Órfãos do Eldorado

Órfãos do Eldorado Milton Hatoum




Resenhas - Órfãos do Eldorado


33 encontrados | exibindo 31 a 33
1 | 2 | 3


Carlozandre 21/01/2010

O Eldorado de Hatoum
Muito antes do cinema, a literatura já se construía com cenas, e a primeira delas na novela Órfãos do Eldorado, de Milton Hatoum é arrebatadora: uma índia pára na frente do rio, arenga lamentações em língua indígena, falando que se apaixonou por um belo homem que mora no fundo das águas e pretende se juntar a ele. Como hipnotizados, os que a observam só se dão conta do que se passa após a índia haver nadado um bom pedaço de rio, longe demais para ser salva.

Essa é a cena chave de Órfãos do Eldorado, já que seu protagonista, Arminto, herdeiro de uma empresa de navegação vivendo às vésperas da I Guerra Mundial em Manaus, vai repetir ao longo da narrativa, e em vários níveis, o gesto da índia, uma entrega cega e apaixonada a algo que poderia representar encantamento se não fosse ruína. O livro é parte de uma coleção na qual escritores de diferentes nacionalidades relêem em narrativas modernas mitos clássicos da literatura: a canadense Margaret Atwood reescreveu a Odisséia pelo ponto de vista de Penélope, David Grosman deu sua visão para a história bíblica de Sansão, por exemplo. Ah, sim, e o escritor russo Victor Pelevin releu o mito de Teseu, o labirinto e o Minotauro em um romance que já comentamos aqui.

Hatoum usa o “Eldorado” do título para fazer referência ao mito amazônico da Cidade Encantada, um lugar utópico no fundo do rio para onde determinadas pessoas tentam ir, encantadas pela força mágica das águas. No livro, essa cidade é representada pela jovem órfã Dinaura, que magnetiza as atenções de Arminto com olhos oblíquos. A mulher e o rio são signos equivalentes em Órfãos de Eldorado, e não é à toa que Arminto, fascinado pela primeira, descuide do segundo, representado pelo negócio que herdou do pai.

Após a primeira cena, o livro desacelera um pouco ao abordar a relação de Arminto com seu pai ainda vivo. O mal-estar instalado entre eles, embora bem conduzido, remete a situações semelhantes do anterior Cinzas do Norte. Algo que, entretanto, não dura muito. A novela é curta, concisa, e logo Dinaura aparece na trama (simbolicamente no velório do pai do protagonista, morto sem que ambos tivessem oportunidade de se reconciliar) para encantar o leitor como encantou o personagem.
comentários(0)comente



Ladyce 03/01/2010

Perseguindo o sonho
Órfãos do Eldorado, uma novela de 100 páginas pode quase ser chamada de um discurso sobre a decadência. Decadência dos sonhos, das fortunas, da economia. A decadência como objeto de observação e fascinação dos turistas, a decadência da política local, das mores sociais. Até mesmo a decadência do sonho, da esperança, que não encontram um eco na realidade amazônica retratada aqui.

Não que Milton Hatoum tenha deixado de lado a ficção. Não é esta a minha observação. Mas sua ficção está ainda mais fluida neste livro do que em anteriores. Esta é uma ficção, tecida através de memórias anteriores às do personagem principal, e fatos históricos mencionados que cobrem mais de um século. A fluidez da narrativa dá um leve toque de sonho, de irrealidade porque vamos e voltamos a um passado sem forma, a uma passado interpretado pela criança que foi Arminto Cordovil: a visão que ele tem de seu pai e de sua infância e adolescência.

Esta maneira amorfa e característica da fluidez de pensamentos — que já encontrei anteriormente neste autor nos dois outros livros que li: Dois Irmãos e Cinzas do Norte –, deixa a narrativa aberta. Ela se rebela às datas históricas, às informações precisas.
Não que Milton Hatoum trabalhe com o realismo mágico. Mas as idas e vindas de seus personagens com lembranças e projeções no futuro mantêm uma nebulosidade proposital mostrando traços familiares com fantasias noturnas e sonhos reveladores.

A história pode ser descrita em poucas palavras: Arminto se apaixona por Dinaura uma moça local, que não fala, evasiva, com quem ele tem uma noite de amor inesquecível, e a quem ele jamais volta a ver. Recebi este livro, emprestado por uma amiga, excelente leitora, com a observação de que esta era uma bela história de amor.

Mas discordo redondamente. A história da perseguição de Arminto por Dinaura, sua obsessão do início ao fim da novela, para mim, é a personificação da constante procura pelo Eldorado, que ilude a todos que se estabeleceram e que se estabelecem, ainda hoje, na Amazônia. A procura de Dinaura é a grande aventura, repleta de elementos fantásticos, do mundo, do amor, de tudo que jamais será tal como a terra prometida. Ela, assim como o Brasil, como a Amazônia, é uma moça local, e é natural então que se encontre rodeada pelos caminhos encontrados na ilha encantada das histórias das cunhatãs.

Este é um discurso alegórico sobre a esperança cega de algo melhor, e a decadência que se estabelece quando se procura obsessivamente uma realidade, um sonho, inexistente.

04/08/2008
comentários(0)comente



Claudia Sanzone 11/06/2009

Resumo da obra (os quatro primeiros livros) do escritor está em:
http://clausanzoner.blogspot.com/2009/05/milton-hatoum-em-desordem-cronologica.html
comentários(0)comente



33 encontrados | exibindo 31 a 33
1 | 2 | 3