spoiler visualizarAlecio Miari 18/09/2023
Muito frustrante
Depois da primeira parte (livro anterior) que já joga a gente pra baixo, incluindo as crianças super poderosas, as expectativas baixam absurdamente e aí a leitura aqui flui um pouco melhor. Quando começam a vir cenas interessantes e soluções lógicas de problemas, as coisas parecem engrenar. Entretanto temos vários elementos negativos que fazem realmente você se perguntar porque não parou de ler 2 livros atrás.
Desenvolvimento de Ivan e Estela: Depois de toda aquela pataquada das crianças serem mais fortes e melhores que adultos, você começa a apreciar mais o desenvolvimento deles, que aí sim possuem maior coerência na maneira como adquirem determinadas características ao longo da história. O grande ponto negativo aqui é Fernando usando o corpo de um zumbi como disfarce por 2 dias, sem tomar água e nem comer. Muito forçado!
Cópias de games e filmes: A descrição de Fernando na usina-prisão é muito “Um sonho de Liberdade”, incluindo os gays tentando pegar ele, a primeira conversa com outros detentos “Todo mundo é inocente aqui” e o carinha que arruma as coisas lá dentro. Fora isso, a matança toda da Sara em Ilhabela é igualzinho à uma missão de GTA V, onde ela vai indo em diversos pontos para assassinar alvos. Tem até um bloqueio do carro com um caminhão de lixo e C4s colados nos blindados que remetem muito à este game. Não é reclamação, as cenas foram bem trabalhadas e até são envolventes. Mas é uma ressalva para mim mesmo que me pareceu muito cópia.
Não se apegue à personagens: continua valendo a mesma regra do livro anterior. Personagens são dizimados às dezenas, mesmo que eles tenham sobrevivido 30 anos de provação. Aparece um cara foda, você o acompanha de perto por um tempo e aí ele deixa de existir. Ou então alguém é introduzido para explicar algum background e, depois de cumprida a função, é morto logo a seguir.
Nova classe de zumbis: Jezebel deixa um legado criando uma nova raça de zumbis mais fortes e pensantes que poderão ao longo dos anos se multiplicar e bater de frente com os seres humanos. Há um líder entre eles que os organiza e os faz marchar em direção à SP para dizimar toda a nossa raça. Mas da mesma maneira como os outros personagens, eles aparecem e somem do nada. Eu estava construindo na minha cabeça uma puta batalha final entre estes seres, Roberto e suas aberrações, as comunidades do Brasil e Ilhabela e ficava imaginando como seria a interação entre estes grupos. Infelizmente estes seres são extintos do mapa em uma única tacada.
Roberto: Este personagem tá pau a pau com as crianças super poderosas. Muito mal construído, simplesmente vomitado na história tentando imitar Jezebel e sua participação é quase zero. Foi tanto estardalhaço no livro anterior sobre Otávio ter encontrado este garoto que eu jurava que ele seria peça fundamental, mas no final é tipo os nerds do The Big Bang Theory descobrindo que se o Indiana Jones não existisse o final da história seria o mesmo. Aqui é igual. Tá, ele mata a Isabel, mas ela estava cercada com todo o seu povo preso. Poderiam muito bem tê-la matado sem ele. E o final dele soltando aquelas bombas malucas no meio de Ilhabela só para aniquilar Otávio, nada a ver. Pior ainda é o Fernando indo resgatar o pai no galpão no meio da cena toda.
Cenas finais aceleradas: A história vem em um ritmo bom e gostoso de acompanhar, mas aí parece que o livro foi ficando muito grosso e precisava acabar logo. Então meses da preparação de como atacar Ilhabela, recrutando as outras comunidades como aliadas e a própria operação em si passa num piscar de olhos. Fiquei muito frustrado querendo passar mais tempo vendo de perto tudo aquilo.
Epílogo: Não, pára! Não precisa haver continuação. Terminar com um papinho de que o planeta está voltando para passar perto da Terra novamente é o cúmulo de como afundar de vez tudo que veio sendo construído e destruído ao longo dos anos.
A série acaba sendo uma facada no meu coração indo do ceu ao inferno em 6 livros. Ela começa de maneira sensacional e muito envolvente abordando diversas situações sobre como sobreviver à um apocalipse zumbi e as dificuldades que podem vir a ser enfrentadas dentro das comunidades. O ponto alto é a ideia de se mudar para uma ilha colocando o oceano como a melhor barreira natural entre os seres humanos e os zumbis. Isabel e Jezebel foram personagens meio forçados, mas como tiveram construções bem feitas elas acabam fazendo sentido e se tornam outro ponto alto da série.
Mas depois dessa batalha final entre elas e as traições humanas na nova organização governamental é ladeira abaixo. Os avanços temporais são enormes, não dando tempo e espaço para trabalhar novos personagens e conflitos e a série parece se perder no objetivo do que quer transmitir. Defende a reencarnação de personagens para vingar suas mortes? Mas o ditador quem os matou já morreu (e viveu uma vida inteira boa no poder), então é para vingar a morte de seus entes queridos por causa de um segundo ditador? É para criar um futuro melhor para os brasileiros? Fica mais claro para mim que a série deveria ter fechado na Ilha dos Mortos. É uma pena.