Carous 19/01/2021Arrastado e perda do meu tempoQualquer livro que tenha uma cena de sexo entre uma garota de >17 anos < e uma criatura >milenar < não consegue mais do que 2 estrelas de mim. AINDA MAIS que a criatura só ofende e humilha a Agne-alguma coisa (é assim que vou me referir à protagonista. Vamos combinar que é impossível memorizar o nome dela). AINDA MAIS que os personagens simplesmente não funcionam juntos - nem como casal nem como feiticeiros unidos para combater a Floresta. - eu não sei o que se passa na cabeça dos autores (nada de bom) para insistirem em casais assim. É errado e nojento.
Mas o livro é longo, minha resenha também; há muita coisa para destrinchar e criticar nesta fantasia.
Uau! Nunca imaginei que um livro com feiticeiras, magia, florestas encantadas pudesse TÃO CHATO. Eu vi uma pessoa escrever na resenha que perdeu o interesse na história aos 8%. Eu estava em 14% quando li isso e não podia concordar mais. Pouco me importei com a história, só queria que terminasse logo. O livro vai de nada a lugar nenhum; lamentavelmente desperdiça vários elementos promissores.
Consigo ver semelhança entre a história e A Bela e a Fera . A versão original. Ambas são narradas tão desprovidas de emoção, travadas e insuportáveis que te dão a sensação de estar presa há dias no mesmo ponto. E tudo o que você quer é chegar ao fim.
A semelhança mais óbvia é o fato do Dragão raptar meninas do vale e levar para sua torre. Embora a autora passe batido na principal mensagem do conto de fadas (Seja gentil com os outros independente da sua riqueza, aparência ou posição social. Ok, a mensagem mais importante é "As aparências enganam, mas não se aplica na história) e foi direto para todos os pontos questionáveis de A Bela e a Fera (O sequestro, a "Síndrome de Estocolmo"*) para desvirtuar e retratar como algo bacana e aceitável.
*colocando entre aspas porque > hoje < sabemos a farsa por trás dessa síndrome
Mas isso é só um parte da história já que "Enraizados" é uma colcha de retalhos de contos poloneses famosos.
Eu não sei nem o que escrever sobre os personagens. Sinto simpatia pela Kasia, apesar da ausência de personalidade dela. Ela é apenas pura, boazinha, doce e amigona da Agne-alguma coisa. Essa é sua função. Apoiar Agne-alguma coisa, consolá-la, ser meiga.
Não que os outros personagens sejam melhores. Falta personalidade de todos eles. São estereótipos de tantos livros de aventura e fantasia publicados antes que perdeu a graça.
Agne-alguma coisa, por exemplo. É a protagonista; a autora disfarçou bem, mas após um tempo você nota que ela é o tipo mais comum de personagem principal de jovem adultos: a "garota especial que se acha comum", "a escolhida". Assim, ela é comum, uma tremenda água de salsicha. Não é porque a autora força a barra transformando-a na salvadora da pátria, na ousada e corajosa que isso muda. Que preguiça da Agne-alguma coisa!! E ser obrigada a avançar na história na cabeça dela, pois é ela que narra tudo, só prejudicou o livro.
Ela só é preciosa pra tanta gente e poderosa porque é a protagonista. E fim.
Comentarei rápido sobre a monarquia antes de falar sobre o Dragão: todos poderiam morrer. Monarquia boa é monarquia guilhotinada. Aqui a realeza foi retratada com fidelidade (único ponto positivo do livro), mas nem por isso foi agradável ver esse bando de gente mimada exigindo que suas vontades fossem obedecidas.
O Dragão... que lixo de personagem!! Se ele se resumisse a uma alma rabugenta e introspectiva que vivia isolado na torre, estava bom pra mim. Passava até pano para o sequestro das garotas - porque tem uma razão por trás disso. Mas não. Ele ofende e humilha Agne-alguma coisa o tempo todo. Quando ela acabou de chegar e está desnorteada com a virada de eventos. Quando ela quase é estuprada. Até quando eles se beijam, o Dragão aproveita para xingá-la.
Isso não é bacana. Grosseria não é legal, abusar verbalmente uma pessoa não é aceitável. Não entendi a lição que a autora quis passar com esse personagem. Impossível que ela não tenha percebido que ele era desagradável e antipático DEMAIS para cair no gosto dos leitores. Um babaca de marca maior.
Eis alguns exemplos:
1. "A coisa mais suja nesta torre é você"
2."Você daria uma refeição melhor que essa"
3."Existe alguma coisa que você saiba fazer? - perguntou ele, zombando"
4."eu me lembro da menina: não tinha cara de cavalo nem era desleixada, e imagino que não estaria reclamando comigo neste minuto: já chega. Vocês, meninas da vila, são todas meio entediantes no começo, mas você está provando ser um modelo notável de incompetência."
5."De repente você ficou surda? Pare de mexer nesses pratos e saia."
6."Sua idiota, o que foi que você fez agora?"
7."Se eu pudesse fazer feiticeiras, certamente não ia escolher uma camponesa idiota como material."
8."filha estúpida de criadores de porcos!"
9."filha estúpida de lenhadores modorrentos"
Tem mais, mas acho que deu para ter uma ideia.
O Dragão só poupa ofensas à Agne-alguma coisa durante a parte da história em que cada um está num lugar distante do outro.
Ainda assim, a autora achou sensato desenvolver uma paixonite da protagonista por ele.
Eu devia ter imaginado quando Agne-alguma coisa diz que o feiticeiro parece com um homem jovem apesar de ter centenas de anos. Foi a maneira da autora disfarçar que a protagonista se envolvia com um velho babão.
Ainda assim, Agne-alguma coisa é uma GAROTA DE 17 ANOS e se vê o Dragão como um HOMEM é porque ele aparentava ser mais velho que ela de qualquer jeito.
Falho em entender por que autores acham aceitável uma adolescente se relacionar com adultos, mas parece que isso não vai mudar tão cedo apesar das minhas reclamações.
Não sei que fetiche é esse que os autores têm de escrever sobre casais formados por garotas adolescentes e criaturas centenárias. Questiono o discernimento deles porque eles são pessoas. Certamente não gostariam que suas filhinhas se envolvessem com caras com idade para ser pai ou avôs delas. Certamente não gostariam de se envolver com um homem que abusa emocional e verbalmente deles.
**SPOILER**
Eu fui avisada sobre a cena de sexo, mas isso não me preveniu de sentir ânsia de vômito quando a dita cuja chegou, só me deixou receosa quando iniciava um novo capítulo.
Eu deixei o livro de lado depois de ler a cena (e olha que li por alto), eu parei a leitura e ignorei o livro por uns dias de tanto nojo que senti. Mesmo agora enquanto escrevo e relembro o que meus olhos tiveram que ler me sinto nauseada.
Quem dera meu asco pela cena fosse por eu ser assexual, infelizmente é porque há uma série de situações questionáveis.
Ela é horrível! Primeiro porque é entre uma adolescente de 17 anos e um mago de mais de um século. A autora espertamente coloca no início do livro que ele não PARECE muito mais velho que Agne-alguma coisa, mas ele sabe que é mil anos mais velho que ela, ela sabe disso e nós, leitores sabemos também. Dizer que aparência dele é de um jeito apesar da idade ser muito mais avançada não torna o envolvimento amoroso dele legal (ou menos nojento).
É horrível porque não há química entre eles, sequer uma tensão sexual.
É horrível pela falta de desenvolvimento deles, principalmente do Dragão que abusa verbalmente dela o tempo todo, até após eles transarem.
É horrível porque surgiu do nada o sexo. Ela caiu de paraquedas no livro, não combina com mais nada da história e ocorre durante UMA BATALHA. Quem tem apetite sexual num momento desses?
**FIM DO SPOILER**
Mas devo admitir que se não fosse a questão da idade e como ele a trata, eu relevaria todo o resto da cena.
Não achei que precisaria comentar o sistema de magia aqui porque é algo que não me atenho nos livros de fantasia, mas, nossa, minha opinião é que Naomi também não estava muito afim de explicar a magia no próprio livro, só foi jogando e usando metáforas como: "o nome dele parecia fumaça e cobre na minha boca", "minhas pernas dormiam" e dane-se. Não tem lógica. Numa hora eles se cansavam após alguns feitiços e precisavam descansar. Na hora, faziam feitiços por horas e não sentiam nada. Quem entendeu, entendeu. Quem não entendeu (ou se importou), se vira. Vamos batizar de linguagem poética pra fingir que a autora se esforçou nesse quesito.
E como não poderia faltar, é uma fantasia, porém personagens LGBTQIA+s não são permitidos. POCs também não. Só tem uma, Alosha, cujo comentário é de que sua pele é "escura" e sua história é conectada com escravidão. Eu nem sei por que me surpreendo que autores brancos tenham um bloqueio para diversificar seus livros e quando fazem isso, fazem muito mal. Ofendem mais do que qualquer outra coisa. Mas me surpreendi.
Não sei como deixar mais claro que não curti o livro. Só li porque era requisito da maratona literária que participei. Dado a experiência, prestarei mais atenção nas próximas leituras coletivas das maratonas para não pegar um livro que nem queria ler e ainda sofrer para terminar.