Eric 09/11/2021
O destino é inexorável, Derfel
Em As Crônicas de Artur, vamos acompanhar a vida desse grande guerreiro pelo olhar de um dos maiores escritores de romance histórico da atualidade, Bernard Cornwell. Trazendo uma perspectiva mais voltada para história real, essa narrativa foi construída a partir de registros históricos que se tem da Britânia nesta época.
Narrado por Derfel, um amigo e grande guerreiro que lutou a vida toda ao lado de Artur, iremos acompanhar o declínio da Britânia com as invasões dos saxões e também desacordos entre os principais reis dessa terra. Fiel à promessa ao seu pai, Rei Uther, a missão de Artur é proteger o neto de Uther, um bebê ainda, até sua idade mínima exigida para governar. Mas, um caos se instalara entre os reinos, guerras serão proclamadas, traições, jogadas políticas, a ascensão do cristianismo e a derrocada das crenças politeístas formarão um cenário de grandes instabilidades, sangue e muitas mortes.
Além da história de Artur, essa trilogia também é um romance de formação, já que acompanhamos a trajetória de vida de Derfel, um padre que está transcrevendo a história de sua vida e sua amizade com o grande guerreiro. Este narrador, dono de uma personalidade inesquecível, possui uma amizade muito próxima com Artur e a partir de seu olhar, vamos se encantar com a figura do guerreiro que se tornou uma lenda na história.
Nesta trilogia, encontrei um dos maiores repertórios de personagens marcantes na literatura. Bernard Cornwell nos entregas personalidades extremamente humanas, onde cada um age conforme seus interesses. Merlin, Guinevere, Nimue, Morgana, Lancelot, Sansum, entre outros, são personagens que vão nos levar ao extremo do amor e ódio.
Nesta ficção histórica, Cornwell consegue explorar uma montanha-russa de sentimentos, os quais em certos momentos revelam grandes emoções que deixam o leitor de boca aberta. O autor consegue dosar muito bem os ápices da história, ele prepara o cenário, desenvolve cada personagem para no fim fechar com chave de ouro com alguma revelação bombástica ou cenário de guerra visceral.
Outro ponto bem trabalhado aqui neste texto são os momentos de guerras. Cornwell consegue te transportar para uma parede de escudos, detalhando cada golpe e como o impacto dessas lanças ou espadas abrem um estômago, decapita uma cabeça ou decepa um braço. Parece que o leitor está vendo um filme em sua cabeça, chega a ser cinematográfico as lutas na trilogia.
Em relação à escrita e ritmo da narrativa, de início precisamos de paciência. Não é fácil devido às nomenclaturas e quantidade de personagens, mas como tempo você acostuma. O autor entrega uma narrativa muito bem escrita, equilibrada e carregada de diálogos construtivos e por muitas vezes carregadas de tensão
Fica aqui meu carinho por Merlin, um personagem de um carisma gigante, que com toda sua inteligência, fez pontuações precisas e lavou a cara de todo mundo. Sua trajetória em reunir os tesouros antigos da Britânia me deixou encantado e trouxe uma aventura frenética que andou paralela aos desejos e conquistas de Artur e Derfel.
Para mim, que nunca li nada sobre a vida de Arthur, foi um encantamento desde as primeiras páginas. E estou muito feliz por conhecer a partir do olhar de um autor que já gostava bastante devido ter lido a trilogia do Graal. Não vejo a hora de explorar outras narrativas que contam a história desse homem lendário.
Ressalto aqui, meu favoritismo pelo segundo volume, onde vamos acompanhar traições, jogadas políticas e intolerância religiosa que dão uma reviravolta de puxar os fios dos cabelos. O que Bernard Cornwell faz nessa metade da história não é para qualquer escritor. Realmente chocante!!
Com certeza, essa trilogia já se tornou um dos meus romances favoritos para vida. Em um futuro, pretendo reler essa obra e me encantar mais uma vez por esse universo.