Helder 13/10/2018Panfletos e BandeirasSabe quando você termina um livro que achou bom, mas fica com aquela sensação de que ele podia ser muito melhor e que algo ali se perdeu? Este aqui é um bom exemplo disso.
Talvez eu não seja o publico alvo deste livro, ou alguns podem me acusar de viver numa bolha, pois com certeza tudo o que é descrito aqui existe, e muitas mulheres no fundo sonham em ter as atitudes de Alex. Eu concordo em partes com esta afirmação. Mas na verdade eu acho que este livro não traz nenhuma revolução nem evolução para as mulheres, e se não for lido com certo cuidado, pode inclusive sair ativando gatilhos errados.
A (R) Evolução das Mulheres possui 3 narradores um pouco estereotipados. Alex, a esquisita. FP, a fofa. E Jack, o Bad Boy.
Diferente do que vem escrito na sinopse, até a metade parece um livro adolescente com uma estória estilo Malhação e seus estereótipos. FP, a garota descolada que tenta fugir do perfil que lhe atribuem por ser a Filha do Pastor, perdeu o namorado para a gostosa da escola chamada Branley, que trai este novo namorado com Jack, o garanhão da escola, que no fundo é muito inteligente e de repente se apaixona perdidamente pela misteriosa Alex e decide mudar de atitudes por amor.
Mas cercando esta estória existe um clima de suspense no ar, que faz com que o leitor continue preso ao texto. O livro inicia com os moradores da cidade encontrando pedaços do corpo da irmã de Alex na floresta. Com o tempo, o assassino é descoberto, mas ele também é assassinado de uma maneira cruel. Os capítulos são curtos e algo nos sinaliza: Vai dar merda!
E é o que acontece quando todos vão a uma festa em uma antiga igreja. Ali a autora nos mostra aquilo que já vinha nos preparando. Ali descobrimos que a personagem de Alex esconde uma característica muito forte.
“E agora estou acordada, desviando dos caminhos que havia criado para me manter estável. Estou fora da jaula, acordada e com medo de não conseguir voltar para dentro. Não são as ovelhas que me atiçam, mas os outros lobos. Quero correr com eles, para poder cortar sua garganta quando ameaçarem minha matilha. Mas não posso voltar para o meio das ovelhas com sangue nos dentes. Elas vão se afastar de mim”
Alex não consegue ver uma injustiça causada por um homem em relação a uma mulher, seja qualquer tipo de injustiça e o livro mostra diversos tipos. Estupro, pedofilia, objetificação da mulher, etc. Alex não consegue se acalmar. Ela precisa cortar o pescoço dos lobos que ameaçam as ovelhas.
Neste ponto o livro dá uma evoluída, deixando de ser um romance adolescente e se tornando um thriller que nos faz querer virar as paginas. Mas também é neste ponto que ele passa a demonstrar diversos sinais de perigo. Como thriller é bem eficaz, mas o problema é que fica claro o tempo todo que a autora quer passar uma mensagem, mas infelizmente esta mensagem não consegue ficar orgânica na estória, então em muitos momentos parece que a autora está levantando bandeiras ou nos entregando panfletos, que dizem que os homens se aproveitam das mulheres e que elas devem se vingar.
E é ai que me acendeu um alarme e a autora acabou me afastando um pouco da estória. Será que a autora não está generalizando demais?
Sou homem e não vesti a carapuça. Como disse, posso ser acusado de viver numa bolha, mas eu não acho que as mulheres devam viver tensas e prontas para um ataque. Acredito que existem Homens e homens, e me incluo no primeiro grupo com H maiúsculo, e ouso colocar diversos amigos neste grupo também.
E para provar sua teoria e levantar sua bandeira a autora ainda volta a abordar estereótipos e acaba criando um final que não me convenceu muito. Alex é literalmente um lobo em pele de cordeiro, e a intenção da autora é transforma-la de justiceira em uma mártir, mas para mim só ficou a imagem de uma menina desajustada que não consegue lidar com a realidade ao seu redor. Já tive mais empatia por outros psicopatas.
Imagino que muitos dirão que esta é uma visão machista do livro e que talvez eu mereça receber uma lição de Alex, mas acredito que mulheres, e principalmente mulheres mais novas vão gostar mais da estória e aceitar mais as bandeiras levantadas.
Em tempos de Bolsonaros, não deixa de ser uma leitura interessante, mas ouso dizer que Bolsonaro aceitaria a premissa do livro melhor do que eu.
Eu ainda voto no amor e no dialogo.