z..... 01/09/2018
Leitura com histórias e curiosidades musicais. Registre-se que é extremamente subjetiva, construindo-se em memórias e isso é um fator limitante ao objetivo de guia, ao destacar sobretudo a visão do autor. Por conta disso, polêmicas não faltam.
Algo que definitivamente não curti foi a estética enrolada no registro. Que coisa chata! Metida a parnasiano do século 21, em metáforas e neologismos cansativos, dignos de um professor Astromar ou Odorico Paraguaçu (saca quem tem memória dos anos 70 e 80). Felizmente, a verborragia não chega à metade do livro, com o texto tornando-se mais atrativo.
Além da década de 1980, abordada ano por ano em certas particularidades, o autor também destacou aspectos importantes do final dos 70 e início dos 90.
No que se refere ao final dos anos 70, por exemplo, contou o fracasso de sua banda Vímana (integrada também por Lulu Santos e Ritche), onde o rock progressivo que privilegiavam perdeu espaço para a chegada do punk e sua estética diferenciada, como seria a nova década.
Em relação aos primeiros anos da década de 90, irônico como um acontecimento que o encolerizou e levou a ter opiniões 'especiais' sobre os autores, reflete a mesma postura que também exercitou ao longo de suas opiniões. O autor não omite suas visões, ditas em tom ácido. Mas daí, transformar em palavras como 'múmia do Roberto Carlos', 'aberração artística da Maria Betânia' e 'vontade de vomitar quando ouviu tal música' (não vou registrar qual) é uma opinião muito chula, de mal gosto, agressiva e reacionária sem coerência - como fizeram os que lhe atiraram latas na cabeça quando tentou se apresentar no Rock in Rio de 1991 e os classificou de babacas...
Não concordo com a agressividade na opinião, mas tentei entender. Seria fruto de insatisfação e reação à percepção idólatra de considerarem certas coisas em maior destaque na música, como se fossem donos e padrão da estética, tendo privilégios, como caciques, mas que considerava-os ultrapassados ou pouco instigantes, oposto ao que o seduzia nas inovações da nova década. Por isso alguns, por desgosto e aversão musical, se transformaram em verdadeiros Judas no Sábado de Aleluia, como o Chico Buarque e Caetano Veloso. E haja lata na cabeça deles, em várias partes do livro...
Curiosidades tem muitas e posso registrar a origem do nome da Blitz como referência às turnês que o Police faria no Brasil (sugestão do autor); a informação de que a música Realce, de Gilberto Gil, refere-se à cocaína (Realce é a própria); a opinião sobre os três principais poetas roqueiros da década (Renato Russo, Cazuza e Júlio Barroso); a nefasta política do jabá nas rádios; o desentendimento com Herbert Vianna (superado) e particularidades diversas sobre bandas, parcerias e outras histórias desse universo.
A opinião do autor limitou muita coisa, como referências mais específicas ao primeiro Rock in Rio (brevemente desprestigiado por razões não muito explícitas, talvez no descaso aos músicos brasileiros) e mídias que, gostando-se ou não, foram importantes vitrines para o cenário musical em construção (estou me referindo ao programa do Chacrinha). Zoeira total, mas vai dizer que não expôs ao conhecimento das massas muita coisa... Não merecia uma referência? Assistia e conheci muitas bandas através dele.
Enfim, instiga opinião e, concordando ou não com os informes, a leitura foi envolvente, principalmente por ter vivido aquela década...