Carla Dias 18/02/2010
Belezas e mazelas
A prosa de Whisner Fraga me prende pelo ritmo a ela inserido e pela capacidade do escritor de dizer a realidade crua, e muitas vezes dolente, sem comprometer a vontade do leitor em continuar a jornada que está sendo contada. A destreza com que ele aborda a realidade com metáforas ora cândidas e ora pungentes, é o que o torna um contador de histórias que não teme o desconhecido, nem da trama, tampouco da linguagem que lhe serve de ferramenta.
Abismo Poente é um livro de belezas intrínsecas, pois é preciso se permitir embrenhar pela poesia constante nessa prosa que tem como cenário a imigração libanesa a uma cidade do interior mineiro, e um apanhado de preconceitos, de desejos, de faltas e de solidão. Dizer a realidade não é algo fácil de ser feito. E ao artista foi concedido o amparo da imaginação para fazê-lo sem se render aos infortúnios ou se encantar falsamente pelos deslumbres. Viajar pela realidade na prosa com tanta profundidade requer um quê de poesia que Whisner Fraga cultiva a cada página dessa obra, colocando em palavras do desespero ao esvaziamento, sem esmaecer o texto.
Abismo Poente, da forma como chegou a mim, durante a leitura, retrata a miséria mais difícil de ser contornada: a que aflige a alma. A impressão que tive é que poderia colocar os personagens em uma mesma sala e, ainda assim, eles não alcançariam um ao outro, não perceberiam outra presença que não a de suas auguras. Se há um autor capaz de falar sobre essa miséria de forma tão clara e bela, é Whisner Fraga.