Helder 12/04/2020Escolha seu lado, se possível!Pequenos Incêndios por Toda a Parte é um bom livro, mas que demora a engrenar, o que acredito, acabe infelizmente espantando muitos leitores.
Mas acreditem em mim: Vale a pena investir nesta história.
Até quase a metade do livro a autora vai nos mostrando os dois núcleos de personagens e o cidade americana onde a história se passa.
A cidade chama-se Shaker Heights, no estado de Ohio nos Estados Unidos.
Esta cidade foi construída por um grupo religioso há mais de 200 anos de uma maneira completamente planejada, desde o formato das ruas, até a pintura das casas, e muitas famílias vivem lá desde as primeiras gerações.
Este é o caso da Família Richardson.
Elena Richardson faz parte da terceira geração desta família a morar ali e sempre prezou a vida controlada.
Ela saiu da cidade para fazer faculdade, onde conheceu o seu marido e o convenceu que o melhor lugar para ter uma família era em Shaker Heights. Eles voltaram para a cidade e ali fizeram suas vidas. Ele como advogado, ela como jornalista do periódico da cidade, onde escrevia noticias locais, que lhe permitiam ter um emprego, mas ainda assim cuidar dos 4 filhos: Lexie, a patricinha, Tryp, o atleta, Moody , o bom garoto e Izzy, a caçula revoltada.
Além de sua bela casa, Elena possui uma pequena casa num subúrbio próximo que aluga para Mia Warren, uma mulher com uma vida completamente diferente da sua.
Mia é mãe solteira.
Sem emprego fixo, é uma artista especializada em fotografias.
Ela chega a Shaker Heights com Pearl, sua filha de 16 anos e uma promessa: Ali elas fixarão residência, algo que nunca aconteceu na vida de Pearl, que sempre soube que logo sua mãe de cansaria daquele lugar e seguiriam para um próximo, carregando somente aquilo que coubesse no carro.
Elena é a regra. Mia é o improviso.
Ambas vivem bem em seus mundos, até que eles se chocam.
E ai o livro começa.
Moody, um dos filhos de Elena se apaixona por Pearl e a menina simplória passa a frequentar a casa milionária dos Richardsons. Já Izzy a filha mais nova de Elena encontra um novo horizonte desconhecido na maneira quase hippie de Mia viver.
Tudo poderia seguir no prumo, se a autora não tirasse da manga um dilema moral e colocasse no meio da sala, obrigando o leitor a tomar partido de um dos lados.
E ai a leitura passa a ficar interessante, porque os dois lados tem razões que combinam com o leitor.
Mas quem está mais certo?
Neste momento, Mia toma uma atitude que evidencia seu ponto de vista, e ali Elena percebe que nem sempre é possível conviver com as diferenças.
Mas quem é Mia? O que esta vida aparentemente libertária esconde?
Ao buscar coisas do passado, Elena vai acabar encontrando coisas escondidas em seu próprio armário, lhe mostrando que não existe planejamento que segure o destino e o livre arbítrio.
A segunda metade do livro tem um clima de que algo vai dar errado, e percebemos que muitas pessoas vão se machucar, e assim ficamos presos à leitura querendo devorar o livro e saber como tudo aquilo irá acabar e quem sairá mais queimado.
O livro discute muitos temas pertinentes, como racismo velado, diferenças sociais e principalmente a maternidade, de muitas maneiras que fazem o leitor pensar como agiria nas situações aqui colocadas.
O livro nos mostra que o mundo seria muito melhor se realmente cada um aceitasse seu vizinho sem questionamentos.
O que seria do amarelo se todos gostassem do vermelho.
Pequenos incêndios por toda Parte é um livro necessário e doloroso, escrito por uma autora realmente muito talentosa que nos mostra que o mundo não é dividido entre vilões em mocinhos, mas sim entre humanos e humanos, cada um com seus erros e acertos.
Leiam!