cami 19/05/2024Inferno, inferno??Como podiam os homens guardar tantas palavras? Era impossível, ninguém conservaria tão grande soma de conhecimentos.?
A conversa hoje é sobre um dos maiores clássicos nacionais!
Em ?Vidas Secas?, Graciliano Ramos retrata a vida de forma dolorosa, real e humana, e transforma a complexidade em poesia.
O autor traz uma escrita única e uma forma de ver o mundo muito clara, abordando sobre abuso de poder, desigualdade social, relações humanas de forma mais primitiva, e sobretudo a esperança em sua forma mais singela.
Durante a leitura é possível sentir a seca, o sol ardendo, a necessidade de água, a impossibilidade de vislumbrar um futuro diferente mas a vontade de viver, o desespero, as descobertas e a injustiça.
A aproximação mais íntima com os pensamentos confusos dos personagens traz a sensação de desordem e isso foi simplesmente genial, já que eles sentem dificuldade até mesmo de pensar de forma lógica e acaba fazendo total sentido com a proposta do livro.
O fato de seus familiares não terem direito nem de um nome é outro ponto importante e retrata de forma crua a desumanização da sociedade em relação à realidade presente na história.
Em específico o capítulo sobre a cachorrinha Baleia foi o que mais me emocionou e gerou identificação, ela é afeto, companheirismo, vigia, fome e dor, e lidar com isso foi triste, principalmente por ela ser um dos pontos altos da narrativa.
?Vidas Secas?, nesta edição da Principis, traz uma diagramação impecável e uma ilustração de capa lindíssima, com certeza uma das minhas favoritas!
Não deixe que o receio da escrita regionalista te impeça de ler essa arte, se deixe levar pelas reflexões propostas pelo autor e se permita voltar para 1938, para perceber que algumas dessas coisas (infelizmente) nos pertence até hoje.
4,5 ??