spoiler visualizarrafazaakar 15/04/2020
OS GAY ELES NÃO TEM UM MINUTO DE FELICIDADE :?(
#resenha - ?Lembra A Vez? (Adam Silvera, 2015) #19
Ler qualquer coisa do Adam é incrivelmente assustador e inspirador ao mesmo tempo. Esse é o seu livro de estreia, publicado lá em 2015. Se eu achei que o último livro dele me fez chorar horrores, eu estava errado. Ele não se compara a esse livro. Provavelmente o livro mais triste que li em toda a minha vida.
Imagina se houvesse um lugar em que você pudesse pagar para esquecer algo traumático. Imagina que você poderia apagar a lembrança do seu cachorro que morreu, de um crime, de um erro horrível que você cometeu. Imagina que depois de apagar isso você pode viver novamente. Recomeçar. O que você escolheria esquecer? Porque no Instituto Leteo isso é possível.
Aaron não se lembra mas ele fez sua escolha, e sua mente, ele realmente precisava esquecer.
A história de Aaron é triste do começo ao fim. Sua trajetória pela narrativa toda é repleta de medo, tristeza, receio, culpa, confusão... Tem momentos em que a Silvera nos mostra um garoto alto, de dente quebrado, engraçado, inteligente, brincalhão e, do nada, vemos o garoto com marcas de cortes nos pulsos, resultado da tristeza que sentiu pelo suicídio do pai.
Até certo ponto acreditei que esse era o motivo central. O suicídio do pai. Devia ser um pai bem amado e etc, né. Mas algo na história parecia vago. Algumas pontas soltas e perdidas na narrativa me levavam a acreditar que em algum momento algo aconteceria. Quem era o menino de olhos vermelhos na loja de gibi? E a assinatura de gibis que ele nunca leu? Pra que assinar algo que você não gosta? E o pai dele? Num dia qualquer ele decidiu se matar? Do nada? Sem nenhum histórico?
Mas dai Aaron é agredido por seus amigos por ter sido pego abraçando um outro amigo, Thomas. E no momento em que seu corpo se choca contra uma porta de vidro e ele perde a consciência, ele se lembra. Se lembra de tudo que havia esquecido.
Depois de terminar essa leitura eu fiquei uns 20min atônito, sem poder pensar na história sem que meus olhos ficassem completamente turvos. Silvera cria um personagem fadado á tristeza e ao esquecimento. Mesmo que as coisas pareçam estar se ajeitando, ele vai lá e pisa sem dó em Aaron. Se você não se emocionar com esse livro, acredite, seu coração foi trocado por uma porra de uma pedra.
O que Aaron tentou esquecer foi a coisa que levou seu pai a se matar, foi a coisa que despedaçou seu coração, foi a coisa que o fez trair a única pessoa que realmente o amou como namorado: ele ser gay. Aaron tenta ser hétero, como se tudo fosse ser mais fácil. Mas seu corpo não quer isso. Ele consegue no começo, mais com tempo isso volta, tudo de novo, do começo. Ele pode não ter as lembranças, mas lá está ele fazendo tudo de novo. E quando ele é espancado por ser gay, suas lembranças antigas e apagadas se juntam com as novas e tudo fica confuso... E infelizmente o trauma não tem um resultado bom.
Eu torci CADA SEGUNDO pra ele tivesse um fim feliz. Não precisava ser 100%, podia ser agridoce (meu olho já enche de lágrimas só de escrever isso), podia ser só um pouquinho feliz. Mas não é. Ele perde tudo e todos. Ele perde tudo o que ele queria ganhar: o presente. E puta que pariu eu odeio o Adam Silvera por isso.
Vou terminar essa resenha com uma fala da Dra. que apaga as memórias de Aaron que explica muito bem a mensagem do livro. Aaron fez de tudo para não ser quem ele era e no fim acabou sendo nada além de alguém que só tem o passado para se lembrar.
?- Espero não estar sendo inconveniente. Mas, desde que comecei a tratar o seu caso, compreendi como isso deve estar sendo difícil pra você. Mas não consigo conter a minha curiosidade... Você ainda faria esse procedimento se a sua sexualidade não fosse um problema? Você ainda iria querer mudar o fato de ser gay?? - Pag. 235.
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