Ana 31/08/2018
Comecei a ler Um Amor Perdido achando que encontraria apenas uma história de um jovem casal que foi separado pelos horrores da Segunda Guerra Mundial. Em partes, é disso que o livro fala, realmente, mas é muito mais um relato da vida e das tragédias no Gueto de Terezín — que eu nunca tinha ouvido falar até então —, um campo de concentração mostrado como um modelo de assentamento de judeus. Milhares de judeus da Tchecoslováquia foram levados para Terezín durante o Holocausto.
O enredo gira em torno de Lenka, uma judia que estuda artes plásticas em uma ótima faculdade de Praga. Quando está cursando o segundo ano, a personagem se apaixona por Josef, um estudante de medicina e irmão mais velho da sua melhor amiga. Com a Guerra chegando, Josef pede Lenka em casamento para conseguir levá-la em segurança para os Estados Unidos, onde conseguiriam ter uma vida tranquila e feliz. Porém, os planos dele são totalmente frustados quando Lenka se recusa a ir sem a sua família, convencendo-o a ir primeiro. Assim, Josef consegue fugir, enquanto Lenka permanece em Praga, onde acaba sofrendo as consequências da Guerra.
O livro é narrado sob dois pontos de vista, de uma forma diferente do que estamos acostumados. Enquanto Josef narra a sua vida no presente, contando detalhes a partir do momento que desembarcou nos Estados Unidos, conhecemos Lenka no passado, narrando os horrores que viveu no período anterior à Segunda Guerra e durante a mesma. Mesmo estando longes um do outro, é perceptível que nunca esqueceram o amor que viveram.
Mesmo tendo refeito sua vida nos Estados Unidos, Josef nunca se perdoou por ter deixado Lenka para trás. Ele se casa com outra mulher, tem dois filhos com ela e vive uma vida relativamente tranquila, mas é constantemente atormentado pela culpa, pelo fantasma da ex-mulher, seu verdadeiro amor. As partes narradas por Lenka, que geralmente eram os capítulos mais longos, ocupam cerca 70% da narrativa e é o verdadeiro cerne da história.
A escrita de Alyson Richman é extremamente detalhada. Tanto que, em certos momentos, senti como se a história não se desenvolvesse. Isso acontecia com frequência a partir do momento em que Lenka e sua família chegaram no gueto. Não sei se é por causa da monotonia e da rotina do lugar, mas a narrativa simplesmente não saía do lugar. É justamente por causa do ponto de vista de Lenka que não considero esse livro uma história de amor e sim uma história sobre a Guerra — e isso não é necessariamente uma coisa ruim.
Josef e Lenka passaram um tempo mínimo juntos e, apesar de manterem viva a chama do primeiro amor, eles passaram por muitas coisas depois foram separados. Enquanto Lenka lutava para sobreviver, Josef estava reconstruindo sua carreira como médico. Não deixavam de pensar um no outro, mas tinham muito mais com o que se preocupar. Gostei da forma como a autora reconduziu a vida de ambos a partir do ponto em que pararam de ter notícias um do outro.
O romance entre Lenka e Josef é apenas um pano de fundo para o que realmente Alyson Richman quis nos mostrar com Um Amor Perdido, além dos horrores da Guerra sob um ponto de vista que eu, particularmente, nunca tinha visto: é possível reconstruir a vida mesmo após grandes perdas. Apesar de tudo, é possível superar a dor e encontrar um final feliz.
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