Branca Bela

Branca Bela Geraldo França de Lima




Resenhas - Branca Bela


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Ladyce 18/11/2020

Raramente releio livros que marcaram minha juventude. Medo de ser desapontada, talvez. Já não sou a garota de dezesseis anos que se identificou com um personagem. A pessoa em formação tornou-se adulta e continuou lendo com a mesma intensidade da adolescência. Hoje, sou mais exigente.

Nesta pandemia dei uma grande limpeza nas minhas estantes. Temos livros demais. Somos dois leitores aqui em casa. Dois professores, nas humanidades. Pessoas que leem promiscuamente da história à filosofia, da literatura aos ensaios científicos. Livros são nosso instrumento de trabalho, hoje, em parte, substituídos por textos eletrônicos, mesmo assim, ainda mantemos muito papel nas nossas paredes. Nessa reorganização voltei a ver um livro que me marcou na adolescência, que um dia, num passado recente, encontrei numa banca de livros novos e usados do Largo da Carioca no Rio de Janeiro. Comprei-o imediatamente, trouxe para casa e esqueci que ele existia. Eu precisava, parece, ter de volta um pedaço da minha adolescência, um troféu do passado. Surpreendi-me ao ver, que o livro ainda apresentava páginas sem corte. Era um usado, que nunca foi lido, para perda de quem dele se desfez. Reli-o há sete anos, e agora, precisava decidir se o mandava embora ou o mantinha em casa. Ficará comigo por mais um tempo.

Branca Bela me foi apresentado por uma amiga. Como eu, ela adorava ler. Como eu, ela também vinha de uma família de professores e vivia numa casa rodeada por livros. Tínhamos muito em comum, mas nem sempre gostávamos dos mesmos livros. Lucia era mais atirada, mais curiosa sobre amores e sexo, enquanto eu preferia a escrita mais distante das emoções, autores mais filosóficos, talvez. Lembro-me do dia em que ela trouxe o exemplar. Levara para a escola e, no ônibus de volta para casa, me entregou o empréstimo. Saltava uns dois quilômetros antes de mim. Sentada à janela, abri o livro de Geraldo França de Lima e mergulhei nele de imediato, quase perdendo o caminho de casa. Anos mais tarde ainda me lembrava de algumas cenas do livro, de alguns personagens como Padre Saulo e de uma coruja que piava e era ouvida por Branca Bela.

Reli em partes primeiro, depois o texto completo, e voltei a me encantar, me enamorar. É o romance de uma paixão duplamente impossível, que se desenrola no interior, certamente numa cidade mineira, como era o autor. Simples e fino. Retrata o amor entre uma jovem que, portadora de uma doença incurável, espera pacientemente pela resolução final, e de um padre. Não sou uma pessoa religiosa. Essa não era a pegada em minha família. Mas a delicadeza dos sentimentos retratados, fez com que o esparso discurso religioso, tivesse a dose perfeita para o esclarecimento das motivações dos personagens presos nesse amor impossível. Este Romeu e Julieta brasileiro é essencialmente poíesis. Não é à toa que Geraldo França de Lima foi membro da Academia Brasileira de Letras. É um grande mestre da arte literária. Seus livros que precedem Branca Bela foram Serras Azuis e Brejo Alegre. É claro, que os li, assim como outras de suas obras, posteriores. Essa geração de autores que publicados nas décadas de meados do século passado, dos anos 40 aos 60 inclusive precisa ser revisitada. Fica aqui o meu convite para que façamos isso juntos, de vez em quando.
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