Junior.Silva 22/06/2018Resenha postada no site Leitor CompulsivoEm 2017, pouco antes da Bienal do Livro no Rio, às vésperas da visita da autora Abbi Glines ao Brasil, decidi me aventurar pelas páginas da série Rosemary Beach, e o resultado foi incrível. A autora é mundialmente famosa pelos seus romances com uma pitada deliciosa de cenas bem quentes entre seus casais protagonistas. Se antes havia certo receio em ler algo erótico, após o primeiro livro esse receio simplesmente acabou. Vocês devem estar se perguntando: “Tá, mas o que isso tem a ver com esse livro?“. Certo, desde então procurei, mas não encontrei, algo que trouxesse o universo gay para essa mesma temática, trazendo a intimidade do casal, mas valorizando sua história de amor ao invés de simplesmente descrever o sexo entre ambos.
Para minha grande surpresa, há algumas semanas, a Editora Paralela anunciou seu primeiro romance gay erótico, “Ele. Quando Ryan Conheceu James“, das autoras Sarina Bowen e Elle Kennedy. Nos últimos dias mergulhei nas páginas do livro que conta a história de Ryan e James, dois amigos que se conheceram em um acampamento de verão e depois de alguns anos se afastaram completamente, quando Ryan simplesmente sumiu da vida de James, sem qualquer explicação. Quatro anos mais tarde, James ainda não entende nada do que houve com o amigo, mas o destino se encarrega de juntá-los novamente durante uma partida de hóquei onde ambos se enfrentarão pelos seus times da universidade.
Geralmente sou bastante exigente com histórias que envolvem essa temática, justamente por ser muito tênue a linha que separa o caricato do que realmente é belo no amor entre duas pessoas do mesmo sexo, mas esse livro consegue traduzir de forma incrivelmente real uma relação pautada no amor e na cumplicidade, independente dos gêneros que se envolvem.
Apesar de ter pouco mais de 250 páginas, esse é um daqueles livros para ler sem respirar, pois num estalar de dedos você já se encaminha para o final sentindo saudade dos personagens que foram perfeitamente construídos. A tabelinha das autoras, onde, a cada capítulo, vemos a história pela perspectiva de um dos dois protagonistas é perfeita para instigar o leitor a gritar com eles e explicar tudo o que está acontecendo. A história tem uma carga emocional fortíssima, tratando suavemente temas como primeiro amor, descobertas, cumplicidade, medo, preconceito e tolerância.
O livro tem uma pegada erótica que deixa qualquer pessoa de queixo caído tamanha a intensidade da relação e da forma como as cenas são descritas pelas autoras, mas nada nessa história é gratuito e esse foi o maior golaço de Sarina e Elle. Durante cada cena, sejam nas lembranças dos acontecimentos de quatro anos antes ou nos dias atuais, tudo que é acontece segue uma orquestrada sinfonia do amor que vai nascendo e enfrentando as dificuldades e os medos daquilo que é novo para ambos, apesar de Ryan ser um gay assumido. O sexo faz parte de qualquer relação e aqui não é diferente e acaba se tornando extremamente necessário e positivo para imprimir toda a intensidade que transpira por cada página, se tornado um mero, mas delicioso, pano de fundo para a história de amor que é apresentada.
“Ele” é uma história bem simples, mas cheia de significados para quem já se apaixonou pelo diferente (aos olhos dos outros) e tem que enfrentar todos os dias os olhares daqueles que não conseguem enxergar que o amor quando verdadeiro não importa o gênero ou qualquer outra coisa. Para quem também se apaixonar pela história, o livro tem uma continuação publicada nos Estados Unidos em 2017 com o título “Us”, por enquanto sem previsão de lançamento no Brasil. Mas já estamos na torcida para a Editora Paralela nos presentear com essa continuação em breve.
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