Lurdes 24/12/2023
A Literatura Nigeriana feita por mulheres é uma das mais representativas do continente africano, e tem alcançado muito reconhecimento no resto do mundo, através das obras de nomes como Chimamanda, Buchi Emecheta e da nova geração de Oyinkan Braithwaite e Ayòbámi Adébáyò.
Mas tem um nome que, apesar de pouco conhecido no Brasil, foi fundamental para a visibilidade da literatura produzida da Nigéria, em especial de mulheres escritoras.
Primeira autora a ser publicada em lingua inglesa, Flora Nwapa foi a primeira mulher negra em todo o oeste da África a ser proprietária de uma editora ao fundar a Tana Press. Mais tarde ela abriria, ainda, a Flora Nwapa Company, especializada em livros de ficção infantis.
Pois Flora é a autora de Efuru, uma mulher tão inspiradora quanto.
Em uma Nigéria ainda colonial, Efuru quebra vários paradigmas.Ela não é uma revolucionária. É uma mulher comum, criada nas tradições Igbo, que ama e respeita sua família, mas que questiona muitos preceitos que colocam as mulheres em situações injustas e vexatórias.
Efuru se apaixona, quer ter filhos, mas também adora (e não abre mão) de trabalhar, se dedicando ao comércio.
Efuru sofre por amor, por suas dolorosas perdas, mas segue em frente tentando não arranhar sua autonomia e dignidade
Através de suas relações com a familia, a comunidade e, principalmente, com outras mulheres, vamos conhecer muito da cultura igbo.
Cada vez mais me convenço do quanto é importante este mergulho em outras culturas, conhecendo o ponto de vista de quem realmente as vivenciam.
Temos por (péssimo) hábito usar a cultura ocidental como parâmetro, mas nem sempre funciona.
Flora, através de Efuru nos mostra que, apesar de muitos preceitos machistas que não podem ser tolerados, alguns arranjos sociais, amorosos, familiares, focados num forte senso de comunidade têm muito valor e devem ser respeitados, assim como sua religiosidade.
Recomendo muito.
Excelente leitura.
(E que capa mais linda).