Nathalie.Murcia 13/05/2019
Soco no estômago
Primeiro livro da trilogia de Scholastique Mukasonga. Os demais são "Nossa Senhora do Nilo" e "Baratas". Este primeiro romance biográfico foi escrito em memória da mãe da autora (Stefania), assassinada pelos hutus, que era a etnia dominante, durante a guerra civil de Ruanda. O livro retrata a vida da família da escritora, pertencente à etnia dos tutsi de Nyamata, após serem desterrados, juntamente com outros tutsis, para um vilarejo remoto em Ruanda, denominado Bugesera. Nos relatos, a escritora nos apresenta o esforço da matriarca para manter, no seu "inzu" (tradicional moradia tutsi), as tradições, a dignidade, o trabalho na lavoura e a sobrevivência dos seus, sempre ameaçada pelas investidas militares, genocídios e estupros recorrentes. Muitos elementos culturais africanos envolvendo família, casamento, costumes, rituais, cura através das ervas medicinais, relacionamentos na aldeia, entre outros, são delineados com muita pungência e delicadeza, neste livro. Destaco, aqui, a passagem que mais me marcou:
"Não cobri o corpo da minha mãe com o seu pano. Não havia ninguém lá para cobri-lo. Os assassinos puderam ficar um bom tempo diante do cadáver mutilado por facões. As hienas e os cachorros, embriagados de sangue humano, alimentaram-se com a carne dela. Os pobres restos da minha mãe se perderam na pestilência da vala comum do genocídio, e talvez hoje, mas isso não saberia dizer, eles sejam, na confusão de um ossuário, apenas osso sobre osso e crânio sobre crânio".
Recomendo o livro e emendarei a leitura dos outros dois da trilogia.
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