spoiler visualizarMaria22510 11/06/2024
Tenho uma sentimentos de amor e ódio (provavelmente mais ódio do que amor) com a Colleen Hoover e esse livro é um combustível pra esses sentimentos.
Quando eu comecei a ler É assim que acaba eu já sabia que se tratava de um relacionamento abusivo e talvez por isso, pela resistência que eu criei, eu não me permiti simpatizar pelo Ryle em momento nenhum, mas de verdade? Eu até preferia que eu tivesse me apaixonada por ele junto com a Lily, porque talvez assim eu conseguisse engolir esse final.
A construção do relacionamento deles foi absolutamente agoniante pra mim porque eu ficava esperando o momento onde as coisas iriam começar a desmoronar e mesmo que eu estivesse com essas expectativas erguidas ainda foi surpreendente como esse cara conseguia ser um completo idiota. Partiu meu coração em um milhão de pedaços ter que viver os pensamentos da Lily, ponderando o tempo todo se ela talvez não fosse culpado, se ele tinha motivos pra fazer aquilo, se ela era fraca com a mãe dela e se talvez ela não merecesse, principalmente porque eu não conseguia de jeito nenhum me colocar no lugar dela de pessoa apaixonada e só queria que ela desse um fim a tudo aquilo. Mas não é tão simples assim, não é?Por isso eu acho esse livro muito perigoso; você pode se apaixonar por ele e terminar o odiando, você pode achar ele um bosta desde o início como eu achei e você pode se apaixonar e então odiar ele e depois perdoá-lo, exatamente como a Lily fez e pra mim esse é o maior problema desse plot.
De fato, ninguém é 100% ruim ou 100% bom, a gente tem feridas e traumas que com certeza refletem em como a gente vê o mundo e trata outras pessoas, mas isso não abre qualquer brecha pra você despejar seus sentimentos ruins sobre outra pessoa, principalmente sobre uma pessoa que você diz amar. Eu acho de uma extrema falta de bom senso insinuar que um divórcio é punição suficiente pra um cara que empurrou, bateu e tentou abusar de uma mulher. No final o que o Ryle perdeu? Quais foram as consequências reais das atitudes dele? Eu digo que não tiveram nenhuma; ele tem uma família perfeita, a carreira profissional continua impecável e ele com certeza vai repetir as coisas que ele fez, só não vai mais ser com a Lily. O ciclo não acabou com eles porque o Ryle não foi um abusador e agressor por um curto momento, ele É e sempre VAI SER um agressor e um abusador.
Inclusive, toda mundo a volta dele sabe que ele é um doente porque provavelmente já fez o mesmo com outras mulheres, até a pessoa que a Lily considerava amiga, família, e não teve coragem de abrir os olhos dela pra situação de merda que ela tava se submetendo. Se a Alyssa fosse um ser humano com mínima decência ela jamais teria deixado chegar naquele ponto, por isso quando ela faz a separação de irmã/amiga e cogita defender ele por um laço de sangue eu perco toda a pouca admiração que sentia por ela, exatamente porque eu sei que se não fosse a amiga dela ali, talvez ela tivesse dito pra Lily deixar pra lá, esquecer, até porque o Ryle é só um pobre menino traumatizado que não sabe controlar a sua raiva. Isso faz algum sentido?
Faz algum sentido os pais dele, que sabiam que ele tinha um problema de descontrole que foi causado por negligência deles, deixarem ele crescer sem buscar ajuda?
Por tudo isso esse final me machuca; não é um divórcio que vai fazer ele mudar, não é uma filha mulher que vai fazer ele mudar, não é assim que o mundo funciona. Essa coisa de "perder o amor da vida dói mais que qualquer coisa" não existe e chega até a ser contraditorio insinuar isso quando ele está o tempo todo matando a Lily um pouco.
Eu até me forcei a pensar que o livro acabava assim porque na vida real e assim mesmo; não existem consequências para abusadores, mas não é isso, esse livro acaba assim porque a Colleen Hoover realmente acredita que perder a Lily foi a pior coisa que poderia ter acontecido ao Ryle e isso e muito triste. Imagine ser uma vítima, uma sobrevivente e se deparar com uma ladainha dessas, onde, no final, o agressor ganha uma chance de repetir tudo com outra pessoa e uma homenagem no nome da filha, para que isso ajude ele no seu "processo de cura". E o processo de cura da mulher que ele empurrou por vários degraus e bateu a cabeça até ela ficar desacordada?
Por isso acho que esse título e bastante apropriado, porque a todo momento eu me perguntei, realmente, é assim que acaba?
Apesar de tudo isso o livro não é ruim, na verdade é muito bom, o processo é todo bem construído e pra mim o pior está no final e principalmente na autora. Também acho que o final do Atlas com a Lily foi bastante corrido e até meio jogado, principalmente quando ele diz pra ela continuar a nadar, sendo que, apesar de ter tirado ela da casa, ele não fez muito por ela no processo dela de transição e superação de tudo que aconteceu, deixando a mulher que ele alegou ser o amor da vida dele, grávida e ferida, sozinha pra enfrentar os demônios dela. Espero que minha visão sobre isso mude depois de É assim que começa.