O que é lugar de fala?

O que é lugar de fala? Djamila Ribeiro




Resenhas - O Que É Lugar de Fala?


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Ingrid_mayara 20/01/2019

Sobre ter tantas vozes e não saber qual delas usar
Fiquei confusa nas primeiras vezes em que ouvi falar sobre lugar de fala. Sob qual ponto de vista minha voz teria legitimidade, se as minhas características revelam a minha individualidade? Como falar de gênero numa sociedade subjugada pelo machismo? Como falar de negritude, se sou também descendente de povos indígenas? Como falar de orientação sexual, se a todo momento me dizem que “você nem parece lésbica”? Como falar de religião, se o agnosticismo é motivo de deboche? Como falar que sou paulista, se muitos dos meus vizinhos catarinenses defendem “o sul é meu país”? Essas e outras particularidades me tornavam mais ansiosa a cada dia. É difícil ser levada a sério quando não se sabe ou não se tem o direito de argumentar.

Eu pensava que lugar de fala fosse o equivalente ao conceito de representatividade. Há pouco tempo, comecei a acompanhar alguns movimentos sociais para tentar achar o meu lugar. Descobri que posso falar de todas as minhas vivências sem precisar desmerecer nenhuma delas. Posso falar também de assuntos que não vivi, desde que seja a partir do meu lugar de fala, de tudo o que sou, de tudo o que eu sei. É imprescindível que o mundo tenha histórias contadas a partir de outras perspectivas.

Ainda que já soubesse o significado do título, eu desconhecia diversos assuntos tratados pela autora. Anotei as referências descritas em “O que é lugar de fala?” para voltar a ler após conhecer as obras das autoras que Djamila Ribeiro apresentou. Ainda não é meu livro favorito da vida, mas certamente é um dos mais importantes.


site: Se quiser me seguir no instagram: @ingrid.allebrandt
vaneperola 20/01/2019minha estante
Vou iniciar a leitura desse livro em breve, tá na meta para ler esse ano. Até já comprei.


Ingrid_mayara 20/01/2019minha estante
Que legal! Depois conta sua experiência pra gente.


vaneperola 20/01/2019minha estante
Certo! Amei ler a sua!


Ingrid_mayara 20/01/2019minha estante
:)


Kalyenne 20/01/2019minha estante
arrasou na resenha! :)


Ingrid_mayara 20/01/2019minha estante
Obrigada, Kalyenne!




Nicolle.Iwazaki 10/06/2020

Confesso que no começo estava relutante porque peguei um pouco de ranço da expressão ?lugar de fala? por causa dos ?militantes? da internet, mas achei o livro maravilhoso. Djamila Ribeiro tem formação em filosofia, o livro é repleto de referências com teorias bem embasadas. Apesar disso, o livro é em linguagem simples e bastante didática, li em algumas horas. Finalmente achei um livro que o feminismo não é tratado de forma branca e eurocêntrica.
Felipe1503 21/06/2020minha estante
A obra da Chimamanda Ngoze Adiche e da Angela Davis também são muito boas. Tem e-books gratuitos de ambas na Amazon. Vale a pena.


Nicolle.Iwazaki 21/06/2020minha estante
Já li 3 da Chimamanda. Da Angela Davis não li, mas pretendo


Felipe1503 21/06/2020minha estante
Da Djamila Ribeiro, li Pequeno manual antirracista. Bom tbm.




Juliete Marçal 02/08/2020

Quem pode falar?
"A fala estilhaça a máscara do silêncio."

Djamila Ribeiro dividi o livro em três capítulos, sendo eles: "Um pouco de história", "Mulher negra: O outro do outro" e "O que é lugar de fala", e com a ajuda de textos e trechos de entrevistas de outras autoras negras como Patrícia Hill Collins, Grada Kilomba, Lélia Gonzalez, entre outras, a filósofa discute, em especial, sobre o silenciamento e invisibilidade histórica da mulher negra, além de nos fazer pensar sobre a Standpoint Theory (a teoria do ponto de vista feminista) e o que é o lugar de fala. Portanto, temos como protagonista do livro o feminismo negro e a reflexão sobre o que é o lugar de fala. Lugar de fala que está diretamente e intrisecamente relacionado com a locus social (localização social).

"Lugar de fala é usado como interdito ou inércia. Não é nem uma coisa nem outra."

O livro propõe uma reflexão objetiva sobre o que a História silenciou: a voz das minorias. Por muito tempo, nós mulheres fomos silenciadas e postas como sombras tênues no processo histórico da humanidade. Partindo do pensamento que todo ser tem um lugar de fala, - então, sim, brancos tem lugar de fala no combate antirracista: a partir da sua vivência de pessoa que se beneficia da opressão -, Djamila percorre reflexões sobre "ser o outro do outro". Ela destaca a importância de não silenciarmos, partindo do local que estamos postos, pois a fala transcorre experiências que demarcam o lugar social e o ser em meio a coletividade. Nos faz refletir sobre de que lugar (locus social) falamos e que não são as nossas vivências pessoais, mas o que podemos ou não viver de acordo com o nosso lugar social, que é marcado por raça, gênero, classe social e orientação sexual. Mostra o quanto a nossa visão está presa ao que é considerado correto pelo pensamento branco patriarcal, e explica porquê é necessário existir um feminismo negro.

A autora também aborda o quão importante é a desmistificação de que o feminismo negro veio para separar o movimento, que necessitamos de vozes múltiplas, de representatividade (que está entrelaçado com o lugar de fala, mas que não são a mesma coisa). Também temos algumas reflexões sobre a questão das opressões divergentes e como todas se entrecruzam, fazendo assim, com que não deixemos de olhar para uma em detrimento de outra. Nenhuma opressão é mais importante que outra e nós precisamos entender isso. Não deve existir hierarquia de opressão.

"Ainda é muito comum se dizer que o feminismo negro traz cisões ou separações, quando é justamente o contrário. Ao nomear as opressões de raça, classe e gênero, entende -se a necessidade de não hierarquizar."

Enfim, numa linguagem simples, mas sem superficialidade, Djamila consegue explicar o que é lugar de fala a partir de uma contextualização a cerca do movimento feminista em suas relações com as questões de raça; nos fazendo perceber que reconhecer o racismo é extremamente necessário e que a normatização hegemônica nos conduz ao erro e mantém as desigualdades.

Definitivamente, temos aqui, um livro com um rico conteúdo sobre nossa sociedade machista patriarcal e de hegemonia branca que exclui tudo e todos que nela não se enquadram, que oprime e silencia todas as outras vozes. Mais do que falar do feminismo negro dentro da luta feminista, esse livro nos fala da importância de todas as lutas que estão presentes nas desigualdades sociais.

"Saber o lugar de onde falamos é fundamental para pensarmos as hierarquias, as questões de desigualdade, pobreza, racismo e sexismo."

Um livro para mergulhar e refletir. Profundo e conciso.

Recomendo imensamente a leitura!

Não é a toa que Djamila Ribeiro é uma das principais intelectuais brasileiras no feminismo. Uma voz de força do feminismo negro.

"Pensar lugar de fala seria romper com o silêncio instituído para quem foi subalternizado, um movimento no sentido de romper com a hierarquia."

^^
Juliana Rodrigues 04/08/2020minha estante
Mais um para a lista hahaha ?

Amei a resenha!


Juliete Marçal 04/08/2020minha estante
Obg! ?
Esse livro tem uma linguagem um pouco mais acadêmica, por causa das referências que ela traz ...
Mas mesmo assim é fácil de entender os seus questionamentos.
Leia! ;)




Laíza 29/11/2017

Um livro necessário para mulheres e homens, para negros e brancos
Djamila é famosa pelos seus textões polêmicos na internet, e também por ser uma filósofa que, apesar da proximidade do meio acadêmico, consegue trazer um discurso atual, pertinente e acessível a todos.
"O que é lugar de fala" é um exemplo dessa qualidade da autora. Trata-se de um livro curto, com tom ensaístico, no entanto, bem didático, sobre o conceito de "lugar de fala" e sua importância para a compreensão de lutas das minorias. Como exemplo, a autora apresenta nomes importantes na construção do feminismo negro, como Grada Kilomba, Audre Lorde, Lélia Gonzalez, Sueli Carneiro entre outras, fornecendo ao leitor uma gama de referências teóricas que fortalecem o debate, permitindo que ele saia do - muitas vezes caótico- círco de problematizações das redes sociais. É claro que não devemos descartar a importância dos debates das redes e a própria Djamila reconhece esse papel. Contudo, ao "livrificar" o conceito, a autora dá um passo à frente do machismo e do racismo, mostrando que estamos munidos de muito mais do que vitimismo e especulação. Estamos produzindo e distribuindo conhecimento. Quem quiser continuar na mesa, seja para somar ou para questionar, vai precisar ler e aprender.
Djamila é bem didática, mas quem não está habituado à linguagem acadêmica pode sentir alguma dificuldade. O importante é prosseguir a leitura, pois, mais à frente, tudo fica perfeitamente explicado.
Precisamos de mais Djamilas dentro e fora de internet. Dentro e fora da academia.
Laíza 13/12/2017minha estante
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Fabianne 22/04/2023

Quem tem o lugar de fala?
Segundo Djamila todos nós temos um lugar de fala na perspectiva da análise do discurso. Por exemplo:

Um homem nunca teve cólicas menstruais na vida, quando fala sobre cólica menstrual, de qual lugar pronuncia seu discurso? Pode ser do lugar de pesquisador do assunto, um médico ginecologista e até mesmo de uma pessoa que poderá usar seu lugar de fala com irresponsabilidade e falta de empatia.

É necessário então usar esse lugar de fala com responsabilidade e respeito.

Pessoas brancas, amarelas ou pretas pode usar seu lugar de fala para discutir dados estatísticos de que uma mulher branca ganha 30% menos que os homens brancos, o homem preto ganha menos do que a mulher branca e a mulher preta ganha menos do que todo mundo.

Sim podemos e devemos discutir e estudar sobre os atuais problemas sociais, para que possamos melhorar como seres humanos nesse mundo de tantas controvérsias.
sem apelido 23/04/2023minha estante
???




Adriana Scarpin 01/12/2017

Leitura rapidíssima e extremamente esclarecedora sobre o conceito de lugar de fala, este que na maioria das vezes pela internet afora é entendido e repudiado de maneira completamente errônea. Por isso, você que fala bobagem na internet, compre esse livro, é baratinho e você vai gastar apenas uma hora do seu tempo lendo-o.
Vou ficar de olho nessa coleção sobre feminismos plurais, parece-me que será interessante e esclarecedora.

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Laura Brand 16/01/2018

Nostalgia Cinza
Em um mundo de tantos extremismos, Djamila Ribeiro mostra como é possível se posicionar e defender uma causa sem agressividade e com muita classe. Buscando definir melhor esse conceito, “O que é lugar de fala?” nos leva em uma breve viagem no tempo, nos apresenta mulheres importantíssimas para a ideologia feminista e nos faz refletir sobre nosso papel – mesmo que inconsciente e velado – em uma sociedade desigual. Um livro extremamente necessário e brilhante.
O que é lugar de fala? é o primeiro livro da coleção Feminismos Plurais, que ainda não tem um número definido de volumes, mas contará com diversos livros escritos por mulheres negras e indígenas e homens negros de diversas regiões do Brasil. A proposta é reunir em uma coletânea pequenos volumes escritos por intelectuais de grupos historicamente marginalizados. Alguns dos assuntos abordados envolvem encarceramento, racismo estrutural, branquitude, lesbiandades, mulheres, indígenas e caribenhas, transexualidade, afetividade, empoderamento etc. O segundo volume da coleção já está sendo lançado e se chama “O que é encarceramento em massa?”. Ou seja, só assunto polêmico, impactante e extremamente necessário.
Djamila Ribeiro, muito conhecida por sua militância nas redes sociais e como colunista do site da Carta Capital, mostra a que veio em “O que é lugar de fala?”. Em uma época em que todo mundo tem muito para opinar e pouco embasamento histórico, sociológico e científico, Djamila volta às raízes do feminino e de parte da história do movimento de empoderamento das mulheres negras para explicar esse conceito que chegou a ser banalizado em meio a tanta discussão.
Djamila deixa claro suas opiniões e posicionamentos com relação a diversos tópicos abordados no livro, mas sempre tomando como base alguma filósofa, dados estatísticos, pesquisas e relatos históricos de feministas e, principalmente, feministas negras. Sua forma de conduzir a leitura revela seus anos de estudo e engajamento na causa de forma natural e extremamente inteligente. A autora sabe do que está falando e fica clara sua preocupação em tentar esclarecer o leitor a respeito do conceito de lugar de fala. Mais do que defender um lado, Djamila mostra a empatia de se colocar no lugar do outro e entender que cada pensamento, argumento e experiência é derivado de fatores sociais e históricos.
“O que é lugar de fala?” aborda questões como feminismo negro, diferenças de discursos dentro do próprio feminismo, desigualdade social, machismo, opressão de gênero, tentativas de deslegitimação, racismo, posição social etc. Todas importantíssimas para entender o contexto geral da ideologia feminista e do próprio conceito de lugar de fala.
A diagramação com o texto bem dividido nas páginas, a escolha da fonte e do tamanho reduzido do livro contribuem para uma leitura mais dinâmica. É fácil se sentir imerso nos pensamentos de Djamila Ribeiro e passar as páginas.
Apesar de ser escrito quase em forma de texto acadêmico e ser recheado de citações, é um livro de leitura fácil, perfeitamente compreensível e extremamente didático. Mesmo quem afirmar não se identificar ou concordar com determinado posicionamento pode entender perfeitamente o que Djamila está falando. Ela não apenas emite opiniões, mas fornece fatos e dados que embasam argumentos e justificativas.

Com um formato de bolso de 10x15cm, “O que é lugar de fala?” é um livro pequeno, breve e fácil de ler que tem como objetivo atingir todas as classes sociais, todas as camadas da população. Em uma sociedade pouco leitora, iniciativas como essa, de apresentar temáticas complexas e importantíssimas de forma acessível e didática são pequenos tesouros que merecem destaque.
 “O que é lugar de fala?” é um livro extremamente necessário para compreender melhor o feminismo e o racismo muitas vezes velado e mascarado. Não é um livro militante no sentido de atacar ou buscar alienar o leitor, muito pelo contrário. É um livro que busca esclarecer e colocar um megafone nas mãos daquelas que, por séculos, foram obrigadas a se calar. “O que é lugar de fala?” propõe um diálogo importante para todos. Se você acha que é exceção, então esse livro é pra você mesmo. Djamila Ribeiro pega o leitor pela mão e diz “senta aqui, deixa eu te explicar o porquê desse alvoroço todo”. E ela faz isso muito bem.

site: http://nostalgiacinza.blogspot.com.br/2018/01/resenha-o-que-e-lugar-de-fala.html
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Vitória Marcone 26/05/2024

Releitura
Releitura e gostei tanto quanto na primeira leitura. As reflexões que a Djamila faz são de extrema importância e o livro é um excelente resumo da temática, nos fazendo pensar por outras perspectivas. Uma leitura necessária!
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lubento 03/02/2018

Um livrão
Djamila Ribeiro nos ajuda a compreender o conceito de lugar de fala trazendo como base o pensamento de grandes intelectuais como Grada Kilomba, Lélia Gonzalez e Spivak. Um livro curso mas extremamente denso, que nos mostra que todos tem lugar de fala e que é preciso ouvir as vozes insurgentes dos grupos sociais marginalizados.

site: https://www.youtube.com/watch?v=C1xpFR0pkzU
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Charlene.Ximenes 11/02/2018

Lugar de desestabilizar
Diante das muitas discussões e polêmicas acerca do conceito de lugar de fala, essa obra analisa e questiona a voz de quem tem direito numa sociedade na qual a heterossexualidade, masculinidade e branquitude se fazem opressoras.

A fim de explicitar os principais conceitos, de modo a romper ideias equivocadas, inicia-se o livro com o feminismo negro, que nos evidencia a necessidade de romper a cisão criada numa sociedade desigual. Djamila Ribeiro parte de obras de feministas negras como Patrícia Hill Collins, Grada Kilomba, Lélia Bairros, Sueli Carneiro para colocar em cheque a necessidade de quebrar silêncios. É preciso restituir humanidades negadas!

A opressão de caráter racial e a opressão que privilegia grupos em detrimento de outros é discutida, bem como a universalidade da fala do homem branco, que persiste em acreditar que suas ideias são universais. "O que é lugar de fala" traz à tona a questão da mulher negra vista como o outro do outro, pois elas não são nem brancas e nem homens.

É preciso compreender as diferenças entre as mulheres para que não apenas parte desse ser mulher seja visto, e faz-se necessário compreender que pessoas negras ao reivindicarem seu direito de ter voz estão lutando por seu direito a vida. É necessário resignificar identidades de modo que possamos construir novos lugares de fala para que sujeitos outros tenham visibilidade. O livro deixa claro que buscando evitar o discurso excludente precisamos reconhecer que partimos de lugares diferentes, pois temos experiências distintas.

Djamila fundamenta a questão do lugar social, por isso faz-se necessário refutar uma pretensa universalidade. É importante compreender que lugar de fala é diferente de representatividade e que todas as pessoas possuem esse lugar de fala, tendo em vista que se está discutindo lugar social.

Refletir esse lugar de fala é, para Djamila Ribeiro e as autoras por ela citadas ao longo do livro, uma forma de desestabilizar, é romper o silêncio instituído naqueles que foram e são excluídos! Uma leitura mais que necessária!
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Helô Ferrari 04/04/2018

O primeiro de muitos
Sou novata nos estudos feministas, de gênero e raça, Djamila abriu pra mim uma porta absurdamente importante, pois ela discorre de maneira acessível, sobre a luta feminista negra,de como é importante romper a barreira do silêncio e do não reconhecimento, de vidas oprimidas, que sofrem até hoje o colonialismo, e como é importante o lugar de fala dessas pessoas. Afinal, elas vivem o grupo, elas passam na pele, são informações riquíssimas e autênticas, mais do que teorizações de quem não passa pelos mesmos enfrentamentos.
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Babi.Dias 30/04/2018

Livro necessário ?
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Poesia na Alma 11/05/2018

Por que eu escrevo?
“Por que eu escrevo?
Por que tenho que
Porque minha voz
em todas suas dialéticas
foi silenciada por muito tempo.”
(Jacob Sam-La Rose)

O que é Lugar de Fala?, de Djamila Ribeiro, 108 páginas, Editora Letramento, é um livro didático, necessário e acessível. O lugar de fala está intrinsecamente ligado à identidade de um grupo, como esse grupo é visto e pensado socialmente e como ele pode sofrer limitações em detrimento dos privilégios de outros grupos. Pensando nesse lugar, é interessante observar a História do Brasil e como ela é contada do ponto de vista do colonizador, uma visão eurocêntrica, judaico-cristã, heteronormativa, machista e que ainda nos mantêm no lugar de colonizados. É nesse contexto que que a autora reflete sobre o lugar de fala do negro, indígena, nordestinos, latinos. Da mulher negra, latina, indígena, quilombola, nordestina, imigrante...

“(...) Então aquele homenzinho vestido de preto diz que as mulheres não podem ter tantos direitos quanto os homens porque Cristo não era mulher! Mas de onde é que vem seu Cristo? De onde foi que Cristo veio? De Deus e de uma mulher! O homem não tem nada a ver com Ele.
Se a primeira mulher que Deus criou foi suficientemente forte para, sozinha, virar o mundo de cabeça para baixo, então todas as mulheres, juntas, conseguirão mudar a situação e pôr novamente o mundo de cabeça para cima! E agora elas estão pedindo para fazer isto. É melhor que os homens não se matam.
Obrigada por me ouvir e agora a velha Sojourner não tem muito o que dizer.”
(Sojouner nasceu num cativeiro e, em 1843, tornou-se abolicionista afro-americana, escritora e ativista dos direitos da mulher.)

Djamila começa o livro trazendo uma contextualização de mulheres negras que foram historicamente silenciadas, a exemplo de Sojouner. Existe para além do racismo, uma opressão de caráter racial e que fortalece um feminismo hegemônico.

“Leila Gonzalez, também refletiu sobre a ausência de mulheres negras e indígenas no feminismo hegemônico e criticou essa insistência das intelectuais e ativistas em somente reproduzirem um feminismo europeu, sem dar a devida importância sobre a realidade dessas mulheres em países colonizados.”

Há uma excelente relação entre o preconceito linguístico, racismo e as questões de classe. A importância de reconhecer o legado linguístico de povos escravizados e como isso transcende a gramática normativa. A valorização de uma única forma de falar e escrever como certa a manutenção do poder em que determinados grupos são marginalizados.

“(...) é fundamental para muitas feministas negras e latinas a reflexão de como a linguagem dominante pode ser utilizada como forma de manutenção de poder, uma vez que exclui indivíduos que foram apartados das oportunidades de um sistema educacional justo.”

Para além das oportunidades de um sistema educacional justo, há tem um visível silenciamento cultural, baseado no etnocentrismo que deixa o colonizado em posição de inferior que ‘suja’, ‘corrompe’ a língua, o ‘verdadeiro português’. Entretanto, esse ‘português verdadeiro’ tem sua origem no Latim Vulgar. O conservadorismo no entorno de uso da língua no Brasil, marginaliza que essa mesma língua muda e que no processo de colonização foram incorporados novos sons, entonações, vocábulos que cria uma nova língua. É um ciclo tendencioso que mais uma vez silencia latinos, negros e indígenas, já que a única língua aceitável é a eurocêntrica.

“Alcoff reflete sobre a necessidade de se pensar outros saberes. Pensando num contexto brasileiro, o saber das mulheres de terreiro, das Ialorixás e Babalorixás, das mulheres do movimento por luta de creches, lideranças comunitárias, irmandades negras, movimentos sociais, outra cosmogonia a partir de referências provenientes de religiões de matriz africana, outras geografias de razões e saberes.”

O que é Lugar de Fala? pertence a coleção Feminismos Plurais para confrontar um pseudodebate que se estrutura na deturpação da história, raça e de classe, representatividade e feminismo. Que se estrutura em equívocos conceituais sobre o lugar de fala de cada grupo. Que lugar de fala é esse? Quando não se é pensado nesse lugar de fala, quem se beneficia? Quem perde? Para responder a essas perguntas, Djamila traz à luz do debate mulheres negras, latinas pensadoras, pesquisadoras, estudiosas, inclusive nomes como o de Gayatri Spivak, filosofa indiana. Rompendo com uma ótica estreita e simplista que ainda sustenta a deslegitimação de múltiplas vozes.

“Também podemos citar essa realidade no contexto brasileiro, o alto índice de feminicídio de mulheres negras, a constatação de que mulheres negras ainda são maioria no trabalho doméstico e terceirizado e tantos outros exemplo.”

Cada página do livro proporciona aos leitores um universo amplo de desconstrução, pesquisa, novos conhecimentos, de repensar lugares de privilégios. A mudanças implicam em fugir do discurso óbvio e sensacionalista para que de fato possamos falar de democracia, liberdade, feminismo, raça, ética, cidadania... e que essa fala possa, enfim, ecoar as múltiplas vozes. Que essa fala, de fato, se materialize num debate honesto e com equidade.


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site: http://www.poesianaalma.com.br/2018/05/resenha-o-que-e-lugar-de-fala-de.html
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wall 29/06/2018

O que é lugar de fala?
Djamila Ribeiro propõe aqui uma rica reflexão. Excelente livro, de fácil acesso e essencial para a biblioteca de qualquer pessoa.

site: http://wallacerandal.com
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Lis 01/07/2018

O que é lugar de fala? - Djamila Ribeiro
Você é uma feminista branca? Este livro é para você! Você é homem que apoia os movimentos das mulheres? Este livro é para você! De tantas literaturas sobre feminismo, eis uma obra pequena no formato mas grandiosa no discurso, Djamila traz à tona a urgência das sociedades darem ouvidos às vozes das mulheres negras.
Como diz a própria autora: "é um livro espinhoso". Para sairmos dos pensamentos confortáveis e começar a refletir para mudar.

"Djamila Ribeiro nos brinda com a organização dessa bela e inspiradora coleção - Feminismos Plurais - na qual se expressa e afirma a diversidade temática e de perspectivas que atravessam a reflexão, ação política e cultural de mulheres negras, indígenas e homens negros que trazem em comum a insurgência desses grupos subalternizados frente aos modos de subjetivação consagrados pelo racismo, sexismo e o desafio de construção de novos imaginários restituidores da plena humanidade para todas e todos." Sueli Carneiro (Fundadora do Geledés, Instituto da Mulher Negra de SP e Doutora em Filosofia da educação pela USP.).

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Edição lida:
RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? Belo Horizonte. Letramento: Justificando, 2017.111 páginas (Versão de bolso).

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Sobre a autora:
Djamila Ribeiro, Mestre em Filosofia Política pela Universidade Federal de São Paulo. Foi Secretária Adjunta de Direitos Humanos de São Paulo, em 2016. Ativista, vem fazendo o debate público sobre feminismo negro com forte atuação nas redes sociais. Em maio e setembro de 2016 palestrou na sede da ONU, em Nova York, e em abril e maio de 2017, em conferências em Harvard e Oxford. Colunista de revista e site da Carta Capital. Foi apresentadora da temporada 2017 sobre Direitos Humanos do programa Entrevista, no Canal Futura.

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Recomendações extras:
- O que é lugar de fala? Djamila Ribeiro (https://www.youtube.com/watch?v=IcyFgc_DmxY).
- Lázaro Ramos, Djamila Ribeiro e Tatiana Nascimento l Espelho (https://www.youtube.com/watch?v=xuaA2SlcNis).

site: www.letrasecafe.com.br
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