Jonathan Soares 17/01/2020Antes de propor uma revolução, pague suas contasNa tentativa de antecipar o que os próximos 90 minutos me reservariam, comecei a leitura com a expectativa de encontrar no texto um relato suscinto e meramente descritivo da vida e obra de Marx (algo presumível pela proposta e o tamanho do livro, um resumo do legado de um filósofo ilustrado na capa). No entanto, me surpreendi ao encontrar uma análise crítica do pensamento marxista que não deixa dúvidas sobre a impressão do autor sobre o trabalho do filósofo. Não que isso seja problemático, mas o livro está longe de se bastar, como eu esperava, na apresentação isenta de dados biográficos. O autor dá os seus dois centavos ao invés de simplesmente deixar essas conclusões por conta do leitor.
Se você, como eu, está engatinhando nos estudos sobre comunismo, não tenha a pretensão ambiciosa de sair dessa breve leitura com repertório mínimo para responder à pergunta de um milhão de dólares: o marxismo é a solução definitiva para reorganizar nossa sociedade desigual ou apenas uma utopia obsoleta vencida pelo tempo? O escritor já escolheu um lado e seria fácil para nós, leigos no assunto, reproduzir suas conclusões como papagaios de pirata.
Num tom parecido com o dos programas de fofoca na TV aberta vespertina, o livro nos mostra que Marx foi uma figura e tanto: cheio de vícios e virtudes, um ser humano bastante controverso, assim como sua vida errante. Ao final da leitura, o que me deixou intrigado foi descobrir que Marx ambicionava abarcar com suas proposições, numa tacada só, campos diversos como economia, ciência política, sociologia, história e filosofia. Ele buscou propor uma nova forma de olhar para vários aspectos da sociedade partindo da uma investigação sobre desigualdade, poder, produção e trabalho. Certamente por isso seu pensamento é tão controverso e atravessa, ainda nos nossos dias, várias áreas do conhecimento.