Gramatura Alta 12/02/2018
A Segunda Guerra Mundial foi uma das maiores atrocidades já cometidas pela raça humana. E se eu te perguntasse quem é o culpado, provavelmente você diria Hitler, não é? Tal resposta não estaria incorreta, estaria apenas incompleta. Várias outras pessoas foram fundamentais no andamento da guerra, outras até mais demoníacas. O desfecho disso, você conhece, a guerra acabou, a Alemanha perdeu e foi trucidada e os culpados ou foram mortos ou presos. Mas esses culpados tinham famílias? O que aconteceu com elas? Neste livro, nós vamos analisar os descendentes de homens extremamente cruéis e sádicos, com a esperança de que esses filhos não sejam espelhos dos pais.
Esses homens entraram para a história da pior forma possível, mas é fato que, pelo menos aqui no Brasil, não é todo mundo que os reconhece pelo nome. FILHOS DE NAZISTAS traz oito relatos dos filhos desses chefes do alto comando da SS e seus destinos no pós-guerra. A Segunda Guerra percorreu a década de 1940 e muitos desses descendentes eram crianças e não entendiam o que estava acontecendo. Muitas dessas crianças sequer viram os horrores dessa época, ficando refugiadas em mansões de luxo, isoladas. É importante frisar que muitos descendentes só descobriram os crimes dos pais anos depois, e muitos sequer acreditaram, pois só conheceram a face paterna do homem que as colocou neste mundo. O livro não é apelativo ao ponto de odiarmos alguns descendentes e gostarmos de outros. O texto é rico o suficiente para mostrar os dois lados da história e apresentar uma justificativa para o sentimento que permaneceu nas crianças. E você? Como agiria se descobrisse, anos depois, que seu pai foi um dos responsáveis pelo Holocausto, o genocídio judeu?
Dentre os descendentes temos os filhos do homem que foi o chefe de Auschwitz, o maior campo de extermínio da guerra. Também temos o filho do homem que foi o secretário particular de Hitler, responsável por fazer as vontades do líder nazista em realidade. E também os filhos do homem que foi o responsável pela “Solução Final”, o plano para o início do holocausto, e o filho do “Anjo da Morte”, o médico que atuou em Auschwitz e que ficou conhecido por fazer experiências macabras com seres humanos e que, por incrível que pareça, conseguiu fugir da perseguição no pós-guerra e veio se esconder aqui, na América Latina, incluindo o Brasil.
Quase todos os filhos retratados no livro eram crianças durante a guerra e, sendo filhos de poderosos nazistas, tiveram tudo do bom e do melhor. Tiveram carinho e até um amor especial vindo do pai, então é compreensível entender que nem todos aceitaram bem as verdades sobre o passado deles. Dois sobreviventes em específico jamais aceitaram acreditar que seus pais foram esses monstros que a história afirmou. Passaram a vida tentando livrar o pai de tais “calúnias”, acreditando que tudo não passou de difamações dos inimigos, uns até chegam ao ponto de negar que o holocausto aconteceu. Para o leitor só fica o sentimento de pena, é triste ver como um pai, não apenas destruiu sua própria vida, destruiu seus filhos involuntariamente. Esses descendentes se tornaram amargos, sem desejo de ter uma vida produtiva e feliz, e a leitura realça que essa herança negra, felizmente, pode ser rompida quando o assunto é os filhos dos filhos desses criminosos nazistas. Uma ou até duas gerações depois conseguiram seguir em frente, a compreensão finalmente chegou para eles. De forma breve, o livro nos conta sobre os netos e bisnetos dessas pessoas e como eles vivem com esse passado negro. Aceitam que, neste caso, não é questão de opinião, e sim de fatos.
Alguns odeiam seus pais e cultivam um rancor tão forte que prejudica suas vidas, não sendo diferente daqueles que não acreditam no passado dos pais. Outros sentem vergonha de terem alguma ligação com assassinos, e outros preferem ignorar e reprimir todo esse passado, que não cansa de segui-los. São oito rápidos relatos cheio de detalhes sobre os descendentes e o passado de seus pais, então não é necessário ter um profundo conhecimento prévio da guerra, o livro pega na sua mão e te guia da melhor forma possível. A escrita só se perde quando tenta novelizar demais os relatos. No começo de cada capítulo, a autora tenta criar uma pequena história em forma de aventura, algo que destoa completamente da leitura e que, felizmente, dura apenas poucas páginas, não interferindo no saldo final do livro.
Uma das crianças era filha de um homem que era chefe de um campo de concentração, sendo assim morava perto da instalação. A criança sentia um cheiro horrível de queimado e via fumaças negras de longe. A criança era de uma família rica e poderosa, sendo assim tinha muitos criados em casa. Essas pessoas faziam de tudo, desde limpeza, até jardinagem. Usavam macacões listrados numerados. A criança achava essa roupa incrível e pediu para a sua mãe lhe comprar uma igual. Quando seu pai ouviu isso, não demorou em dar uma surra na criança, ordenando que ela nunca mais falasse aquilo. A criança só foi entender o motivo da surra anos depois e nunca mais viu seu pai como via antigamente.
Quando se tem um filho, quando se cria um ser humano, você passa um pouco da sua alma para ele, seja ela boa ou ruim. Seja qual for a pessoa que faça algo horrível e desumano, anos atrás ou hoje mesmo, essa pessoa não está apenas destruindo sua vida. As marcas dos seus atos permanecerão nos que a rodeiam e é triste notar que não pensamos muito nesse fato. O livro conta sobre os horrores da guerra, mas o tema é tão atual, quanto qualquer outro, o que eu quero passar para meus descendentes? Como eu quero moldar o caráter do meu filho?
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