Jow 12/07/2011Elysium do Destino.“O que foi escondido
É o que se escondeu
E o que foi prometido
Ninguém prometeu
Nem foi tempo perdido
Somos tão jovens...” Legião Urbana – Tempo Perdido
Algumas pessoas escrevem diários, outras poesias. Algumas escrevem canções, outras escrevem livros. Mas, apenas Stephen King consegue escrever algo que seja influenciado por Tolkien, Dickens, Clint Eastwood, Robert Browning, Shakespeare, Frank Baum e Freud, misturar esses grandes gênios as lendas Arturianas, aos primórdios do Cristianismo, e a ascendente Cultura Pop do Século XX. Apenas a mente de Stephen King, pode conceber um livro que mistura ganância, desespero, raiva, ódio, desprezo, e culpa ao Amor, perdão, amizade, tolerância, certeza, verdade, fé, busca e destino. Só a mente de Stephen King pode conceber um livro tão perfeito, tão particularmente encantador, mágico e real, que mesmo com 818 páginas se torna pequeno em relação ao que mais poderia ser contado, e que envolve a mente com um brilho, uma luz, que assim como na história de Roland, te deixa apaixonado, sedento e desesperado por mais respostas, por mais de um passado que embora distante, reflete os desejos e desesperos dos dias atuais. Apenas Stephen King, pode conduzir as nossas mentes por algo tão fantástico, que busca a direção de uma Torre, cuja natureza é tanto física quanto metafórica.
“Mago e Vidro” é sem sombra de dúvidas o melhor livro da série até o momento, e o seu único defeito e a dificuldade dos outros livros da série de superá-lo. King nos entrega uma narrativa coesa, competente que nos transporta para o passado mais remoto do pistoleiro. Entendemos seus medos e traumas, vemos toda a sua difícil adolescência, seus traumas familiares, seus amigos, seus erros e acertos, e o principal: Seu Amor. Susan Delgado é de longe uma das melhores representações femininas nos livros de fantasia, e seu amor por Roland é algo fora do comum, é algo digno das famosas e longas descrições de Tolkien, assim como das belas, potentes e trágicas palavras de Shakespeare. O livro envolve, detalha e responde grande parte das muitas dúvidas que os leitores da série buscavam ardentemente. Temos um livro completo perante todos os pontos de vista, e que ainda se supera nos ambientes e personagens que insere para a continuação da saga.
Em “Mago e Vidro”, King nos impulsiona para a busca da Torre Negra. Revela as fraquezas e mazelas de Roland, mas também enaltece e justifica suas qualidades. E firma de uma vez por todas o laço entre Suzannah, Eddie, Jake, Oi e Roland, vários Ka-Tet que formam um, para que assim, juntos, eles possam prosseguir no caminho que a tanto tempo enlouqueceu Roland, e que mesmo quando “o mundo seguiu adiante” não o fez desistir de uma busca que lhe tirou grande parte daquilo que tinha ou que queria. Temos uma obra que não se importa com julgamentos, uma caminhada que não busca conversão ou penitencia, temos uma obra que foca no seu objetivo, que não se preocupa com os meios, apenas com os fins.
O caminho se Roland e seu Ka-Tet segue adiante, assim como o caminho daqueles que cruzaram a vida de Roland. Para Roland, tudo teve seu significado, tudo teve justificativa. E não há nada mais impressionante neste personagem do que a sua força, a sua capacidade de se apegar a uma certeza de destino que nem ele mesmo era capaz de acreditar. Mas, para Roland até o seu amor era uma prova irredutível da manifestação do seu Ka, e impossível não se deixar levar por essa paixão doentia pelo destino. "Mago e Vidro" é a prova cabal de que o destino rege a vida daqueles que acreditam, pois é certo que muitas coisas nessa vida realmente tem de acontecer, pois o Ka é um vento que sopra em todas as direções, não há como se esconder, não há como deixar de se encantar. Só é possível deixar acontecer!
Só nos resta desejar que possamos ter muito mais de Cuthbert e Alain, de Farson e de Rhëa, de Steven e Gabrielle Deschain, e por que não um pouco mais de amor, um pouco mais de deleite, um pouco mais de Susan Delgado.