bagagem carecia de afeto. A parada atenciosa daquele senhor foi um sopro de vitalidade na minha caminhada. Daquele senhor e de tantos outros que olharam para o lado quando eu estava a cruzar seus caminhos.  

Eu sempre acreditei que, mesmo sem percebermos, existe um lugar especial reservado a pessoas estranhas na nossa existência, sobretudo na existência daqueles que seguem sozinhos. Há como uma fresta nos encaixes dos nossos tijolos, que só é preenchida quando alguém de fora deita o olhar nas nossas fendas, sabe? E este livro me levou para o lugar desse eu que aguarda, sem nem saber, pelo reparo de alguém. E ninguém nunca sabe? A gente nunca sabe o que se passa na vida do outro, nunca conhecemos o outro por completo, por isso há anos eu penso que, na dúvida, nunca devemos nos economizar. E os desconhecidos deste romance de Murakami não se economizam. Eles têm escuta ativa, olhar ativo. Achei isso tão bonito! 

São, pois, encantadores os tais ?estranhos? que cruzam as travessias de Kafka e Nakata. Oshima e Hoshino, encenando as personagens supostamente secundárias da trama, proporcionam diálogos lindos com os protagonistas e têm trajetórias muito ricas no romance. Mais do que isso: também muitas personagens quase ?terciárias?, como as que dão carona e informação para Nakata num determinado momento, passam rapidamente pelo livro, mas deixam saudades!

Este é o meu primeiro contato com Murakami, mas eu arriscaria definir sua escrita como um misto, bem-sucedido, de lirismo com surrealismo. E nesta obra, em específico, vem do surrealismo/realismo mágico o fato de eu não ter dado cinco estrelas: apesar de, no geral, ser fascinante o modo como elementos mágicos são incorporados à narrativa, em "Kafka à beira-mar? surgem personagens e situações fantasmagóricas que não me convenceram por completo, sobretudo nos capítulos finais, sobretudo nas passagens que envolvem sexo (e não sou moralista não, estou falando de coesão narrativa; achei excessivo). Senti, inclusive, que o livro poderia ter 50 páginas a menos, mesmo tendo a certeza de que esse é o tipo de romance no qual o leitor deve entrar para perder, isto é: nem tudo fará sentido, nem tudo será explicado? O leitor é um derrotado de antemão. E tudo bem? E ainda bem! Afinal, a arte nunca se comprometeu a ser uma fonte de respostas, não é?  

Estou certa de que a obra vai ficar na minha memória para sempre. Há pontos baixos no livro, mas os pontos altos são altíssimos! Recomendo muito a leitura, mas aconselho: vá disposta (o) a perder e a perder-se. É lindamente triste, tem umas doidera no meio, mas é, sobretudo, muito encantador.

Obs.: Só o Nakata já vale a leitura deste romance. Virei ?Nakater? também! Baita personagem, daquelas que a gente quer guardar em um potinho!
Julia Mendes 30/09/2021minha estante
Adorei sua resenha, Ana! ?


Joao 30/09/2021minha estante
Ana, resenha maravilhosa! A definição que você usou de lirismo com surrealismo é perfeita para Murakami. Além de que, não sei se com você foi assim, mas comigo a narrativa dele tem uma força sensorial imensa. Eu praticamente vejo as paisagens que ele narra e sinto os odores hehehe.
Recomendo pra você agora o Minha Querida Sputnik. Acho um livro lindo dele e é o meu preferido dos que li até agora do autor.


Ana Sá 30/09/2021minha estante
Obrigada, João! Com certeza vou seguir sua sugestão! ...

E sim, muito sensorial. Entrei e saí de caminhão e de floresta junto com as personagens! ?


dani 30/09/2021minha estante
Que resenha linda! Murakami com certeza vai estar na minha lista para o próximo ano.


Andre.28 04/10/2021minha estante
Nakata reizinho! Amo demais esse caráter "aberto" das coisas. Murakami é como a vida, nem sempre precisa fazer sentido. Tem coisas que não tem explicação. Eu também adoro esse caráter simbólico do cotidiano, trazendo lirismo as coisas comuns da vida. Bem vinda ao clube "Murakamer" kkk


Eveli 03/02/2022minha estante
Adorei a resenha! Descreveu muito do que senti!


Helder 19/04/2022minha estante
Que resenha linda. Volto aqui quando acabar a leitura!


Jacy.Antunes 01/05/2023minha estante
Ótima resenha, Ana. Queremos Murakami vencedor do Nobel de Literatura.




Caroline 26/02/2021

" - O mundo é uma metáfora, Kafka"
De forma genial, Murakami entrega um livro todo pautado no realismo fantástico, gênero que ele domina com maestria (como li em outra resenha, "é a habilidade que Murakami tem de ultrapassar as fronteiras da realidade e voltar carregando um tesouro").
Aqui, há uma mistura de sonhos, imaginário, realidades que se encontram, o sobrenatural, o abstrato, todos presentes de uma forma maravilhosa, digna de Haruki Murakami.
Quando comecei a ler o autor, eu tive a impressão que ele deixava ganchos, finais abertos, pontas soltas, mas esse livro me fez compreender uma coisa: a resposta está ali, o tempo todo, presente nas páginas e, principalmente, dentro de você. E, ao pensar um pouco, conclui a mesma coisa de todos os outros livros que li do autor.
Ler Murakami é extremamente fácil. A sensação é de uma leitura meditativa. A escrita do autor parece ser "costurada" de forma perfeita e as traduções são sempre impecáveis.
A construção dos personagens é complexa. Em certo ponto da leitura, parece que até o mais abstrato dos personagens é real, e isso se dá devido às diversas camadas construídas, aos pensamentos, às digressões etc. Ler várias obras do autor faz com que você comece a perceber pontos da personalidade do próprio Murakami, como o amor por gatos, pelo jazz e pela corrida.
Ele deixa um pouco de si em todos os livros e, os leitores, também deixam um pouco de si nas leituras. Algo em você muda ao final de cada livro.
dmitrivileheart 26/02/2021minha estante
exatamente ? essa parte do jazz me lembrou q eu li esse livro ouvindo uma música ambiente, como se tivesse num café movimento com jazz tocando ao fundo, melhorou demais a experiência ?


Caroline 26/02/2021minha estante
Nossa, pq eu não tive essa ideia!? ? Mas, mesmo assim, foi uma experiência maravilhosa. Provavelmente nunca vou me esquecer dessa história ??


Aryana 26/02/2021minha estante
Ok, me convenceu. Lerei ?


Caroline 26/02/2021minha estante
É maravilhoso, Aryana! Depois me conta o que achou ?


Débora 26/02/2021minha estante
Que resenha maravilhosa, Carol! Sensível, delicada e profunda...amei!
Passou da hora de eu ler Murakami!!!


Caroline 26/02/2021minha estante
Obrigada, Débora ?? não vejo a hora de você ler algo dele ?




Gleison Marques 17/12/2023

Vai implodir sua cabeça de dentro para fora
Kafka Tamura é um rapaz de 15 anos que foge da casa onde mora com o pai, em busca da mãe e da irmã que o abandonaram quando pequeno.
Nakata é um senhor que vive sozinho com uma pensão ínfima do governo, ele não sabe ler, nem escrever e também não guarda suas próprias lembranças, mas, que após um acidente na infância, ganha a habilidade falar com gatos.

Ambos personagens irão enfrentar suas próprias odisseias, que envolvem maldições e missões quase épicas, que inevitavelmente estão entrelaçadas, na busca por enfrentar um mal que percorre o mundo dos vivos e dos mortos. No caminho, contarão com a ajuda de pessoas maravilhosas, que serão essenciais nas suas jornadas e que acabarão elas mesmas envolvidas em autodescoberta e transformações.

Esse livro é um acontecimento! A história começa devagar, sem, contato, ser algo arrastado, pois, o ato criador do autor é poético e fluído. Há aqui, fortes referências às tragédias e epopeias gregas, aliadas ao realismo mágico e com o cenário idílico de uma anime do estúdio Ghibli. É fácil se perder nessa floresta de letras e ideias e ao acabar o capítulo ter a sensação de ser arrancado para a realidade opaca da vida cotidiana.

Amei caminhar com o Kafka pela floresta da cabana e com Nakata e Oshino pelas ruas do Japão, resolvendo, cada um a sua maneira, os mistérios que a vida lhes deu, mesmo que alguns permaneçam para sempre apenas mistérios.
cris 19/12/2023minha estante
Independente de não ter alcançado suas metas! Meu amor é um incrível leitor, sensível e único! Parabéns para conclusão de mais um leitura, acompanhei o processo, desde o o embarque para o Japão das aventuras do Kafka Tamura até às voltas para a realidade com asdúvidas de tantos mistérios! Ahhh sei que foi incrível ??


Gleison Marques 19/12/2023minha estante
Obrigado meu amor ? só você mesmo pra ter paciência em me acompanhar nas loucuras literárias que embarco ??


cris 19/12/2023minha estante
É um prazer ??


C Henrique 10/01/2024minha estante
Muito bom esse livro.




Henrique Fendrich 02/02/2020

Este foi o primeiro Murakami que li. Creio que entendi um pouco o fascínio que ele provoca e que faz com que ele seja atualmente um dos autores mais populares da literatura mundial.

Sua linguagem, ainda que considerando o processo de tradução, é ágil e pode-se dizer até vertiginosa. Ele não se perde em descrições excessivas e faz bom uso do recurso dos diálogos (ainda que, vez ou outra, as conversas pareçam mais eruditas do que seria verossímil).

Também joga muito bem com o recurso do suspense, o que fatalmente desperta o interesse e prende a atenção do leitor. São vários fios narrativos correndo de forma paralela e o leitor fica interessado em saber como eles poderão se entrelaçar lá na frente.

O fato de também criar situações fantásticas e absurdas é, apesar do estranhamento que pode provocar, mais um aliado na tentativa de se conquistar o leitor, já que ele passa a querer seguir adiante na leitura para verificar de que maneira tudo isso poderá ser explicado ao final (ainda que essas explicações provavelmente não sejam tão racionais e o mistério permaneça).

Entre os ingredientes favoráveis ao seu sucesso estão ainda as referências à cultura pop, uma certa dimensão filosófica, alguma dose de humor, a presença de alguma história de amor e alguns episódios de sexo. Soma-se a isso a criação de um personagem singular e marcante (não o protagonista, mas o velho Nakata).

Como eu já imaginava, o autor não resolve, ao final do livro, os mistérios em que se sustenta a trama, o que sempre dá margem para discussão e debate dos leitores, favorecendo, ainda dessa vez, o seu sucesso.

Como diz um personagem, já perto do final do livro, “Se as palavras não conseguem descrever corretamente os fatos, o melhor mesmo será não tentar explicá-los de maneira alguma”.

Parece ter sido essa a lógica seguida por Murakami neste livro. Como disse, lê-se com facilidade o livro, mas há sempre o risco de que o leitor se perca conforme os absurdos se sucedem. E mesmo esses ingredientes favoráveis podem sofrer desgaste pela extensão da obra.

Não sei até que ponto tudo isso se reproduz nos outros livros do autor, mas em alguma medida elas não devem estar restritas a “Kafka à beira-mar”.
Maria 02/02/2020minha estante
Não estão. Inclusive ainda não li "Kafka à beira mar", mas quero ler.


Henrique Fendrich 03/02/2020minha estante
Duvido que não estejam. Os outros comentários não são de um livro que destoa do resto da produção dele.


Henrique Fendrich 03/02/2020minha estante
Ah, sem falar que gatos desempenhar um papel importante na história!


Henrique Fendrich 03/02/2020minha estante
Ah, sem falar que gatos desempenham um papel importante na história!




Pappa 28/03/2010

2 em 1
Este livro de Murakami traz 2 histórias em uma: a história de Kafka Tamura, um adolescente de 15 anos que foge de casa para escapar de seu pai e uma maldição / previsão que ele fez; e a história de Nakata, um velinho que sofreu um acidente misterioso durante a infância que tirou sua habilidade de ler e escrever (e o deixou meio bobo), mas que tornou possível que conversasse com gatos e outros dons "paranormais". As história são bem distantes, porém se tocam em alguns pontos e acabam convergindo no fim.

A meu ver a história de Nakata é muito mais interessante, misteriosa e surreal que a do adolescente. Lembra mais o estilo de Murakami. A história de Kafka também é interessante, mas acredito que seja um pouco mais "convencional", se é que alguma história escrita pelo autor pode ser denominada desta maneira.

Mais uma vez os personagens são incrivelemente bem elaborados. Nakata, Kafka, Hoshino, Sra Saeki, Oshima, Coronel Sanders, são bastante convincentes (mesmo o Coronel Sanders não sendo exatamente humano). Os melhores a meu ver são Hoshino e Nakata, muito bem construidos e cativantes ao extremo. Apesar disto a obra não se iguala aos pesonagens de outros trabalhos de Murakami (a não ser pelos dois personagens que apontei) como The Wind-up Bird Chronicle e Norwegian Wood. Está na média do autor.

Apesar da história ser bastante interessante, em outras obras dele fiquei mais preso à trama, com maior curiosidade de saber o que aconteceria a seguir. No caso da história de Nakata até tive essa curiosidade, mas ela é só metade do livro. De qualquer maneira, é uma história bem montada e que, como de costume, deixa muitos pontos de interrogação para nós, os leitores, resolvermos dentro de nós mesmos.

Em resumo, o livro é excelente, como todos que li do Haruki Murakami, porém não está entre os 3 melhores do autor na minha lista (veja que todos os comparativos que tracei foram entre livros do autor, por isso o grau de exigência é muito grande, já que todos os que li são de excelente qualidade).
Marina 04/04/2010minha estante
Pois é, o Nakata pra mim tbm foi o grande destaque! Não acharia ruim se ele tivesse um livro "solo" hhehehe


Jeff 27/10/2012minha estante
Poderia citar o teu top 3 do Murakami?


Pappa 27/10/2012minha estante
Mey top 3 Murakami:
The Windup Bird Chronicle
Norwegian Wood
Hard-boiled Wonderland and the End of the World

Ainda estou lendo 1Q84, mas ele não é tão bom quanto esses 3 de qualquer forma, pelo menos por enquanto...


Jeff 27/10/2012minha estante
Valeu! Ja vão mais algum pra lista.


Igor Nascz 30/06/2014minha estante
parabén pela resenha, disse tudo. E tenho muita vontade que Hard-boiled Wonderland and the End of the World seja traduzido aqui




GilbertoOrtegaJr 12/02/2016

Kafka à beira-mar- Haruki Murakami
Entre minhas amigas, que gostam de Haruki Murakami, existe um desentendimento, ou melhor falta um consenso, sobre qual é o melhor livro do escritor japonês Haruki Murakami: uma prefere o livro com viés mais realista do autor, como Norwegian Wood, já a outra prefere o Minha querida Sputnik, e por aí vão se diversificando qual é o melhor livro produzido por ele. Dos cinco livros que li do autor até agora (a trilogia 1Q84, Norwegian Wood, e Kafka à beira mar) o melhor foi sem dúvida alguma Kafka à beira mar, então vamos ao enredo do mesmo.

Kafka Tamura é um menino que foi abandonado ainda pequeno pela mãe, ela fugiu de casa levando sua irmã, deixando ele com seu pai. E é também desde pequeno que ele ouve a seguinte profecia do seu pai: Um dia você irá matar seu pai e dormir com sua mãe. Para escapar desta profecia aos 15 anos ele decide fugir de casa, se preparando de forma física e mental para sobreviver sozinho em outra cidade, que ele conhece apenas pelo nome.

Nakata é por sua vez um personagem de sessenta anos, analfabeto, e mantido com uma pensão pelo seu irmão. Na sua infância ele era uma criança muito inteligente, mas um estranho acontecimento fez com que ele ficasse em uma condição próxima a alguém que problemas mentais em grau leve, mas apesar disso ele é capaz de falar com gatos e nas suas horas vagas ele trabalha procurando gatos perdidos.

Mesmo Kafka à beira mar ser em uma enorme parte um romance de formação (com toque sobrenatural e uma lógica bem peculiar em jogo, ou melhor em foco narrativo), eu realmente gostei da beleza com que Murakami consegue mostrar o crescimento e amadurecimento de Kafka, de como aos poucos as convicções e opiniões do personagem vão se tronando muito mais firmes e seguras, ao passo que as mesmas quando deparadas com novas situações ou outras formas de encarar a situação vão se transformando, sem medo do amadurecimento.

Também achei um prato cheio os relacionamentos que se constroem ao longo da narrativa; Kafka com Oshima e a Sra. Saeki, que em muitos aspectos me trouxe várias contribuições culturais. Ou o caso de Nakata e Hoshino, que à primeira vista parece que não dará certo, mas logo fica claro o quanto há de poder na aceitação daquilo que não podemos compreender. Estes relacionamentos existem ao longo do livro e me fazem perceber algo que muitas vezes me esqueço: de que o nosso crescimento se dá enquanto relacionamos com o outro; afinal, diálogo, respeito, e afeto de nada vale a uma pessoa sozinha.

É claro que não é só por aquilo que aprendi com o livro que o acho ótimo, mas também pela capacidade do autor de criar várias subtramas sem se tornar confuso ou dar a impressão de que está enrolando, outra coisa que gostei muito é que cada cena tem sua força própria dentro da narrativa, não é daqueles livros que dão a impressão de que tudo está em crescimento para que no fim seja apenas um arremate do grande final. Estes fatores fizeram com que eu devorasse o livro. O mundo de Murakami foi para mim uma viagem deliciosa, seja enquanto entretenimento, seja como aprendizagem. Este é um livro que vale muito a pena ser lido o quanto antes, seus personagens são cativantes e no fim fica a sensação de que houve um belo aprendizado sobre crescer, amadurecer e se relacionar com o outro.

Ainda em tempo: muita gente se queixa de algumas coisas que ficaram pendentes ou da lógica própria do autor nos detalhes sobrenaturais, acho que quem não exigiu as devidas explicações quando surgiram as primeiras estórias com toques sobrenaturais está meio atrasado para exigir um manual de funcionamento agora, ainda mais se levar em conta aquilo que Kafka nos ensina ao longo desta narrativa: a capacidade de aceitar aquilo que não podemos mudar, e sobretudo a capacidade de nos adaptarmos a isso de modo a interagir e conviver de forma harmônica.

site: https://lerateaexaustao.wordpress.com/2016/02/12/kafka-a-beira-mar-haruki-murakami/
Nanci 12/02/2016minha estante
Olha! Ainda não tinha me animado a ler Murakami...


GilbertoOrtegaJr 12/02/2016minha estante
Animou ? eu e ele nos damos bem pq nunca espero nada genial dele, só algo acima da média :)


Jenifer 12/02/2016minha estante
depois dessa resenha, fiquei com muita vontade de ler :}


Ladyce 06/05/2016minha estante
Estou à beira de ler... tenho me tentado não me desiludir com Murakami. Fiquei absolutamente encantada com a trilogia 1Q84, como você bem sabe. Depois li Norwegian Wood... completamente diferente e delicioso. Tenho medo de me desapontar como já aconteceu com outros escritores. Mas olho todos os dias para Kafka à beira mar e digo "ainda não". Talvez tenha chegado a hora. Bom saber que de todos os que você leu, este é o melhor.




Isabella 01/10/2021

Preciso dizer que esse livro foi uma experiência excepcional. Meu primeiro contato com Murakami não poderia ter sido melhor, me tornei fã do autor e muito adepta a esse realismo fantástico, que de fato, é incrível!
Uma história com muitos personagens interessantes, com tramas únicas, que se convergem (ou não rs) de formas muito singulares e surpreendentes.
Vale a pena para os leitores mais curiosos e abertos a experiências que transcendem a realidade.
sara320 15/10/2021minha estante
também foi meu primeiro contato com o murakami, e hoje não consigo largar as obras dele. é sublime, simplesmente, ótima resenha


sara320 15/10/2021minha estante
depois de ?simplesmente? era um ponto, sem querer pus vírgula kk mas o amo bastante.


Isabella 15/10/2021minha estante
Simm, já estou com várias obras na minha lista, pretendo ler tudo e logo kkkk me apaixonei real ( e obrigadaa)


nic 18/10/2021minha estante
Os livros do Murakami são mesmo apaixonantes, mas Kafka é uma experiência indescritível! Amei a resenha também




LUNII 17/05/2023

Não gostei muito.
Fiquei muito desconfortável lendo algumas coisas do livro.
Eu gostei bastante do Nakata, das coisas esquisitas e mágicas que acontecem.
Mas o plot do Kafka me decepcionou muito. Não gosto da idade que o perosnagem tem.

Eu queria muito ler para saber o final, mas não teve nd demais.
Julio.Almeida 15/06/2023minha estante
Murakami causa desconforto kkkk


LUNII 15/06/2023minha estante
N tem como se sentir confortável cm descrições de sexo entre uma mulher de 50 e adolescente de 15


LUNII 15/06/2023minha estante
Msm cm a "explicação"", eu acho mt ruim, toda a trajetória do kafka, ele sofre assédio até da irmã. Não consegui ler sem pensar o quanto isso era meio fetichista, no fim, parece q não tem proposito narrativo


Julio.Almeida 15/06/2023minha estante
indigesto né




Renata 14/11/2018

Mereço um prêmio por conseguir concluir a leitura
Nossa, pensei que esse dia não chegaria nunca!!!! Finalmente terminei de ler esse livro chato. Só lamento, o Murakami é ótimo, mas que história longa, cheia de detalhes desnecessários. Acho q ele foca tanto na forma como o kafka faz atividades físicas que esquece de dar um desfecho mais aceitável aos personagens.

Depois de 4 livros do Murakami, sinto que é hora de dar um tempo desse escritor.

Valeu, falous!!!!
Matheus de Alencar 13/01/2019minha estante
Acabei de ler Norwegian Wood e já parti para esse, mas desde o começo já estou achando muito maçante. Dos quatro que vc leu qual achou melhor?


Vinicyus B 30/01/2019minha estante
Concordo demais com vc. Acabei de acabar e enquanto estou digerindo a história me vem pensamentos como "que papo foi aquele com o surfista?".
Muitos diálogos que não acrescentam à trama e quero apenas subscrever o que vc falou sobre as alongadas e descrições físicas.


Mick 02/08/2019minha estante
Estou começando a achar que o autor só tem de bom Norwegian Wood! Kafka foi uma decepção! Terminei mesmo por força de vontande muito grande em saber se as coisas finalmente fariam sentido no final.... Acho que ganhamos o troféu resistência ao tédio após o término da leitura!




Luiz.Goulart 15/09/2021

Puxa Murakami, não foi dessa vez
Uma decepção. Já li cinco livros de Murakami e gosto de todos, mas fiquei impressionado com a chatice dessa obra. O autor arrasta uma história boba por mais de 500 páginas, em que o excessivo detalhismo e os fracos diálogos chegam a ser constrangedores. Murakami está todo ano cotadíssimo para o Nobel de Literatura com fãs pelo mundo inteiro, inclusive eu, mas aqui achei uma tortura ler o livro até o fim e mesmo o realismo fantástico que sempre me agrada nos livros de Garcia Márquez e Salman Rushdie, aqui soa forçado. Ainda não entendo como esse livro tem mais de 90% de aprovação. Suspeito fortemente que há pessoas que não têm coragem de dizer que não gostaram e querem passar a impressão de descolados. Esse cara não sou eu.
Marlo R. R. López 16/12/2021minha estante
Já li 13 livros dele. Acredite, depois do quarto livro é ladeira abaixo. Você encontra um ou outro bom, mas o resto é uma repetição sem fim dos mesmos temas, personagens e enredo, a ponto de parecer que você está lendo o mesmo livro sempre. Tive a sorte de ler o 'Kafka' no começo, então gostei muito. Mas é isso.


maitecoropos 18/01/2022minha estante
também tive dificuldade pra terminar. achei a história arrastada do meio pro final, e alguns diálogos são muito desnecessários e vazios. foi o meu primeiro contato com o murakami, e tem aspectos muito legais. mas não sei se recomedaria esse livro pra alguém.


Michela Wakami 07/04/2022minha estante
Eu detestei?




Marcianeysa 29/05/2023

Maravlihoso
Que livro sensacional! O autor viaja pela fantasia, pelo drama e por muitos temas que são tabus para sociedade ocidental.
As explicações são desnecessárias, cabe ao leitor tirar suas próprias conclusões.
Fascinante.
Julio.Almeida 15/06/2023minha estante
se nesse chove peixe tu tem q ler o q ele corre atras de um carneiro kkkkk o japa viaja mt


Marcianeysa 15/06/2023minha estante
Qual é?


Julio.Almeida 15/06/2023minha estante
caçando carneiros, é de 82; posteriomente ele lançou Dance, Dance, Dance que é meio que no mesmo "mundo" de caçando carneiros




Carolina 25/08/2023

"É assim que se constroem as grandes histórias — com viradas estonteantes."
Uma vez eu li sobre o Murakami ser um grande contador de histórias e hoje, após passar muito tempo com essa obra maravilhosa dele, posso concordar plenamente. Kafka à Beira-Mar foi o meu primeiro contato com o autor e lembro bem como foi a escolha da leitura, sendo que eu poderia muito bem ter começado por algo menor, com poucas páginas, o livro me chamou a atenção pela capa. Quem nunca, né? Sou muito fã dos livros da Alfaguara e todas as publicações do autor pela editora, tem esse capricho.

Sobre o livro me vi envolvida em vários tipos de personagens, histórias, universos até um tanto loucos e que de certa forma causa confusão. Mas com o decorrer das páginas, me peguei totalmente submersa em um mundo repleto de filosofia e cultura. O foco principal gira em torno de dois personagens: Kafka Tamura, um adolescente que resolve fugir de casa, e Satoru Nakata, um idoso que sofreu um acidente misterioso na infância que o deixou meio “ruim da cabeça”. Durante toda a leitura o enredo desses personagens são em paralelo, mas por fim descobrimos que eles estão interligados.

É uma leitura profunda e requer muita atenção. É cheio de simbolismos. Mas a escrita do Murakami é fluida, o romance me fez se apegar com vários personagens e suas particularidades. Me fez refletir com questões como guerra, alfabetização, família, amor e até a morte. O final é ainda mais surpreendente, mesmo que tenha me deixado com muitas duvidas, mas isso não tira o mérito de que é um excelente livro.
Emerson Meira 25/08/2023minha estante
Linda resenha dona Ana! ? Parece que conseguiu seu objetivo ?


Carolina 25/08/2023minha estante
O famoso: "prometi nada e entreguei tudo", hahahaha. Fico feliz que você tenha gostado, Emerson! ??


AndrAa58 25/08/2023minha estante
Espalhou a palavra ??




Karina Paidosz 15/10/2021

Acabei de finalizar a leitura e ainda sem saber o que pensar a respeito;

Já li alguns outros livros de Murakami, mas nada parecido com isso.

Achei a história bem elaborada, sem tirar nem por.

Um misto de suspense, humor, bons diálogos e boas reflexões.

A escrita de Murakami é muito gostosa e bem fluida. Fácil entendimento e seus detalhes nos transportam para qualquer lugar que lhe der na telha.

Já sinto falta desses personagens tão carismáticos ?
Ana Sá 15/10/2021minha estante
Nakata! Só amor!


Karina Paidosz 15/10/2021minha estante
Ownti fofo demais




Jow 04/08/2012

E então, você adormece. E, quando acorda, é parte de um novo mundo.
"Get up (Get up)
Come on (Come on)
Why you scared? (I'm not scared)
You'll never change what's been and gone

'Cause all of the stars
Are fading away
Just try not to worry
You'll see them some day
Take what you need
And be on your way
And stop crying your heart out"

Stop Crying Your Heart - Oasis

Quando o amor e o vazio de uma vida se encontram, só as lembranças são capazes de sanar as tristezas de um coração. Quando amamos, estamos entregando ao nosso amado uma parcela daquilo que nos é mais importante. Entregamos a ele (a) uma essência daquilo que somos, e recebemos dele uma parte daquilo que falta em nós. Amar é a busca incessante para sanar o vazio existencial que está intrínseco dentro de nós, é tornar real o mais profundo dos nossos sentimentos. É a busca de nossos olhos pelos olhos do amado, toque por toque, desejo por desejo, dúvida substituída por certeza, para enfim sentirmos concretamente que não nos falta mais nada. Muito se pensa sobre o amor de uma forma generalizante, e em alguns casos ele pode ser denominado por palavras. Mas, quando se entra na metáfora do amor particular, os labirintos por ele criados, deixariam todos os poetas de queixo caído.

Muito se ouve sobre “Kafka à beira-mar” livro de Haruki Murakami, mas pouco se sabe além de que Kafka Tamura é um jovem de quinze anos que foge de casa após se dar conta de que a maldição lançada pelo seu pai está perto (“um dia você irá matar seu pai e dormir com sua mãe e sua irmã” – sim, uma profecia de Édipo já abre o romance, ou seja, é preciso estar atento às metáforas, por mais evidente que elas sejam). Ele só pode confiar no seu amigo, o Menino Corvo, nada mais do que seu alter-ego kafkiano. Na outra extremidade da obra temos Satoru Nakata, um senhor de setenta anos que perdeu habilidades básicas – para não dizer que perdeu totalmente suas faculdades mentais – após um incidente durante a sua infância, porém ele adquiriu o dom de conversar com gatos. Conversas essas que começam como que entre dois desconhecidos, Nakata sempre fala sobre o tempo antes de criar uma certa intimidade com os felinos que conhece.

As histórias dos personagens são contadas em separado, em cada capítulo conhecemos um pouco mais da trajetória de cada um, contudo, uma das grandes virtudes desse romance é instigar-nos a querer a qualquer custo que as duas se cruzem em algum momento, mas caso esse pequeno evento aconteça ele pode não ser mais importante do que o desfecho das tragédias de Kafka e Nakata. Kafka “consegue” se libertar fisicamente da sombra de seu pai, mas a sombra de seu pai não desaparece por inteiro. Muitas vezes ele parece encontrar sua mãe ou sua irmã, grande parte das vezes se sente atraído por essas desconhecidas, que poderiam concretizar sua maldição, fazendo-o se afastar antes mesmo de um contato físico. Kafka também encontrará um sentido sobre a vida e o viver, sobre a idade e sobre o tempo, onde na experiência do se entregar ao amor ele poderia não envelhecer, mas também poderia deixar de viver.

Em alguns capítulos, o leitor tentará conectar pontos, mas em nenhum momento Murakami deixa especificado se houve, de fato, aquilo que foi narrado – a resposta quase de um monge budista chega aos seus ouvidos: “você sabe a resposta”. Mas e os leitores? Tem consciência de que muitos dos arcos deixados em aberto pelo autor são para mera ilustração de que realidade e fantasia podem se misturar? E se não estivermos atentos podemos acreditar mais numa loucura, nas fantasias apresentadas do cotidiano, do que naquilo que julgamos ser real. Que os sonhos podem tornar-se realidades, como os sonhos de estupro e assassinato, o subconsciente de Kafka agindo. Como tudo acontece naturalmente no livro, quem poderá julgar em que parte somos vítimas de uma brincadeira da mente criativa do escritor.

O feito extraordinário de Murakami é escrever com simplicidade, em muitas sentenças somos tragados por discussões pontuais sobre a alma e a salvação, mas os clichês somados às referências pop transformam “Kafka à beira-mar” quase num folclore contado por alguém que um dia, enquanto bebia num bar, viu Johnnie Walker sair da garrafa de 12 anos e falar com ele sobre caçadas sádicas a felinos domésticos com sua flauta – de onde surgirá uma ótima sequência digna dos melhores Westerns. Ou podemos acreditar que o velho do KFC na verdade se transformou em uma grande marca capitalista para ser um ícone do abstrato. Ainda assim, Nakata exibe outras habilidades que são mostradas ao longo do livro que dão tons bíblicos as tempestades que ocorrem nas regiões por onde ele passa. Com tantas referências, homenagens e misturas – os tons bíblicos, o sci-fi, a mitologia grega, a filosofia de Platão – é impossível se referir a “Kafka à beira-mar” como um livro sobre histórias paralelas entre a entrada na vida adulta e o ápice da velhice. Os simbolismos e seus significados para explicar o que são todos os sonhos do jovem Kafka ou sobre a busca implacável de Nakata são meras ilustrações para duas das maiores forças no romance: o amor (com forte presença do sexo) e o vazio – os dois se complementam e se separam e curiosamente há um personagem em todas as tramas que consegue encontrar tudo em si mesmo.

Humor ou tragédia, não importa qual será a visão de cada leitor sobre “Kafka à beira-mar”, tantos podem gostar pelas tragédias, outros pela comédia sádica, mas será muito difícil escapar da inércia que Murakami envolve seus leitores. O escritor cria a realidade através de suas fantasias para assim explicar as bases da vida humana e seus questionamentos ignorados desde que a modernidade e a realidade se tornaram mais importantes.
Fran Kotipelto 17/08/2012minha estante
Curiosa, muito curiosa para ler esse livro. Suas resenhas estão cada vez melhores. Show!!


19/01/2018minha estante
eu gostei da sua resenha, mas eu achei que tem muito spoiler




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