Dalila.Realino 28/01/2012
A nua história de muitos brasileiros
O Mulo, assim apelidado pelo "seu povo", faz de seus escritos ao padre no que supõe serem os seus últimos dias de vida, mais que uma confissão, um desabafo de um homem que teme e sente morrer sozinho.
Toda a angústia de sua solidão, embora o personagem teime em admitir que sente por isso, precisa de uma vazão. E ele o faz escrevendo a um padre que não conhece, ainda não escolhido.
Em sua sala vazia de gente, mas cheia de recordações, o Mulo conta sua história desde menino órfão. Uma verdadeira saga do menino vindo do nada e sem ninguém até o fazendeiro dono de seus homens e de sua gigantesca propriedade.
Em sua vida, o Mulo nunca teve ninguém por si o que justifica a ele a sua solidão. "Eu me basto."
Nesse enredo o autor Darcy Ribeiro, feliz Antropólogo e educador, faz uso das lutas e andanças de seu personagem à fim de dizer o que viu no povo humilde desse Brasil. Seus sofrimentos e dores que de tão costumeiras já não incomodam. Denuncia o comodismo e a aceitação dos sofrimentos do povo pelos dizeres e histórias do Mulo.
Com a história de luta, força e melhora de vida de seu personagem, ele toma o posicionamento seguro para discorrer sobre os outros que não almejam, não sonham e nem ambicionam. Por outro lado, nos diz que o sucesso nos empreendimentos não são garantias para uma vida feliz.
Darcy Ribeiro também faz uso, como não poderia deixar de ser, de sua formação em Antropologia na trama. Através dos olhos e atitudes de seus personagens ele aponta características humanas universais. Mostra, também, pelas sucessivas perguntas do Mulo, as dúvidas mais recorrentes nos seres humanos.
Em suma, a nua história de muitos brasileiros.