spoiler visualizarPaula Brindeiro 09/06/2023
Quotes do livro
"Acho que você superestima a maturidade dos adultos. [...]. Essa fatia da verdade, servida na última hora, acabou se tornando um novo capítulo da minha vida adulta, o capítulo em que entendi que a idade necessariamente não carrega nada consigo, exceto a si mesma. O resto é opcional." (página 27)
"Sabíamos que alguma coisa, talvez tudo, estava prestes a desmoronar. Esperávamos que não fosse a gente." (página 37)
"É claro que os Oppens brigavam e magoavam um ao outro de vez em quando, você disse quando lhe contei sobre minha pesquisa. Provavelmente só não deixavam nada público, por respeito e por amor." (página 41)
"ele nasceu, eu me desfiz - como se eu nunca / fosse existir, nunca tivesse nascido. // Dois anos depois oblitero-me de novo / tendo outro filho [...] por dois anos, não existo aqui" (página 43)
"Foi preciso tempo e esforço, mas acabei aprendendo a parar de falar para me tornar (personificar, na verdade) uma observadora. Essa personificação me fez escrever muita coisa na margem dos meus cadernos - marginália que depois garimpei para criar poemas." (página 54)
"Saia da gaiola na qual você se encontra, seja lá qual for." (página 62)
"o que é insustentável é a oposição binária entre normativo e transgressor, junto com a exigência de que toda e qualquer pessoa viva uma vida que seja uma coisa só." (página 83)
"O futurismo reprodutor não precisa de mais discípulos. Mas se entregar ao apelo punk do "no future" também não basta, como se tudo que nos restasse fosse sentar e observar, enquanto os injustificadamente ricos e gananciosos estraçalham nossa economia, nosso clima e nosso planeta, vociferando o tempo todo o quanto as baratas aumentas são sortudas em catar as migalhas que caem do seu banquete. Fodam-se eles, eu digo." (página 85)
"Por dentro, éramos dois seres humanos passando por transformações um ao lado do outro, testemunhas tácitas um do outro. Em outras palavras, estávamos envelhecendo." (página 92)
"Meus seios ficaram doloridos por mais de um ano e embora a dor tenha passado, parece que eles pertencem a outra pessoa (e, em certo sentido, como ainda estou amamentando, pertencem)." (página 96)
"Por meio da gravidez, tive meu primeiro encontro prolongado com a vacilante, a lenta, a exausta, a incapaz. Sempre achei que dar à luz faria com que me sentisse vasta e invencível, como o fisting. Mas mesmo agora, dois anos depois, sinto minhas entranhas muito mais estremecidas do que plenas. E já quase me conformei com a ideia de que essa sensação veio para ficar, que agora cabe a mim - a nós - lidar com essa susceptibilidade." (página 96)
"Acho que precisei lamentar alguma coisa - a fantasia de uma filha feminista, a fantasia de uma eu em miniatura. Alguém cujo cabelo eu poderia escovar, alguém que seria minha aliada mulher numa casa ocupada por um adorável terrier, meu enteado bonito e vaidoso, e uma garbosa butch que toma T." (página 97)
"A modo de introdução, ela disse que tinha começado a fazer terapia porque queria ser mais feliz. Ouvir uma teórica tão influente admitir uma coisa dessas mudou minha vida." (página 122)
"As pessoas dizem que as mulheres se esquecem da dor do parto graças a uma amnésia dada por Deus, o que mantém a reprodução da espécie. Mas não é bem assim - afinal, qual o propósito de a dor ser "memorável"? Ou estamos com dor ou não estamos. Além disso, não é da dor que a gente se esquece, mas sim do toque da morte." (página 146)
"Sei que continuamos aqui, ninguém sabe até quando, transbordando nosso afeto, canção que nunca termina." (página 156)