spoiler visualizarFabi_Colaco 11/01/2022
CANUDOS: FANATISMO OU A LUTA PELA TERRA?
A guerra de Canudos, foi um conflito no sertão baiano ocorrido em 1896 e 1897, naquele momento o Brasil, estava passado por profundas transformações, acabara de haver a abolição da escravidão, em 1888, e a proclamação da República, em 1889.
O arraial de Canudos era formado por moradores pretos, ex escravos que fugiam da extrema miséria em que viviam no sertão nordestino.Em pouco tempo, o lugar se tornou a segunda localidade mais populosa da Bahia, perdendo apenas para Salvador. Eles chegaram a reunir 25.000 pessoas constituindo, segundo os latifundiários, era um foco de monarquistas que desejavam derrubar a recém-instaurada república. No entanto, os sertanejos apenas se dirigiam ao local em busca de melhores condições de vida. Vale lembrar que a mudança de regime político não trouxe grandes mudanças na economia do País e na vida da população. A estrutura econômica do Brasil funcionava com base no latifúndio, onde predominava a monocultura e a exploração da mão de obra que vivia na miséria econômica, social e cultural.
Nesse contexto, Antônio Vieira Mendes Maciel ganhou o apelido de Conselheiro devido a seu hábito de tentar guiar, aconselhar e apontar respostas para os problemas dos sertanejos humildes. No Brasil, onde historicamente é nítida a afeição das pessoas a líderes carismáticos, não é de se espantar a dimensão que ganharam os atos de Antônio Conselheiro. Hábil orador e profundo conhecedor da realidade social do sertão, Conselheiro torna-se um risco à autoridade dos coronéis, do Estado e até da própria Igreja.
O exército organizou 4 expedições com o intuito de destruir Canudos, a primeira delas com 3 oficiais e 140 soldados, foi um desastre para o exército. Na preparação para um segundo confronte, surge a figura de Pajeú, um ex soldado, inteligente, ótimo estrategista e grande capacidade de liderança, com o tempo a importância de Pajeú se igualou a do Conselheiro, tornando-se o líder militar e Conselheiro o líder espiritual de Canudos. A segunda expedição foi formada por 600 soldados, 2 canhões e 2 metralhadoras. O exército estava confiante na derrota de Canudos, mas os sertanejos de Pajeú conheciam muito melhor o terreno acidentado, e os soldados com uniformes vermelho e azul, tornaram-se presas fáceis e foram novamente massacrados. Essa derrota do exército repercutiu muito mal, tanto para o governo da Bahia, e também para o Governo Federal que vinha sofrendo fortes ataques da oposição. Todo esse cenário de instabilidade política e descredito do exército, levou a terceira expedição agora com 1.500 soldados e muitíssima munição e mais uma vez esse ataque foi um desastre para o exército que continuava sem entender as táticas de Pajeú.
Essa derrota deixou os líderes do governo atordoados, A situação ficou tão feia que até Rui Barbosa quase foi morto pois em suas aulas, ele defendia Canudos. A quarta expedição foi organizada com 4,000 soldados e mesmo assim, eles quase tiveram o mesmo fim que as expedições anteriores, mas dessa vez só puderam vencer os sertanejos pois quando estavam quase perdendo o combate, solicitaram reforço e esse pedido foi rapidamente atendido.
Todos as pessoas em Canudos foram mortas, crianças, mulheres, idosos, tudo que restou foi queimado, foi um verdadeiro massacre, uma ?charqueda? como descreveu Euclides da Cunha em os Sertões. Houveram protestos em universidades, Rui Barbosa demonstrou sua indignação, mas mesmo assim os militares foram recebidos no Rio de Janeiro pelo presidente Prudente de Morais como heróis.
Segundo o autor do livro, ?O sonho de Canudos, um grito de rebeldia do explorado contra o explorador, repercute até hoje. Essa luta, afinal, só acabará quando houver justiça social?, e segundo minha percepção, não sei se essa luta vai acabar, mas ela pode ser vivida com mais dignidade, quando a Constituição for respeitada, e assim cada pessoa ser tratada como cidadão e ter acesso a seus direitos e a garantia de que esses direitos serão respeitados independente de sua classe social.